Importante marcar alguns pontos de Berkeley, como o seu
empirismo idealista e o nominalismo[i]
Inatismo. Grosso modo, para o empirismo realista de
Locke, as ideias nos são causadas pelas coisas por meio das sensações. Locke
está nesse momento de florescimento das teorias do conhecimento (epistemologia)
que visam escapar das amarras do platonismo e aristotelismo que influenciavam a
filosofia desde sempre. Cabe lembrar que, conforme ressalta Lucas, ele não é
exatamente um anti-racionalista, porém critica o inatismo proveniente do
racionalismo, entre outras coisas, porque se tivéssemos ideias inatas (Deus, alma, etc.)
não deveríamos discutir a respeito delas, elas já estariam “lá”. Desse modo,
pensa Locke, somos uma tábula rasa e vamos aprendendo com a experiência, qual
seja, conhecemos através de estímulos das qualidades primárias e secundárias
dos objetos, as primeiras objetivas (a temperatura) e as segundas subjetivas (o
calor).
Ideias. Ora veja, enfatiza Lucas, as ideias são
produzidas pelas sensações, mas não só, há ideias produzidas pela reflexão (estímulo
interno) a partir de operações simples da razão sobre aquelas ideias da
percepção. Nota-se esse papel da razão. Por fim, há ideias simples e ideias
complexas: as primeiras oriundas tanto da sensação (dados do sentido) ou da reflexão
(composição, distinção, comparação); as segundas que são combinações de ideias simples
(modo, substância e relação). Essas últimas, por exemplo, gratidão ou duração,
ideias de modo dependentes de algo; relações de parentesco: fulano é pai
de cicrano que é filho de beltrano e por aí vai; e uma pessoa como sendo
uma substância, ou uma panela, que são ideias simples juntas, conforme
ensina Lucas. Reconhecer uma coisa necessita que ela seja identificada e, como Locke
não pode lançar mão da essência (aristotélica?), fica esse agregado de ideias simples,
que podem até serem abstrações: medo ou Deus[ii].
Idealismo. Esse tipo de teoria empirista é um
problema para Berkeley, católico que era, já que fundamenta o nosso
conhecimento na matéria. Para Berkeley, o nosso conhecimento é formado por
ideias que se originam em nossas percepções, então ser é ser percebido. De
um lado o empirismo realista e, de outro, o empirismo idealista. Citações que
Lucas apresenta: “As coisas existem de maneira verdadeira e imutável na matéria”
e “As coisas não existem fora do fato de serem percebidas”. Choque. Mas para
Berkeley é isso: o conhecimento vem das sensações, mas não há garantias de sua
base material, o que, segundo Lucas, é uma noção perturbadora e que tenta se livrar
de um mundo material que leva ao ceticismo e ateísmo.
Solipsismo. A partir do empirismo idealista de
Berkeley, o exemplo que Lucas do Prado nos traz é aquele: se uma árvore cai na
floresta e ninguém observou, ela fez barulho? Ora, parece que não, já que o evento
não foi percebido por ninguém. As sensações não se ligam aos objetos, porque
Berkeley postula que as ideias são substâncias mentais. Lucas insiste: as ideias
são sensações dos sentidos, são pensamentos. Sentir é pensar. Ideias e sensações
são subjetivas, sem suporte material. Então o existente é o perceptível, não podemos
garantir o resto material do mundo. Ocorre que tal concepção leva ao
relativismo pois cada qual estaríamos à mercê de nossas próprias ideias /
percepções possivelmente nos conduzindo ao solipsismo, isto é, uma falta de
garantia de algo fora de nós.
Salvaguarda. Para Berkeley, não existe divisão entre as
qualidades primárias e secundárias, qualquer qualidade é uma sensação, é
subjetiva, um pensamento. Berkeley, então, rejeita o dualismo cartesiano, optando pela “res
cogitans”. Por aí, se as percepções não são relativas, pois estamos sempre
vendo “o mesmo”, há um espírito ativo que cria ideias e coisas, ser onisciente,
onipotente e onipresente, percebendo tudo ao mesmo tempo, embora não existindo
para cada um individualmente. E o raio que caiu na árvore, foi escutado? Se não foi escutado por ninguém, nenhum ser humano, há um ser que tudo vê, tudo sabe e percebe: Deus. Então, por mais que eu não tenha garantia do mundo que você aí que lê, percebe, Deus percebe e garante. Conforme ressalta o Lucas, Deus é que dá essa coerência ao mundo e, pensando assim, Berkeley seria um coerentista e Locke correspondista. É Deus que garante essa coerência no mundo. É a existência de Deus que impede o solipsismo e o ceticismo.
Nominalismo.
O fato de que haja um relativismo nos
parece próprio ao empirismo, haja vista a relevância da percepção na obtenção
do conhecimento, percepção essa que é individual. Entretanto, lá em Locke havia
a composição de ideias complexas a partir de ideias simples, até ideias
abstratas. Mas Berkeley não acredita na ideia abstrata, ele é um nominalista:
cada ideia é uma ideia de uma coisa individual, há a ideia do cavalo preto, do
cavalo velho, do cavalo arisco, mas não há a ideia de cavalo[iii]; há apenas o nome cavalo, uma palavra. Se um objeto é uma série de sensações particulares, essas percepções indicam a ideia de que tenho uma palavra que garante o universal, inexistente no mundo material. A palavra é uma convenção prática que destaca nas sensações series coerentes permanentes, conforme Lucas.
[i] Pegando vídeos introdutórios para
relembrar. Canal https://www.youtube.com/@FilosofiaEspiral.
Vídeos preparatórios para o vestibular da UFPR. Recordar (sic relembrar) é
viver.
[ii] Seria a ideia complexa a coisa em
si e as ideias simples fenômenos?
[iii] A cavalidade: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2014/02/cavalidade.html, que coisa mais engraçada essa defesa da essência...
A respeito da nota 2, não, porquinho não temos conhecimento da coisa-em-si
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