sexta-feira, 8 de junho de 2018

Idealista

Tem uma discussão antiga em Filosofia (ou moderna, mas não há porque precisar agora) que opõe idealismo e realismo, que vamos explorar um pouco nesse texto. Esse debate tem um pano de fundo epistemológico, ou seja, se refere à teoria do conhecimento ou ao que conhecemos e como conhecemos. Para os idealistas, o conhecimento provém das ideias e aí há muitas interpretações, mas, simplificando, temos um conhecimento inato, ou seja, que nos pertence desde que nascemos e que é mandatário para nossa vivência. Para os realistas, a realidade tem precedência sobre as ideias e, nesse sentido, há um enfraquecimento do idealismo, pois ele poderia ter, digamos, menos concretude. O idealismo projeta nossas ideias sobre a realidade e a torna irrelevante, desprezível, a força das ideias cria o mundo, as pessoas, tudo. Já para o realismo, talvez as ideias não sejam realmente tão importantes. É importante salientar como podemos conceber o mundo pelas ideias, pela nossa ideia: nós sempre nos impomos e atuamos como senhores desse mundo fabricado pelas ideias. Do que surge a pergunta: há realidade (objetividade) sem ideia (subjetividade)? De que serve uma objetividade em si, sem uma subjetividade para explorá-la? Do mesmo modo, uma subjetividade sem objetividade é vazia: esse é um velho debate!!!
Mas idealismo também significa que temos ideais: que imaginamos coisas que podem se dar na realidade, que podem superar a realidade. Um ideal é uma tentativa de superar uma realidade que é só real, mais nada. “Bem, o ideal é fazer assim, mas como não tem jeito, façamos assado”.  Ideal: assim, realidade: assado. É muito difícil mudar a realidade e isso só pode acontecer se houver uma idealidade que a supere. Mas também, ninguém vive somente de idealidades. Uma coisa importante a se ressaltar é: às vezes o pragmatismo da realidade nos impede de escaparmos para a utopia da idealidade. Em situações de crise (e nós sempre estamos em situação de crise porque somos seres humanos erráticos e falíveis) tendemos a nos agarrar à realidade porque ela é objetiva, está aí, está lá, é palpável. Já o idealismo, nesse sentido, é um desafio que nos inquieta: dizem que o ideal não é possível. Porém, por mais que o ideal não seja possível, realisticamente falando, ainda assim ele é possível para uma subjetividade e viver de fantasias pode ser nosso último porto seguro.

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