Após
o advento da internet, que quebrou todos os paradigmas de comunicação, o
computador (equipamento físico: desktop, laptop, etc.) perdeu espaço para os
telefones celulares, hoje smartfones. Mais do que isso, o barateamento da
tecnologia permitiu a universalização do uso dos telefones, acessível para boa parte da
população e que nos possibilita estar “online” praticamente 24 horas por dia, até
que o sono permita. Muito do que era feito no computador passa para o celular e
uma infinidade de novos aplicativos surge para nos ajudar em todo o tipo de
tarefa e para que economizemos tempo. Hoje em dia não vamos ao banco, mas levamos
o banco no bolso. Acordamos e já sabemos a previsão do tempo e que roupa nós
devemos usar e também já sabemos como está o trânsito e se podemos cochilar
mais um pouco.
O
celular, nosso novo alter ego, por um lado abstrai o contato com o mundo da
vida, mundo que está aí e sempre estará, mundo concreto e, por outro, nos leva ao consumo, reprodução e produção de dados e informações infinitas no mundo
virtual, digital. Se o mundo concreto é
mundo “big brother”, mundo com câmeras a nos olhar e vigiar, o mundo virtual,
do celular, é um mundo de extrema rastreabilidade. Qualquer clique, o abrir um
aplicativo, tirar uma foto, fazer um backup, etc., gera uma informação valiosa
para os fornecedores de aplicação que passam a saber como nos comportamos,
quais opções preferimos e o que os leva a alavancar vantagens e, obviamente, vender mais (o que significa nos dar o que queremos). A facilidade do
celular só é fácil porque geramos dados que são processados pelas empresas que
os recebem e nos devolvem na forma dessa facilidade. É o circulo virtuoso. Ou
vicioso? Mais dados produzimos, mais estamos distantes do mundo da vida, mundo
concreto, diverso, imprevisível. A estabilidade que o mundo virtual nos traz se
converte em confiança para com o aparelho e em sua cumplicidade.
Não
podemos nos esquecer, entretanto, das enormes contribuições que a produção de
dados e a reprodutibilidade de condições e experimentos oferecem à medicina,
organização social, infraestrutura, etc. Toda a sociedade tem se beneficiado,
nos mais diversos aspectos, dessa explosão digital. Surge, no mundo da
vida transformado em mundo digital, uma nova ciência de natureza digital: a
ciência de dados. Ela se apoia fortemente na matemática, que encontrou
seu rumo como ciência a muitos séculos atrás, e permite a mais abrangente e surpreendente
análise e tratamento de dados. Vejamos os modelos de redes neurais, a
comunicação entre máquinas, inteligência artificial, etc. Todo esse aparato
tem se apropriado dos mais variados domínios do mundo da vida e, através da
tecnologia da informação e da estatística, permitido quatro ações: 1) descrição
das informações presentes em um determinado domínio, 2) o diagnóstico de porquê tais condições foram adquiridas e, sua dupla pedra de toque: 3) a predição do que pode
ocorrer em determinado momento futuro e 4) a prescrição do que deve ser feito
quando essa nova situação for encontrada.
Sem
dúvida, a ciência de dados faz parte de um processo contemporâneo de
decodificação dos dados de realidade pelas tecnologias emergentes, sua transformação e codificação que retorna com as
orientações que podem interferir nas ações e projetos dos mais diversos domínios. Existem
muitos dados e informações armazenados nos computadores do mundo todo, a maior
parte da produção acadêmica e científica está exposta ao acesso digital via
internet e suas infinitas combinações de buscas e resultados. O crescimento e
as possiblidades são exponenciais, o mundo virtual se abre como um portal que
abduz o mundo concreto. Todo o desenvolvimento humano sempre se surpreendeu com
os avanços e retrocessos da técnica, que pode ser usada para o bem e para o
mal. Mais do que os dados que temos disponíveis atualmente, há pessoas por trás desses dados e são elas que
devem decidir o que fazer com eles e como eles podem contribuir com um
mundo melhor, que seja virtual enquanto dure porque concreto jamais deixará de ser.
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