quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A filosofia e os professores sob o olhar de Adorno

    O texto que dá nome a essa reflexão trata do exame que seleciona os futuros professores de ciências e filosofia. A crítica de Adorno é severa, mas reflete uma Alemanha que passou pela nazismo e, nesse sentido, podemos entender a sua gravidade. Se, por um lado, há por parte dos examinados sérias deficiências, por outro lado, a falta de exigência premia a consciência reificada e sua subordinação a qualquer autoridade, mesmo que seja o regime nazista.

    Sobre a avaliação, os examinados preferem questões específicas que versem sobre a história da filosofia, mesmo que tenham grandes dificuldades de articulação quando ser trata do desenvolvimento de pensamento de um filósofo em relação a outro, e não só no interior de cada filosofia. Entretanto, Adorno sugere o uso de questões temáticas, que faça vínculos com a arte e a cultura de cada época e sublinha o contraponto entre o espírito filosófico e o científico, que, reificado, se vale de valores científicos para fazer a mediação com a experiência viva. Ante estudantes que não querem correr riscos no exame, o que precisa ser abordado é o potencial intelectual, a capacidade de reflexão sobre a atividade e o meio social.

    Assim, a consciência dos candidatos está reificada e repousa sobre "conformações formais do pensamento". Sem reflexão, cria-se o apolítico, que é facilmente subordinado. Mas, aonde estaria a causa do problema? Segundo Adorno na falta de formação cultural, que exige o empenho de cada um, que é espontânea, para que se crie o espírito crítico que se abre a novas possibilidades. Mas o que o resultado dos exames mostra é exatamente o contrário: fica evidente o fracasso da formação cultural, que não é alimentada por experiencias prévias oriundas da condição social de cada indivíduo.

    É grande o peso que Adorno coloca nos ombros do professor: ele deve ter o conhecimento específico e histórico da filosofia, mas também se relacionar com as outras ciências e com as artes e experiências em geral, refletir sobre sua atividade e sobre o social. É esse indivíduo que, com uma formação cultural adequada, pode possuir o espírito filosófico que supera a consciência reificada, é capaz de fazer a autocrítica e ensinar.

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