quinta-feira, 23 de maio de 2019

Acerca da dúvida

Imagem abrilsuperinteressante
A nossa existência é pautada por uma relação com o mundo e com as outras pessoas: não somos sozinhos e somos dependentes. Por "mundo" entende-se a natureza, os astros, os outros animais, enfim, o universo. Ou seja, coisas para as quais não temos uma relação de equivalência e simetria, diferentemente de nossa relação com as outras pessoas.
O peso da dúvida é a mola-mestra de nossa existência, seja na relação com o mundo ou com as outras pessoas. Por mais que interroguemos o outro, por mais elementos comportamentais e psicológicos que nos seja possível extrair de alguém, jamais saberemos ao certo se eles são verdadeiros, não por uma questão moral ou ética, mas pelo simples fato do conhecimento, do véu que encobre nossa visão e embaralha a interpretação do mundo. Diante disso, tal relação deve ser, senão relevada, minimizada. Sabendo disso, temos uma régua para nos medir e medir os outros e, a partir daí, viver.
Já a relação com o mundo começa quando começamos, quando nos deparamos com a vida e terminará quando menos se espera. Essa é a única relação certa enquanto vivemos ou enquanto haja mundo para vivermos. Entretanto, jamais conseguiremos entender ao certo porque estamos aqui, como viemos parar nessa capa humana e qual a força que nos move. Eis a dúvida.
Nesse oceano de ilusões e elucubrações, a ciência nos auxilia com o que é possível conhecer, de fato. Ela explica o fato. Conhecemos pela ciência algo que não conhecemos pelos nossos esquálidos sentidos individuais, mas que se desenvolvem pela exploração colaborativa de nossa espécie. A filosofia nos auxilia com possibilidades de conhecimento teóricas, nuances não disponíveis ao instrumental científico e que nos permite especular além do dado. Ela é, sem dúvida, um grande contingencial para interpelar a dúvida. Por fim, a religião nos permite superar qualquer abordagem especulativa e conceitual e subir ao transcendental, território de exploração ilimitada, de valores incomensuráveis aonde impera a superstição.
Temos armas para lutar contra a dúvida, sejam científicas, filosóficas ou religiosas. Elas podem ser escolhidas e combinadas a nosso bel prazer, a depender dos incômodos de cada tempo, das adversidades. Renegá-la, jamais. Naturalizá-la, tampouco. E nem mesmo derrotá-la, mas alimentá-la como fogo fátuo nessa efêmera, porém única e incansável existência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário