Idealismo e Teoria do
Conhecimento. Russell relembra que idealismo
significa que o que existe ou pode ser
conhecido é de alguma forma mental,
ressaltando que há vários tipos de idealismo. Segundo ele, embora o fato de
imaginarmos que o mundo físico à nossa volta possa ser produto da mente ou deixe
de existir quando fechamos os olhos, o idealismo não pode ser descartado como
absurdo. Russell nos mostrou que o mundo físico, se existente independente de
nós, deveria ser diferente dos dados-dos-sentidos, o que tornaria difícil a conceituação
de sua natureza. Porém, mesmo que soe estranho como o idealismo caracteriza a
apreensão da realidade, Russell afirma que o
idealismo remete à teoria do conhecimento e às condições que temos para
conhecer as coisas que nos cercam.
Conceito de Ideia.
Já vimos, também, que Bishop Berkeley foi o primeiro a conceituar
dados-dos-sentidos dependendo de nossa mente e com ampla aceitação na filosofia.
Argumentando que só temos garantia do conhecimento de dados-dos-sentidos, para
Berkeley tal conhecimento estaria em nossa mente (se não na minha, em outra, em
alguma mente...) e só seria possível pela noção
de ideia, que é exatamente o que é imediatamente conhecido por nós: uma cor
que vemos é uma ideia, uma voz, etc. Ao exemplificar o que conhecemos de uma
árvore, Berkeley afirma que é uma ideia dela em nossa mente, mas quando essa
ideia se esvai, a árvore não existe mais? Jamais, ela existe porque é uma ideia
de Deus e as ideias de Deus nunca cessam.[i] Então, tudo o que vemos, sentimos ou tocamos
são ideias que só são porque são ideias de Deus e por isso todos nós
compartilhamos de ideias semelhantes, pois são de Deus. Se Deus cessa, o
mundo cessa[ii].
Falácias do Conceito de
Ideia. Porém, explica Russell, se o conceito de ideia
remete a algo em nossa mente, a ideia de uma árvore não significa que a árvore
toda está em nossa mente, mas um pensamento dela. Se Berkeley, em oposição ao
objeto físico, trata de dados-dos-sentidos como algo subjetivo e, por isso,
mais dependendo de nós do que do objeto, isso não significa que tudo que é
imediatamente conhecido está em nossa mente. O que importa a Russell não é a distinção entre dados-dos-sentidos e
objetos físicos, mas a questão de saber se tudo que conhecemos é mental. Russell
argumenta que uma coisa é a consciência de uma cor em nossa frente (o ato
mental de apreensão que está em nossa mente) e outra é a própria cor percebida
pelos dados-dos-sentidos. Russell aponta
para uma confusão no conceito de ideia de Berkeley entre o ato de apreensão e a
coisa apreendida[iii].
Outras falácias. Tal
confusão entre ato e objeto permite a Russell caracterizar a mente como tendo
a capacidade de apreensão de outros objetos que não ela e enfatizar que limitar
o seu conhecimento a coisas que estão na mente, como faz Berkeley, equivale
dizer que essas coisas não são mentais, invalidando seu conceito de ideia. Além
disso, para Russell, há uma suposição de
que o que existe deve ser conhecido por nós, nesse caso, a matéria seria
uma mera quimera, pois só conheceríamos mentes e ideias mentais. E o que não tem
importância para nós não seria real, porém, segundo ele, a matéria faz parte de
um desejo de conhecimento que temos.
Teoria do Conhecimento
de Russell. Russell se refere ao conhecimento de
duas maneiras: 1.) oposto ao erro, conhecimento de algo que julgamos verdadeiro
e 2.) conhecimento de coisas, um tipo de apreensão, por exemplo, conhecimento
de dados dos sentidos. Russell então muda a suposição destacada acima a
acusando de falsa: “We can never truly judge that something with which we are not
acquainted exists.”[iv]
Ele
argumenta que se não pode ser conhecido (apreendido) como imperador da China, mesmo
assim pode julgar verdadeiramente que ele existe. Ele finaliza dizendo que sim,
o fato de estar familiarizado com algo
indica o conhecimento desse algo mas não estar familiarizado com algo não
significa que este algo não pode ser conhecido ou exista. Podemos julgar
verdadeiro algo com que não estamos familiarizados, mas que podemos conhecer
por descrição, assunto que será investigado no próximo capítulo.
* Bertrand Russell, Problems of Philosophy. IDEALISM. Acessado em 11/05/2019:
http://www.ditext.com/russell/rus4.html.
[i]
Conforme Russell: “Its being, he says, consists in being perceived: in the
Latin of the schoolmen its 'esse' is 'percipi'.”. Ou seja, o ser da árvore é sempre
um ser percebido [por uma mente].
[ii] Inclusive nós, acreditamos, pois
nesse caso também somos ideias: de Deus, para os outros.
[iii]
Ou: “Thus, by an unconscious equivocation, we arrive at the conclusion that
whatever we can apprehend must be in our minds.”.
[iv] Usaremos acquainted como
familiarizado e/ou apreendido indiscrinadamente.
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