Os
dados-dos-sentidos[ii],
que para a Filosofia são mais conhecidos do que o próprio objeto em si, objeto
este que teve sua própria existência e realidade colocadas em dúvida, não são
alvo da ciência. Esta define o objeto em termos de posição e movimento, conforme
argumentação de Russell. Isso se deve, podemos acrescentar, devido à utilidade
da ciência que “despe” o objeto de características sem valor objetivo, embora
nesse processo algo importante se perca: sua influência e valor social[iii].
Assim,
duas luzes são refletidas pelo objeto: uma que sentimos e experienciamos e
outra que a ciência descreve (espacial), essa última um cego pode compartilhar,
a primeira não. A parte descrita pela ciência é o que, segundo Russell, existe
no mundo independente de nós. Mesmo o espaço que a ciência utiliza não é o mesmo
que aprendemos a ver e tocar já que cada um tem seu próprio espaço e cada
pessoa tem uma visão diferente dele dependendo do ponto de vista e de suas
faculdades, e a ciência tem o dela. O espaço da ciência, então, é o que
chamamos espaço físico!
E
é porque nós (nossos corpos) estamos nesse mesmo espaço físico é que somos
capazes de nos relacionarmos com os objetos, somos capazes de sentir, cheirar
tocar, etc. Mas os dados-dos-sentidos estão em nosso espaço privado. Embora (e
a experiência o mostre) eles sejam correspondentes, esses dois espaços. A
respeito de se distinguir espaço físico e dados-dos-sentidos, Russell o faz
citando o exemplo do sol, que demora 8 minutos para chegar até nós, ou seja, o
que vemos agora não é o que é, mas o que foi.
Nesse
sentido, a natureza dos objetos físicos (espaço, ondas) nos permanece desconhecida,
já que conhecemos dados-dos-sentidos. Porém, argumenta Russell, embora os
objetos físicos não sejam exatamente como os dados-dos-sentidos, eles são similares e podem realmente ter, por
exemplo, cores, mesmo que mais ou menos aproximadas à sua variação e ângulo de
incidência luminosa. Dito isto, Russell não chega à natureza última do objeto
físico, embora não concorde que seja puramente mental, como argumentaram os
idealistas.
[i] Bertrand Russell, Problems of
Philosophy. THE NATURE OF MATTER. Acessado em 23/04/2019: http://www.ditext.com/russell/rus3.html.
[ii] Definição em: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/04/o-mundo-nao-existei.html.
[iii] Mais ou menos o que Marx
definiu na sua teoria do valor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário