Sujeito como objeto. Para Freud-Lacan[1] não há um desenvolvimento do
sujeito, mas ele se constitui por operações como o estádio do espelho e o complexo de Édipo. O sujeito é objeto do discurso dos pais antes mesmo de
nascer da união que se dá entre o homem e a mulher regulada pela proibição do
incesto. Ou seja, frente à indiferenciação natural há a lei cultural que tem
por pressuposto a estrutura da linguagem, lei que se dá na ordem do discurso. Desde
a vida uterina a mãe já está habitada pela lei e pelo desejo e a criança, antes
de nascer, é objeto do outro. A satisfação das necessidades da criança, que não
são naturais porque marcadas pela linguagem, implica o auxílio da mãe e por aí
se dá o processo de constituição da subjetividade. O sujeito sustenta-se na
vida pelo outro e no ordenamento simbólico dos desejos.
Desejo como falta. O grito do recém-nascido desamparado se
faz demanda e passa-se de um estado de inanição à satisfação (diferença
nada-tudo) que se constitui como um traço mnêmico que funda o aparelho psíquico.
Quando a necessidade reaparece acontece um novo grito pela demanda (quer
repetição), mas o que se oferece, difere: há uma falta (diferença) e o desejo
se constitui como “estar em falta”. Essa experiência de satisfação é mítica
porque o que se oferece é um objeto feito de cultura e o adulto não pode
responder à altura dA Necessidade. A criança já nasce no quadro desiderativo do
adulto em posição de objeto e o seu desejo não é natural: o desejo deseja o
desejo do outro enquanto ser desejante. Desejamos ser desejados pelo outro como fomos na experiência mítica,
portanto a subjetividade não se desenvolve como um germe no organismo. Se a
subjetividade está no desejo do outro ela só precisa de um organismo para se encarnar
e onde ocorre a luta entre desejos contraditórios e a luta entre o desejo e a
biologia. A experiência originária de satisfação completa que não ocorreu
torna-se modelo inalcançável de cumprimento do desejo que visa a repetição dessa
satisfação incondicional.
Sujeito impulsionado pelo Outro. Se o desejo é o sujeito em falta, há um
impulso que o impele para frente associado à pulsão, cuja fonte é a zona erógena,
o objeto é contingente e o fim é a satisfação. O desejo se realiza, mas não se
satisfaz, pede qualquer demanda, volta a pedir o que foi tirado e, não satisfeito,
reabre a pulsão. A pulsão [inconsciente] habita o “Id” (isso) mas não é interior,
é o outro que pulsiona o sujeito a seguir avançando norteado pelo traço mnemônico.
Os desejos são movidos por significantes e as coisas só estimulam enquanto
significantes dos desejos dos outros. O sujeito é lançado no mundo buscando na
realidade humanizada pelo discurso. Seu agir é de natureza discursiva capturada
pelos significantes e ele cria mercadorias por intermédio da estrutura da
linguagem.
Sujeito assujeitado. Se o desejo é condição, ele também é
efeito do discurso, mas recalcado antes da aparição da linguagem como função. Assim,
o sujeito é sujeitado ao discurso do Outro antes de ser seu autor como mostra o
estádio do espelho: faz um no seio do outro.
* Alguns aspectos de
"Desenvolvimento ou constituição do sujeito (do desejo)". Em
LAJONQUIÈRE, R. De Piaget a Freud: para repensar as aprendizagens. Vozes,
Petrópolis, 1993. FEUSP-EDF0294/201602
- prof. Douglas Emiliano Batista.
[1] conforme nota de aula de 26/09 o estádio do espelho é um conceito lacaniano.
[1] conforme nota de aula de 26/09 o estádio do espelho é um conceito lacaniano.
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