Dizer que algo é estrutural (veja aqui conceituação
do racismo estrutural) é dizer que faz parte do humano e constitui o sujeito (e
isso não é marxista e tampouco de esquerda, embora pudéssemos pensar em uma
análise estruturalista do materialismo histórico). O sujeito está sempre
inserido em relações dadas de antemão por estruturas (o movimento
estruturalista pode ser explorado aqui).
Mas não é isso que queremos abordar. Gostaríamos de retomar do início
e verificar o estrutural pela chave psicanalítica freud-lacaniana[1]
de maneira embrionária ainda (não trataremos do desejo). O campo do humano
é o campo do simbólico, da linguagem. Porém, ao nascermos e enquanto bebês, não
nos desenvolvemos em um percurso evolutivo biológico, mas nos constituímos a partir
do discurso dos outros: da mãe, do pai, etc. Já há um discurso estabelecido em
um campo simbólico historicamente constituído e é ele que nos constitui e por
ele que adquirimos novos conhecimentos que nada mais são do que rearranjos dos
conhecimentos já estabelecidos e encarnados nos outros.
A psicanálise lacaniana divide a psique no simbólico, imaginário, e
real. O simbólico como estamos destacando é o campo que recorta o real e que
permite sua significação pelo discurso e também a intersubjetividade. Esse é o
campo humano que é caracterizado como o Outro. O real não é acessível, o real é
o resto, a sobra do discurso. Isso porque não há uma natureza humana; ela foi
perdida na constituição do sujeito pelo discurso que cindiu a possibilidade do
encontro com objetos puros, físicos. A partir do discurso então construímos objetos
imaginários, formamos uma imagem do real que não é o real.
Mas o simbólico é estrutural porque ele provém do inconsciente. Freud
cindiu a psique no consciente e no inconsciente (algumas lições podem ser
consultadas aqui). Porém, o consciente é sobre determinado pelo inconsciente.
O consciente forja um EU que não passa de uma ilusão que tenta agregar nossas
representações. O inconsciente é o lugar dos desejos reprimidos, lugar de
convivência entre o contraditório que foi recalcado pelo sujeito consciente. Daí
que as nossas ações, nosso discurso, os sonhos são pautados pela
imprevisibilidade da estrutura inconsciente que está por detrás não somente do
conhecimento público compartilhado, mas também da própria constituição do sujeito
que não é um organismo vivo, mas um corpo objetivado pelo simbólico.
Portanto, dizer que algo é estrutural é dizer que esse algo é o que
nos constitui e está constituído no Outro. O estrutural é a linguagem que nos
torna humanos. O estrutural é o inconsciente que pauta o consciente. O sujeito se assujeita no discurso do outro e assim é constituído. Diante disso[2],
podemos concluir que estamos de posse de um quadro estrutural dado, abrangente, aculturado
e que vitimiza quem chega. Mas também significa que temos que nos apropriar
desse discurso para formamos um discurso nosso que vai constituir os outros, recíproca e inversamente. Significa
que a luta se dá pela linguagem, no campo do humano e que só poderemos superar
o estrutural partindo de um esforço muito grande de readequação dos
significantes que circulam nas cadeias discursivas mais conservadoras.
[1] Baseado em FEUSP-EDF0294/201602
(prof. Douglas Emiliano Batista) e Lajonquière (de Piaget a Freud).
[2] Aqui já é nossa argumentação.
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