Não é que o real não existe, mas ele não
existe para nós porque nós somos seres de linguagem. Pensar o real como
existente é pensar em algo que é pura aparência. É estar acometido por uma consciência
irrefletida. Pensar o real como existente é o primeiro passo para aceitar uma normalidade
e uma situação de controle humano e integração total com o mundo. Mas não é
isso que ocorre. Nunca tocamos o real e nunca tocaremos, há uma intermediação.
E não conseguimos tocar o real mesmo ele estando lá, dado, embora não o vejamos. Está além
de qualquer capacidade humana tocar ou sentir o real. E assim, distantes,
optamos por uma ilusão ou por um conformismo. Iludir é viver dentro de regras sistêmicas,
é luta também poque tudo se faz por luta, mas poderíamos ir além. Conformar é entender
nossa constituição e recalcar. Não há real para nós e isso é apenas um lembrete
de que devemos nos situar e optar viver pelo simbólico e não pelo real. A ilusão
de viver pelo real é a negação de qualquer possibilidade de ir além. A conformação
de viver pelo simbólico é o primeiro passo para a ação. É só de posse desse entendimento
que sabemos como a luta deve ser travada: é uma luta pela palavra.
Mas é tão difícil falar! Porque aceitamos
o real e achamos que dominamos a situação quando não o tocamos. Se há
alguma chance de mudança ela passa exclusivamente pela palavra como instrumento
de guerra. Não podemos nos calar. Precisamos do discurso e devemos usá-lo a serviço
da educação. A mudança deve começar o
mais cedo possível. Precisamos ser capazes de entender que o real não existe e
que jamais será alcançado. De posse disso nos conscientizamos de nossa situação
humana e podemos comprovar o que somos e como fomos gerados. Não fomos gerados
no real, mas no seio do humano e humano seremos, por enquanto. Humanizados, então,
poderemos ressignificar a nossa relação com o outro e com uma imagem
preconcebida. Desfazer essa imagem, torcer essa imagem, recriá-la plasticamente é tarefa nossa. A imagem significa muito, ela tem um peso tão
grande que deve ser reelaborada para que possamos nos aceitar como seres de
linguagem, apenas isso.
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