domingo, 2 de outubro de 2016

Uma nova imagem

Não é que o real não existe, mas ele não existe para nós porque nós somos seres de linguagem. Pensar o real como existente é pensar em algo que é pura aparência. É estar acometido por uma consciência irrefletida. Pensar o real como existente é o primeiro passo para aceitar uma normalidade e uma situação de controle humano e integração total com o mundo. Mas não é isso que ocorre. Nunca tocamos o real e nunca tocaremos, há uma intermediação. E não conseguimos tocar o real mesmo ele estando lá, dado, embora não o vejamos. Está além de qualquer capacidade humana tocar ou sentir o real. E assim, distantes, optamos por uma ilusão ou por um conformismo. Iludir é viver dentro de regras sistêmicas, é luta também poque tudo se faz por luta, mas poderíamos ir além. Conformar é entender nossa constituição e recalcar. Não há real para nós e isso é apenas um lembrete de que devemos nos situar e optar viver pelo simbólico e não pelo real. A ilusão de viver pelo real é a negação de qualquer possibilidade de ir além. A conformação de viver pelo simbólico é o primeiro passo para a ação. É só de posse desse entendimento que sabemos como a luta deve ser travada: é uma luta pela palavra.

Mas é tão difícil falar! Porque aceitamos o real e achamos que dominamos a situação quando não o tocamos. Se há alguma chance de mudança ela passa exclusivamente pela palavra como instrumento de guerra. Não podemos nos calar. Precisamos do discurso e devemos usá-lo a serviço da educação.  A mudança deve começar o mais cedo possível. Precisamos ser capazes de entender que o real não existe e que jamais será alcançado. De posse disso nos conscientizamos de nossa situação humana e podemos comprovar o que somos e como fomos gerados. Não fomos gerados no real, mas no seio do humano e humano seremos, por enquanto. Humanizados, então, poderemos ressignificar a nossa relação com o outro e com uma imagem preconcebida. Desfazer essa imagem, torcer essa imagem, recriá-la plasticamente é tarefa nossa. A imagem significa muito, ela tem um peso tão grande que deve ser reelaborada para que possamos nos aceitar como seres de linguagem, apenas isso.

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