Abordagem dos variados aspectos da Filosofia da
Tecnologia por Alberto Cupani – guia introdutório, catálogo de conceitos e
aspectos[i]
Atentando na tecnologia.
Cupani nos mostra que, ao refletirmos sobre a tecnologia, não encontramos um
objeto determinado, visto que ela nos rodeia podendo chegar até à atitude ou
mentalidade tecnológica. Trata-se de uma realidade polifacetada: há valores
envolvidos, controle sobre nossa vida que podem ser bons ou ruins, dependendo
do uso e caso.
A sua origem está na técnica, que é nossa
capacidade de fazer coisas, em oposição ao agir que é um fim em si mesmo. Então,
é a manifestação de um saber que cria artefatos mediante o uso de regras e por
uma techne, uma habilidade. Isso faz do homo sapiens um homo faber.
Porém, a tecnologia moderna muda em relação à tradicional principalmente pelo
auxílio da ciência, isto é, uma racionalidade científica aplicada e pela
produção em escala.[ii]
Dimensões da tecnologia.
Mitcham divide em 4 dimensões.
Objetos: roupas,
utensílios, ferramentas, máquinas, letras, números, obras de arte, brinquedos,
processos objetivados, até o planeta como um todo, na medida que é modificado
pelo homem, pode ser visto como um grande objeto.
Conhecimento:
conhecer o mundo, saber científico. 1.) habilidades sensório-motoras: aprendizado
intuitivo pela tentativa e erro; 2.) máximas técnicas: articular um fazer
bem-sucedido; 3.) regras tecnológicas: transposição prática de leis
científicas; 4.) teorias tecnológicas: vinculadas ao fazer e usar.
Atividade humana,
seja uma habilidade, inventar, projetar, trabalhar, produzir, usar, construir,
cultivar. A engenharia é um esforço sistemático para economizar esforço e se
norteia pela eficiência. O uso pode variar em termos da função técnica
(revólver dispara um projétil assim, assado), propósito (usou revolver para
matar um boi) e a sua utilização efetiva em determinada circunstância (no dia e
local X, Z).
Volição: atitude ou manifestação
do homem com relação à sociedade. Proteiforme[iii]: sobreviver, controlar
ou poder, liberdade, eficiência, realizar ideal humano. Expressa tendências
humanas, intenções em si ou transcendentes. Requer análise ética.
Filosofar sobre a tecnologia.
Problemas ontológicos:
ser / essência da tecnologia. Expoente é Bunge: mundo composto de objetos
materiais; homem altera processos naturais; qual o ser dos artefatos
(realidade, naturalidade, bem/mal); autonomia.
Epistemologia (saber):
resolução de problemas; ciência versus tecnologia; saber vulgar; regras;
leis; teorias; prognósticos; verdade; explicações; paradigmas; tecnociência: o conhecimento
científico é artefato tecnológico?
Axiologia (teoria dos valores):
valor em si; político; econômico; ético; positivo/negativo/neutro;
instrumental; prejudicial; conotação axiológica; sexista; beleza; prazer
estético.
Suposições éticas da tecnologia: 1.) o
homem é separado da natureza e mais valioso; 2.) o homem deve subjugar a natureza
em beneficio próprio; 3.) o homem não é responsável pela natureza; 4.) o homem deve
explorar recursos naturais e humanos; 5.) tecnólogos e técnicos não são moralmente
responsáveis, não têm escrúpulos éticos ou estéticos já que são de responsabilidade
de uma política tecnológica. Essa ética tecnológica gera reações ambientais e
protestos sociais.
Hoje há novas éticas: nuclear, ambiental,
biomédica, profissional dos engenheiros, computação. As políticas armamentistas
e a responsabilidade moral dos profissionais também são pontos críticos, além dos
benefícios, custos, riscos e a liberdade.
Cupani traz a divisão de Mitcham da filosofia
da tecnologia em duas tradições, por um lado os engenheiros que têm otimismo quanto
ao papel da tecnologia, trazendo uma consciência tecnológica, como Kapp,
Simondon, Bunge e Bacca. Por outro lado, os humanistas fazem um estudo hermenêutico
da tecnologia, seu significado e tradição crítica. Nela estão Rousseau,
Jaspers, Heidegger, Ortega y Gasset e Ellul. Já para o autor, haveria um
enfoque analítico conceitual, como o de Bunge, uma perspectiva fenomenológica e
existencialista baseada na experiência humana e cultura e uma ótica da condição
política e sua relação com o poder principalmente com Foucault, Ellul e
Feenberg.
Por fim, Cupani remonta ao início da
filosofia da tecnologia na academia os anos 50, tendo seu primeiro simpósio em
1965. Paul Durbin teve papel importante na fundação da Society for Philosophy
and Technology na década de 70 e Rapp nos congressos internacionais.
[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia
da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016.
Capítulo 1: Tecnologia: uma realidade complexa.
[ii] Cupani traz uma série de
definições de Carl Mitcham que não vem o caso reproduzir, pois serão objeto de
estudo posterior.
[iii] Conforme Wikipedia, Proteu tem o
dom da premonição, mas ele se metamorfoseia para não contar aos homens. Há
estratégias para achar Proteu, que são reveladas pelas ninfas.
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