Uma
introdução ao pensamento de Ortega y Gasset a partir do convite de Cupani[i]
Cupani traz inicialmente o conceito de raciovitalismo
de Ortega y Gasset, segundo o qual a razão, sem prejuízo de sua objetividade,
responde às necessidades vitais. O homem tem necessidades biológicas, como
viver, mas vive porque quer, isto é, pela sua subjetividade, por um ato de
liberdade. E suas atividades são para satisfazer necessidades.
Na natureza, circunstâncias podem levar a que o
reportório primitivo de satisfação seja suspenso por um segundo reportório de
produção. Para obter o que não há, o homem projeta. Então, seus atos técnicos
são reações contra as imposições da natureza, que ele visa reformar gerando uma
sobre natureza.
Cupani segue acrescentando que, para Ortega y Gasset,
satisfazer-se faz parte do reportório biológico dos atos dos animais, mas é
pela técnica que se anulam as necessidades e quando elas deixam de ser um
problema. Ao suprimir a necessidade, o homem reduz seu esforço e acaso
adaptando o meio a si próprio.
Entretanto, ele produz o supérfluo, pois não quer
somente viver, mas viver bem. Buscando um viver bem ilimitado, o bem estar se
torna a necessidade das necessidades e não um suposto progresso que logo, é
abandonado por circunstâncias, sejam elas possibilidades ou dificuldades.
Para Gasset, o homem busca uma pretensão de ser, um
programa de vida que se molda nas circunstâncias da natureza e do mundo. Pois
bem, como a vida não é dada, ela é um constante problema na qual o homem está
na situação de técnico. Viver não é contemplação, mas produção [que pode exigir
uma teoria].
E daí as várias técnicas usadas em cada época ou
cultura, guiadas pelo nosso desejo de sermos algo. Conforme Cupani, um dos
aspectos mais conhecidos da Meditação, de Ortega y Gasset, é a mudança
da técnica que passa da 1.) técnica do acaso, para a 2.) técnica do artesão
chegando até a 3.) técnica do técnico.
1.) Primórdios e povos primitivos: baseada em técnicas
escassas. O ser humano não sabe que pode inventar e produz coisas por acaso,
diversão, etc. Ele não se sente como homo faber.
2.) Grécia, Roma e Idade Média: aumenta repertório
técnico, mas sua perda não é perda de sobrevivência, ou seja, não há crises
técnicas. A técnica não é vista como pertencente ao animal, mas não passa de um
dote. É a atividade dos artesãos, a techne grega que não visa uma invenção pois
se volta para a tradição e apresenta lentas melhorias. Ressalta-se que o homem
produz instrumentos, não máquinas
3.) Século XX:
técnica já se apresenta como algo não natural, mas uma peculiaridade do homem
que vai além do animal. De ilimitada, chega a ser antitética pois para lá do
que imagina nossa consciência. Chega-se ao império das máquinas, da manipulação
passa-se à fabricação e o homem relegado a um papel secundário.
Se, antes, o técnico estava preso a uma finalidade
proposta, aqui o engenheiro já tem consciência que pode inventar. Na ciência
moderna a ciência física nasce da técnica, da análise racional que propicia uma
nova experiência das coisas. Mas, em caso de perda, é mais difícil recuperar.
E, por todo poder que pode alcançar, ela ameaça.
Contudo, se é o tempo da fé na técnica, também é o
tempo que vida se torna vazia pois, de tão formal, perde o conteúdo. E, assim,
a plenitude tecnológica pode levar ao vazio existencial.
[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia
da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016.
Capítulo 2: Estudos Clássicos: Ortega y Gasset. Baseado na curta obra Meditação,
segundo Cupani.
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