terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Curto panorama da Filosofia da Tecnologia

Panorama da Filosofia da Tecnologia: contemporânea e história[i]

Origem e evolução do conceito de tecnologia. Os autores resgatam a téchne aristotélica como o conhecimento necessário para a produção de artefatos (poiesis) úteis a partir da transformação da natureza pelo homem, em oposição à physis, onde a natureza é autônoma per se.

A téchne é o trabalho manual do artesão como fim em si mesmo, que depois passa a ser o trabalho do técnico como conhecimento transmitido pelo ensino caraterizado por ser repetitivo e como meio para atingir um fim desejado. Segundo os autores, a tecnologia surge com a revolução científica do XVII como conjunto organizado de conhecimento para produção de bens e serviços até chegar a ser instrumento necessário da nossa civilização contemporânea.

Discutem brevemente a neutralidade da ciência enquanto instrumental[ii], se isenta de valores e independente de um fim ou do que o homem faz dela, por outro lado as alterações que a tecnologia gera na sociedade, sejam elas boas ou ruins.

Racionalidade tecno científica e prática. Segue-se ligeiro debate do conhecimento do senso comum que acredita na realidade do mundo que vê, mas cuja resposta só é confiável pelo uso da razão e do já bem conhecido debate filosófico entre racionalistas (ex. Platão, conhecimento dos sentidos é doxa) e empiristas com a visão oposta.

Mas será mostrado que houve uma mudança de abordagem na história. A racionalidade prática, oriunda de Aristóteles, está relacionada à ética e ao agir humano pela virtude, gerando bem geral na polis. Entretanto, o advento da racionalidade tecnológica (tecno científica), voltada ao progresso e controle da natureza, estratificou a sociedade não permitindo o acesso de todos e se distanciou dos valores humanos e sociais trazendo degradação ambiental, entre outros.

Essa abordagem tecnológica contemporânea é criticada por Heidegger que, presenciando o uso das bombas nucleares prevê um futuro terrível no uso da tecnologia, criticando, por exemplo, o uso das hidrelétricas e inteligência artificial. Também há críticas à racionalidade instrumental pela Escola de Frankfurt. Então os autores vão discutir a questão tecnológica desde os pontos de vista do determinismo e da autonomia tecnológica.

Determinismo e autonomia tecnológica. Para o esquema determinista, a tecnologia condiciona nosso modo de vida. Proveniente de Marx, segundo os autores, a tecnologia seria o motor do progresso e transformação social, seja através das forças ou relações de produção. Já na perspectiva da autonomia, defendida por Ellul, o avanço tecnológico independe do ser humano e sua evolução, por mais que traga problemas, trará soluções.

Dentro desse debate, os autores trazem também a questão da neutralidade, com a visão de Weber de uma racionalidade instrumental destituída de valores e desinteressada e a posição contrária da Teoria Crítica de que não existem artefatos neutros, pois são criados pelo homem com uma finalidade. Mas eles defendem o ponto de vista de Monterroza Ríos que trata os objetos com uma dupla natureza: material (elementos que compõem os objetos) e intencional, quando o home imprime significado aos artefatos e usos em determinados contextos.

Movimentos anti tecnológicos. Se a sociedade contemporânea é tecnológica, há críticas a seu uso. Romantismo do XVIII, contra uso excessivo da razão e racionalidade iluminista baseada na matemática e cujo representante é Rousseau[iii] e seu bom selvagem que ser perverte ao ter contato com a civilização. Luddismo[iv], contra o desemprego advindo do uso de máquinas e que gerou a destruição delas e rejeição tecnológica. Movimento ecológico abordando impactos no ambiente, uso de recursos naturais em excesso, combustíveis fósseis, entre outros. Eles fecham com a questão de Heidegger sobre até quando estaremos no controle.

Considerações finais. Por fim, para os autores desde o domínio do fogo até a tecnociência, a humanidade evolui para uma sociedade melhor e com mais conforto. Seja na medicina, globalização ou internet. Entretanto, há que se conciliar tecnologia e valores, ciência e ética. Nesse ponto, a filosofia contribui na formação e na conscientização do uso prudente da tecnologia. Ao ver de fora a atividade cientifica e tecnológica ela permite crítica, reflexão e, pela sua natureza multidisciplinar, o diálogo com os outro domínios e na busca de respostas às questões mais angustiantes do nosso tempo.



[i] FILOSOFIA DA TECNOLOGIA: UMA NOVA ÁREA DE INTERESSE DE ESTUDO DA FILOSOFIA. Geraldo das Dôres de Armendane e Adenilson Felipe Sousa Silva, na Revista Complexitas. Conforme acessado pelo link a seguir: https://periodicos.ufpa.br/index.php/complexitas/article/view/3980, em 15/02/2021.

[ii] Racionalidade instrumental cunhada por Horkheimer afirma que a razão, cedida em sua autonomia, tornou-se instrumento, e o seu valor operacional e papel de domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la. Weber relaciona o surgimento da modernidade ao predomínio de um tipo de ação racional que orienta o indivíduo aos fins.

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