Panorama da Filosofia
da Tecnologia: contemporânea e história[i]
Origem
e evolução do conceito de tecnologia. Os autores resgatam a téchne aristotélica como o
conhecimento necessário para a produção de artefatos (poiesis) úteis a partir
da transformação da natureza pelo homem, em oposição à physis, onde a natureza
é autônoma per se.
A
téchne é o trabalho manual do artesão como fim em si mesmo, que depois passa a
ser o trabalho do técnico como conhecimento transmitido pelo ensino
caraterizado por ser repetitivo e como meio para atingir um fim desejado. Segundo
os autores, a tecnologia surge com a revolução científica do XVII como conjunto
organizado de conhecimento para produção de bens e serviços até chegar a ser
instrumento necessário da nossa civilização contemporânea.
Discutem
brevemente a neutralidade da ciência enquanto instrumental[ii], se isenta de valores e
independente de um fim ou do que o homem faz dela, por outro lado as alterações
que a tecnologia gera na sociedade, sejam elas boas ou ruins.
Racionalidade
tecno científica e prática. Segue-se ligeiro debate do conhecimento do senso comum que
acredita na realidade do mundo que vê, mas cuja resposta só é confiável pelo
uso da razão e do já bem conhecido debate filosófico entre racionalistas (ex.
Platão, conhecimento dos sentidos é doxa) e empiristas com a visão oposta.
Mas
será mostrado que houve uma mudança de abordagem na história. A racionalidade
prática, oriunda de Aristóteles, está relacionada à ética e ao agir humano pela
virtude, gerando bem geral na polis. Entretanto, o advento da racionalidade
tecnológica (tecno científica), voltada ao progresso e controle da natureza,
estratificou a sociedade não permitindo o acesso de todos e se distanciou dos
valores humanos e sociais trazendo degradação ambiental, entre outros.
Essa
abordagem tecnológica contemporânea é criticada por Heidegger que, presenciando
o uso das bombas nucleares prevê um futuro terrível no uso da tecnologia,
criticando, por exemplo, o uso das hidrelétricas e inteligência artificial.
Também há críticas à racionalidade instrumental pela Escola de Frankfurt. Então
os autores vão discutir a questão tecnológica desde os pontos de vista do
determinismo e da autonomia tecnológica.
Determinismo
e autonomia tecnológica. Para o esquema determinista, a tecnologia condiciona nosso
modo de vida. Proveniente de Marx, segundo os autores, a tecnologia seria o
motor do progresso e transformação social, seja através das forças ou relações
de produção. Já na perspectiva da autonomia, defendida por Ellul, o avanço
tecnológico independe do ser humano e sua evolução, por mais que traga
problemas, trará soluções.
Dentro
desse debate, os autores trazem também a questão da neutralidade, com a visão
de Weber de uma racionalidade instrumental destituída de valores e desinteressada
e a posição contrária da Teoria Crítica de que não existem artefatos neutros,
pois são criados pelo homem com uma finalidade. Mas eles defendem o ponto de
vista de Monterroza Ríos que trata os objetos com uma dupla natureza: material
(elementos que compõem os objetos) e intencional, quando o home imprime
significado aos artefatos e usos em determinados contextos.
Movimentos
anti tecnológicos. Se a sociedade contemporânea é tecnológica, há críticas a
seu uso. Romantismo do XVIII, contra uso excessivo da razão e
racionalidade iluminista baseada na matemática e cujo representante é Rousseau[iii] e seu bom selvagem que
ser perverte ao ter contato com a civilização. Luddismo[iv], contra o
desemprego advindo do uso de máquinas e que gerou a destruição delas e rejeição
tecnológica. Movimento ecológico abordando impactos no ambiente, uso de
recursos naturais em excesso, combustíveis fósseis, entre outros. Eles fecham
com a questão de Heidegger sobre até quando estaremos no controle.
Considerações
finais.
Por fim, para os autores desde o domínio do fogo até a tecnociência, a
humanidade evolui para uma sociedade melhor e com mais conforto. Seja na medicina,
globalização ou internet. Entretanto, há que se conciliar tecnologia e valores,
ciência e ética. Nesse ponto, a filosofia contribui na formação e na conscientização
do uso prudente da tecnologia. Ao ver de fora a atividade cientifica e tecnológica
ela permite crítica, reflexão e, pela sua natureza multidisciplinar, o diálogo
com os outro domínios e na busca de respostas às questões mais angustiantes do
nosso tempo.
[i] FILOSOFIA DA TECNOLOGIA: UMA NOVA
ÁREA DE INTERESSE DE ESTUDO DA FILOSOFIA. Geraldo das Dôres de Armendane e
Adenilson Felipe Sousa Silva, na Revista Complexitas. Conforme acessado pelo
link a seguir: https://periodicos.ufpa.br/index.php/complexitas/article/view/3980,
em 15/02/2021.
[ii] Racionalidade instrumental cunhada
por Horkheimer afirma que a razão, cedida em sua autonomia, tornou-se
instrumento, e o seu valor operacional e papel de domínio dos homens e da
natureza tornou-se o único critério para avaliá-la. Weber relaciona o
surgimento da modernidade ao predomínio de um tipo de ação racional que orienta
o indivíduo aos fins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário