quinta-feira, 9 de julho de 2020

Quebrar as máquinas

Houve uma ideia (minha no caso) a favor de uma quebradeira sistêmica hiperbólica. Não necessariamente de um colapso capitalista, embora o capitalismo viva e reine soberanamente em nossos tempos. Nós até poderíamos apostar nossas fichas na possibilidade de um dia “o sistema” vir a ser justo, mas tal espera custaria muitas vidas, sejam elas humanas ou não. Isso porque, claramente, o homem perdeu sua sensibilidade em alguma esquina no labirinto que nos conduziu até aqui.
A ideia era tão somente a de um colapso elétrico que começasse pequeno, mas que, como efeito dominó, atingisse escala global. A ideia não era diabólica, não era de peste, pandemia ou guerra, era simplesmente de burrice. Burrice derivada da ganância. O colapso elétrico, se possível, poderia durar aproximadamente um mês. Um mês com o mundo sem eletricidade. Para nada. Nem gerador, nem geladeira, nem nada.
Não vamos nos ater aqui às consequências, elas podem ser imaginadas. Talvez esse fosse um remédio didático para que olhássemos para os recursos naturais e para nossa vida. E olha que meu meio de vida é a informática, o mundo virtual que não passa de um fantoche da eletricidade. Porém, “a grandes males, grandes remédios”, sem dúvida.
Voltemos no tempo, no início do capitalismo. Lá houve movimentos de destruição de máquinas e destacamos o Ludismo[i] (atenção, não é lulismo). Haveria, por detrás desses eventos, uma questão maior, abstrata e grandiosa de negação do sistema e desejo de seu fim? Aparentemente não, quebrar as máquinas não passava de uma forma de luta usada por alguns operários visando atingir os patrões. Isso quando não era realizada pelos próprios capitalistas como forma de gerar instabilidade no sistema.
Mas, aquela luta e a nossa luta é desigual. A luta humana, do homem contra o homem, é luta ingrata, inglória. Devagar se vai ao longe, mas demora muito. Seríamos capazes de fazer algo surpreendente, por exemplo, a guilhotina ao rei? Ou queimar dinheiro? Vivemos e não sentimos a passagem do tempo, infelizmente. E nosso legado será sempre pior, pois as virtudes se dão em progressão aritmética, mas nos corrompemos em progressão geométrica.



[i] HOBSBAWM, Eric J. Pessoas extraordinárias: resistência, rebelião e jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Capítulo 2.

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