Houve uma ideia (minha no caso) a favor de
uma quebradeira sistêmica hiperbólica. Não necessariamente de um colapso
capitalista, embora o capitalismo viva e reine soberanamente em nossos tempos. Nós
até poderíamos apostar nossas fichas na possibilidade de um dia “o sistema” vir
a ser justo, mas tal espera custaria muitas vidas, sejam elas humanas ou não.
Isso porque, claramente, o homem perdeu sua sensibilidade em alguma esquina no
labirinto que nos conduziu até aqui.
A ideia era tão somente a de um colapso
elétrico que começasse pequeno, mas que, como efeito dominó, atingisse escala
global. A ideia não era diabólica, não era de peste, pandemia ou guerra, era simplesmente
de burrice. Burrice derivada da ganância. O colapso elétrico, se possível,
poderia durar aproximadamente um mês. Um mês com o mundo sem eletricidade. Para
nada. Nem gerador, nem geladeira, nem nada.
Não vamos nos ater aqui às consequências,
elas podem ser imaginadas. Talvez esse fosse um remédio didático para que olhássemos
para os recursos naturais e para nossa vida. E olha que meu meio de vida é a
informática, o mundo virtual que não passa de um fantoche da eletricidade. Porém,
“a grandes males, grandes remédios”, sem dúvida.
Voltemos no tempo, no início do
capitalismo. Lá houve movimentos de destruição de máquinas e destacamos o Ludismo[i] (atenção, não é lulismo). Haveria,
por detrás desses eventos, uma questão maior, abstrata e grandiosa de negação do
sistema e desejo de seu fim? Aparentemente não, quebrar as máquinas não passava
de uma forma de luta usada por alguns operários visando atingir os patrões.
Isso quando não era realizada pelos próprios capitalistas como forma de gerar
instabilidade no sistema.
Mas, aquela luta e a nossa luta é desigual. A luta
humana, do homem contra o homem, é luta ingrata, inglória. Devagar se vai ao
longe, mas demora muito. Seríamos capazes de fazer algo surpreendente, por
exemplo, a guilhotina ao rei? Ou queimar dinheiro? Vivemos e não sentimos a
passagem do tempo, infelizmente. E nosso legado será sempre pior, pois as virtudes
se dão em progressão aritmética, mas nos corrompemos em progressão geométrica.
[i] HOBSBAWM, Eric J. Pessoas
extraordinárias: resistência, rebelião e jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
Capítulo 2.
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