Aspectos do positivismo de Carnap, sociologia de Merton,
Kuhn e outras abordagens.[i]
Filosofia da Ciência: a lógica e o papel normativo.
Pessoa trata aqui basicamente das noções do
Círculo de Viena e suas linhagens. Parte-se, na raiz da ciência principalmente
na concepção de Carnap, da lógica [simbólica] correspondendo à observação, ou
seja, uma postura empirista. Já o positivismo pleiteia condições para se
verificar o significado das sentenças demarcando a ciência e a metafísica, que
não teria sentido. Entretanto, se opondo à referência aos dados sensoriais (fenomenalismo),
Neurath defendeu o fiscalismo trazendo dificuldades para Carnap que mudou sua
abordagem verificacionista para uma de confirmação.
Pessoa cita brevemente a ideia de ciência unificada[ii], mas volta ao positivismo
lógico para trazer a concepção de falseacionismo de Popper que, ao invés de
buscar por sentenças válidas com o método de generalização indutiva de fatos em
leis, deveria ser hipotético dedutivo, ou seja, partir de hipóteses para ver
sua validade empírica que pode ser falseada e continuar a busca ou corroborada.
Por fim, trazendo a visão de Reichenbach,
conclui que o papel dessa corrente da Filosofia da Ciência, chamada “visão recebida”
é do deve ser, qual seja, normativa, não focalizando a prática de como a ciência
era feita.
Sociologia da Ciência: a institucionalização
da ciência.
Pessoa localiza a busca de Merton pela
origem da prática científica no século XVII, na Inglaterra, associada à ética puritana.
Merton elenca as principais normas éticas da ciência desse ponto de vista:
universalismo (deixar de lado o pessoal), comunalidade (colaboração), desinteresse
(não visar interesse próprio) e ceticismo organizado (duvidar de tudo), embora
também haja contra normas implícitas. Abordando o etos científico, Merton conceitua
o efeito Mateus na universidade: aos mais citados, mais citações, ou seja,
gera-se uma estratificação dentro da academia. Por fim, Pessoa conjuga essa sociologia
funcionalista à tradição lógica tratada acima, pois ambas não questionam efetivamente
o conteúdo da ciência.
Filosofia da Ciência: além da lógica.
Reações das teorias globalistas no fim dos
50, que não se prendiam aos aspectos teóricos, entre outras coisas, misturavam
a abordagem empírica com a teoria do observador e não se restringiam aos
procedimentos lógicos de confirmação ou falseamento, pois traziam o contexto
histórico e social. Elas rejeitam o fundacionalismo trazido pelos dados da observação
e passam a focar na teoria, embora tanto a “visão recebida” como as teorias
globalistas desprezassem a prática experimental.
O expoente é Kuhn com o “paradigma”,
quer dizer, as crenças e valores dos cientistas e o modelo de sua atividade
ficam vigentes enquanto tratam dos problemas de determinada visão de mundo, até
que entram em crise e uma revolução estabelece um novo paradigma. Nesse
sentido, mais do que uma acomodação aos fatos do mundo, vale resolver os
problemas.
Lakatos apresenta o “programa de pesquisa”,
trazendo elementos de Popper e Kuhn, em que teorias se filiam a uma tradição
com um núcleo duro, cujo sucesso depende de fazer previsões novas, mesmo
explicando menos fatos[iii]. Já Feyerabend vê a
ciência como anarquia, onde “Tudo Vale!”: vale mais persuasão, criatividade
individual do que racionalidade.
Nova Sociologia e Relativismo.
Sociologia do conhecimento marxista com Mannheim
e escola de Frankfurt com três pontos: inclusão do conteúdo científico, rompendo
a distinção entre social e científico; preocupação internalista de como o conteúdo
da ciência é construído; análise linguística do significado no discurso
científico. Essa sociologia traz do globalismo uma noção de negociação de
consenso, com a concepção de que a visão científica depende do contexto social
do observador e de que pode haver mais de uma teoria sobre determinados fatos.
Começa com Fleck, sob a influência de
Kuhn, passando pela cienciometria dos índices das citações científicas entre
outras. Dentre as abordagens, Pessoa destaca o relativismo epistêmico em
oposição à crença verdadeira justificada chegando à influência social na cognição
humana e interesse de grupos; a abordagem do construtivismo que se vale mais da
descrição do processo científico que de sua explicação; e o estudo das práticas de laboratório
com Latour & Woolgar onde há construção social em cima dos fatos científicos.
[i] Filosofia & Sociologia da Ciência, Osvaldo Pessoa Jr. Acesso em 15/02/2021: http://opessoa.fflch.usp.br/sites/opessoa.fflch.usp.br/files/Soc1.pdf. Aula ministrada na disciplina de HG-022 Epistemologia das Ciências Sociais do curso de Ciências Sociais da Unicamp a convite da profa. Fátima Évora.
[iii] Há também a “tradição de pesquisa” de Laudan, mais focada na resolução de problemas, como Kuhn.
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