terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Introdução panorâmica à filosofia e sociologia da ciência do século XX

Aspectos do positivismo de Carnap, sociologia de Merton, Kuhn e outras abordagens.[i]

Filosofia da Ciência: a lógica e o papel normativo.

Pessoa trata aqui basicamente das noções do Círculo de Viena e suas linhagens. Parte-se, na raiz da ciência principalmente na concepção de Carnap, da lógica [simbólica] correspondendo à observação, ou seja, uma postura empirista. Já o positivismo pleiteia condições para se verificar o significado das sentenças demarcando a ciência e a metafísica, que não teria sentido. Entretanto, se opondo à referência aos dados sensoriais (fenomenalismo), Neurath defendeu o fiscalismo trazendo dificuldades para Carnap que mudou sua abordagem verificacionista para uma de confirmação.

Pessoa cita brevemente a ideia de ciência unificada[ii], mas volta ao positivismo lógico para trazer a concepção de falseacionismo de Popper que, ao invés de buscar por sentenças válidas com o método de generalização indutiva de fatos em leis, deveria ser hipotético dedutivo, ou seja, partir de hipóteses para ver sua validade empírica que pode ser falseada e continuar a busca ou corroborada. Por fim, trazendo a visão de Reichenbach, conclui que o papel dessa corrente da Filosofia da Ciência, chamada “visão recebida” é do deve ser, qual seja, normativa, não focalizando a prática de como a ciência era feita.

Sociologia da Ciência: a institucionalização da ciência.

Pessoa localiza a busca de Merton pela origem da prática científica no século XVII, na Inglaterra, associada à ética puritana. Merton elenca as principais normas éticas da ciência desse ponto de vista: universalismo (deixar de lado o pessoal), comunalidade (colaboração), desinteresse (não visar interesse próprio) e ceticismo organizado (duvidar de tudo), embora também haja contra normas implícitas. Abordando o etos científico, Merton conceitua o efeito Mateus na universidade: aos mais citados, mais citações, ou seja, gera-se uma estratificação dentro da academia. Por fim, Pessoa conjuga essa sociologia funcionalista à tradição lógica tratada acima, pois ambas não questionam efetivamente o conteúdo da ciência.

Filosofia da Ciência: além da lógica.

Reações das teorias globalistas no fim dos 50, que não se prendiam aos aspectos teóricos, entre outras coisas, misturavam a abordagem empírica com a teoria do observador e não se restringiam aos procedimentos lógicos de confirmação ou falseamento, pois traziam o contexto histórico e social. Elas rejeitam o fundacionalismo trazido pelos dados da observação e passam a focar na teoria, embora tanto a “visão recebida” como as teorias globalistas desprezassem a prática experimental.

O expoente é Kuhn com o “paradigma”, quer dizer, as crenças e valores dos cientistas e o modelo de sua atividade ficam vigentes enquanto tratam dos problemas de determinada visão de mundo, até que entram em crise e uma revolução estabelece um novo paradigma. Nesse sentido, mais do que uma acomodação aos fatos do mundo, vale resolver os problemas.

Lakatos apresenta o “programa de pesquisa”, trazendo elementos de Popper e Kuhn, em que teorias se filiam a uma tradição com um núcleo duro, cujo sucesso depende de fazer previsões novas, mesmo explicando menos fatos[iii]. Já Feyerabend vê a ciência como anarquia, onde “Tudo Vale!”: vale mais persuasão, criatividade individual do que racionalidade.

Nova Sociologia e Relativismo.

Sociologia do conhecimento marxista com Mannheim e escola de Frankfurt com três pontos: inclusão do conteúdo científico, rompendo a distinção entre social e científico; preocupação internalista de como o conteúdo da ciência é construído; análise linguística do significado no discurso científico. Essa sociologia traz do globalismo uma noção de negociação de consenso, com a concepção de que a visão científica depende do contexto social do observador e de que pode haver mais de uma teoria sobre determinados fatos.

Começa com Fleck, sob a influência de Kuhn, passando pela cienciometria dos índices das citações científicas entre outras. Dentre as abordagens, Pessoa destaca o relativismo epistêmico em oposição à crença verdadeira justificada chegando à influência social na cognição humana e interesse de grupos; a abordagem do construtivismo que se vale mais da descrição do processo científico que de sua explicação; e o estudo das práticas de laboratório com Latour & Woolgar onde há construção social em cima dos fatos científicos.



[i] Filosofia & Sociologia da Ciência, Osvaldo Pessoa Jr. Acesso em 15/02/2021: http://opessoa.fflch.usp.br/sites/opessoa.fflch.usp.br/files/Soc1.pdfAula ministrada na disciplina de HG-022 Epistemologia das Ciências Sociais do curso de Ciências Sociais da Unicamp a convite da profa. Fátima Évora. 

[iii] Há também a “tradição de pesquisa” de Laudan, mais focada na resolução de problemas, como Kuhn. 

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