terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Behaviorismo de Skinner[i]

Trata de pontos da diferença entre o behaviorismo metodológico de Watson e o behaviorismo radical de Skinner, dentro da concepção de comportamento na psicologia.

Behaviorismo metodológico. Embora o behaviorismo já tenha saído de pauta, conforme afirma Teixeira, é importante seu conhecimento pois a ele se oporá o cognitivismo. Portanto, de acordo com a psicologia popular[ii] e o behaviorismo metodológico, o comportamento é identificado como um “movimento muscular observável”. Essa é a visão de Watson, baseada no estímulo-resposta que retira a mente do discurso científico objetivo e experimental, bem como o vocabulário mentalista oriundo da introspecção e consciência.

Teixeira nota que, paradoxalmente, tal concepção o aproxima de Descartes, na medida em que separa e não estuda a mente. Na perspectiva do behaviorismo metodológico, o estudo de comportamento dos humanos se aproxima dos animais, embora reconhecendo o papel da linguagem ou da imaginação, mas pautando o estudo sensório-motor, estudo do comportamento em termos de reflexos, mesmo nem todos os comportamentos produzindo estímulos.

Crítica de Ryle. Teixeira traz as críticas de Ryle, através de situações onde, por uma observação apenas fenomenalista, não se consegue distinguir entre comportamentos involuntários, deliberados ou mesmo algum tipo de imitação ou fingimento. Segundo Ryle, isso só seria possível pela interpretação, pois somente pelo movimento muscular não se poderia conhecer o comportamento exato. Para Ryle, é preciso uma linguagem mentalista e atribuição de crenças e intenções a alguém, ou seja, o mental não se reduz ao comportamento.

Behaviorismo radical. Já Skinner considera estados mentais, embora sem causa operante. Em seu behaviorismo radical, o comportamento operante pode não ser observável e não se reduz a causa e efeito[iii]. Ou seja, o comportamento operante não requer estímulo identificável, mas sua resposta produz um efeito no ambiente em que o organismo está inserido, mas que pode ser pautada por um estímulo discriminativo que pode ser inferido. Nesse caso, não há respostas idênticas, mas classes de estímulos e respostas genéricas e eventos reforçadores (consequências) responsáveis pelo condicionamento.

Interpretação. De acordo com Teixeira, Skinner rompe a barreira mecanicista do estímulo-resposta e, em seu behaviorismo radical, as frequências de respostas e reforços trazem a probabilidade, que vai além do tudo ou nada, e o comportamento supera o que é dado somente na percepção. Ao rejeitar a associação entre comportamento e movimento muscular perceptível, Skinner diz que “uma ciência do comportamento só pode oferecer uma interpretação”. Com essa ideia teórica, Skinner se afasta do empirismo e do neopositivismo extremamente fisicalista. Conforme Teixeira: “Não há observação do comportamento que não seja simultaneamente interpretação.”.

Assim, Skinner abre as portas para o estudo de fenômenos mentais inobserváveis, tratados como um comportamento encoberto. Seu behaviorismo é radical porque trata da psique, mesmo que aproximando a consciência da linguagem, mas fechando a porta ao dualismo. E segundo Teixeira, há um resíduo mental que não pode ser eliminado na descrição do comportamento humano, que se aproxima da interpretação tratada por Skinner. Isso porque, na visão fisicalista de Watson, não há lugar para o sentido e atinge-se o limite da psicologia experimental. Já com a proposta de Skinner, podemos suplantar os aspectos empíricos do comportamento e tratar dos aspectos funcionais.

Não Reducionismo. Teixeira também ressalta que os neopositivistas e behavioristas radicais leram Skinner erradamente, baseados na concepção da psicologia popular que visava o discurso fisicalista defendido por Carnap. Skinner só era antimentalista sendo anticartesianista e, nesse caso, concordaria com a visão de Fodor que compatibiliza mentalismo e materialismo.

No behaviorismo radical, não se pode reduzir a intencionalidade ao comportamento observável nem a ele filiar o neopositivismo, que seria herança do behaviorismo metodológico, linha essa que parece ganhar força com a neurociência cognitiva, a partir da busca de estímulos cerebrais. Contudo, nem a neurociência poderá escapar das retroações que o comportamento estabelece com o meio ambiente ou com a interpretação que um estudioso de uma imagem faz do que supostamente está ocorrendo no cérebro e estaria associado a determinado comportamento.



[i] Conforme TEIXEIRA, J. de F. Mente e comportamento, acessado em 06/02/2021 na Aurora Journal of Philosophy. Link: https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/2209

[iii] O de Watson é um comportamento reflexo ou respondente.

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