Trata-se de supor a existência
de crenças e desejos, algo negado pela ciência materialista que não os define
como entidades físicas e materiais e, portanto, relega-os uma existência mística
ou metafísica.
A
PP não é uma teoria [proposicional], mas baseia-se no background, ou seja, na
nossa experiência. Entretanto, as teorias populares são verdadeiras em sua
maioria, de outra forma a humanidade não teria sobrevivido. Se a física popular
pode se enganar sobre a origem do universo, por exemplo, isso não é verdade
para o movimento dos corpos em geral, pois sabemos o que ocorre com nosso corpo
ao pularmos de um penhasco.
Dito
isto, a PP não postula crenças e desejos que deveriam ser validados
pelas ciências cognitivas. Crenças e desejos são experimentados conscientemente,
por exemplo, minha vontade de tomar água agora. Além do mais, não é uma conditio sine qua non que crenças e
desejos causem ações invariavelmente, visto que ainda não acertei na loteria.
Mas
por que reduzir as entidades da PP a entidades básicas das CC? A redução de crenças
e desejos à neurobiologia é irrelevante para a existência das crenças e desejos
já que a existência dos fenômenos é anterior à teoria. Além do mais, a
redutibilidade não garante legitimidade às entidades, embora tenha sido uma exigência
incompreensível para a ontologia.
Por
fim, parece difícil refutar possíveis proposições da PP, como:
1. Em
geral, crenças podem ser verdadeiras ou falsas.
2. Às
vezes as pessoas ficam com fome e, quando estão com fome, frequentemente querem
comer algo.
3. As
dores são muitas vezes desagradáveis. Por esta razão, as pessoas frequentemente
tentam evitá-las.
Tratam-se,
na verdade, de princípios das crenças e desejos, ou seja, fazem parte de suas
definições. Um exemplo clássico é o engano que o bom senso atribui a uma dor
sentida no pé. Verificou-se que a dor se dá de fato no cérebro, mas isso não
torna a dor inexistente. Isso não autoriza sua eliminação. Significa apenas que
o senso comum é complementado pelo conhecimento científico adicional.
* Conforme: SEARLE, J. A
redescoberta da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Apêndice p. 87: Há algum problema com a Psicologia Popular?
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