segunda-feira, 27 de abril de 2020

Introdução à intencionalidade em Searle[i]

Na sua teoria da mente, como já vimos nesse espaço, Searle nega tanto dualismo como monismo alegando a influência cartesiana anacrônica em ambas as visões e propondo uma abordagem que trate a consciência, ao mesmo tempo irredutível, como fenômeno biológico natural. Entretanto esse fenômeno se naturaliza pelo fisicalismo reduzindo o mental a processos físicos, depreciando o estudo da consciência e não levando em conta o aspecto subjetivo.
Nesse sentido, há uma profunda divergência entre Searle e Dennett no tratamento da mente conforme o “senso comum”, pois “para Dennett há uma extravagância metafísica na ontologia subjetiva de Searle”. Dennett trabalha com a visão objetiva de ciência na qual o tratamento da consciência não se enquadra, pois não permite verificação “de terceiros”.
Por seu lado, para Searle a mente é um objeto existente e deve ser investigada cientificamente, pois que pessoas sintam dores, por exemplo, é um fato objetivo, embora ontologicamente subjetivo e deveríamos buscar uma explicação neurobiológica da causação dos estados conscientes pelos processos cerebrais.
Em Searle opera papel fundamental a intencionalidade, produto biológico evolutivo, que faz com que nos conectemos com o mundo através de estados intencionais com certas caraterísticas: veracidade (o objeto deve existir), direção (mente-mundo; mundo-mente), um determinado conteúdo e o modo psicológico: uma crença, desejo, etc.
Duas são as formas biológicas mais básicas de intencionalidade: o ato perceptivo, que traz consigo um “background” de significados com que nos relacionamos com os objetos e a ação intencional, que é a condição de satisfação de uma intenção, seja uma intenção prévia e as não-intencionais, porém com intenção em ação e que até possa resultar em acidentes.
Tanto na percepção, como na ação, há uma relação causal não como lei universal, mas relação lógica de causação intencional onde o conteúdo intencional é satisfeito. Além disso, não há teoria da intencionalidade sem o background de crenças, desejos e demais estados psicológicos, ou seja, “conjunto de capacidades mentais não-representacionais que permite a ocorrência de toda representação”. Portanto, o background é o elo de nossa parte subjetiva com os fatores externos de estímulo.
Embora a posição de Searle possa equivaler a um realismo ingênuo, acredita-se que a neurociência abrirá caminhos para o estudo dos aspectos empíricos da consciência e não haveria contradição entre uma abordagem de senso comum e a ciência. Para Searle, vencer o vocabulário tradicional é pode tratar da mente e não separá-la. É tratar cérebro e mente como duas coisas distintas, porém físicas.



[i] Fichamento de “Subjetividade e intencionalidade: Searle crítico de Dennett”, acessado no endereço:  https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/pauloejonas.pdf, em 24/04/2020.

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