Trata-se de mostrar a
contribuição metodológica de Dennett pelo aspecto evolutivo, utilizando-se de
Darwin, porém com as limitações do aspecto intencional. De toda forma, abre-se
uma perspectiva explicativa para nos tirar da zona de conforto do dogmatismo de
acreditarmos que somos seres superiores.
Introdução.
Gildeon localiza o funcionalismo como uma teoria fiscalista não reducionista,
ou seja, fisicalismo que, entretanto, aceita a irredutibilidade do mental ao
físico, mas não como sendo um dualismo de substância e sim tratando os estados
mentais como propriedades físicas[ii]. No
funcionalismo os estados mentais executam funções que não são idênticas ao cérebro e, dessa forma, se alinha ao uso de
inteligência artificial equiparando corpo e mente a hardware e software e
abrindo caminho para a realização de estados mentais em robôs.
Gildeon
classifica Daniel Dennett como um funcionalista materialista, pois considera a
função uma mera abstração e também naturalista, pois trata o mental como produto
da evolução e então aborda os primeiros capítulos da obra Tipos de Mentes[iii].
A partir de Wrigley[iv],
Gildeon ressalta dois problemas materialistas que são tratados por Dennett: consciência
e intencionalidade. Sobre a consciência, Dennett ressalta o papel fundamental da
linguagem como elemento responsável por nossa ação, capacidade exclusiva humana
e alcançada pela evolução. Sobre a intencionalidade, como evento físico no cérebro
representando estados externos, Dennett aponta que isso também ocorre em
animais mais primitivos que, ao representarem o ambiente em que estão
inseridos, guiam suas ações de sobrevivência[v].
Outro
ponto que Gildeon destaca é a rejeição de Dennett ao hard problem, elaborado por Chalmers[vi],
já que para Dennett não há estado subjetivo independente e ele considera o “eu”
uma ficção, como a gravidade na física, abrindo espaço para a análise da mente
a partir da terceira pessoa, como ciência.
A perspectiva evolutiva.
O primeiro alerta de Dennett, segundo Gildeon, é o de procurar abordagens que transponham
as tradições superando os mistérios da mente por uma metodologia um pouco
tateante no ir e vir da mente humana e de outros animais numa perspectiva
evolutiva que não se da em linha reta. Em busca dessas diferenças, há questões
de natureza ontológica “Que tipos de mentes existem?” e epistemológica “Como
sabemos?”, porém evitando a tradição que parte da nossa capacidade de conhecer as realidades
existentes (ressalta-se a oposição conhecer e ser).
Embora
sabendo da dificuldade em se conhecer a mente, é preciso desassociá-la do
incognoscível, afinal sabemos que temos uma mente e um cérebro, mas não os
conhecemos do mesmo modo, já que a primeira conhecemos internamente, entretanto
não caímos no solipsismo porque sabemos que os outros homens também têm a sua
mente. Para Dennett, conforme Gildeon,
sabemos que temos uma mente principalmente pelo pronome “você” e pela linguagem
que permite compartilhar nosso mundo subjetivo, embora seres sem linguagem ou
fala também possam ter uma mente (ausência de fala não é ausência de mente).
Comparando
a linguagem à impressora de um computador, Dennett argumenta que ele pode existir
sem ela, ou mesmo realizar coisas sem pensar, inconscientemente. Ou seja,
aquelas criaturas sem linguagem poderiam realizar as coisas automaticamente,
como nós, reduzindo nossa fronteira para com eles. De modo a fugir de questões insolúveis,
Dennett propõe o esforço investigativo frente à mera imaginação, baseado em hipóteses
como saber se a linguagem é de fato periférica ou se há mesmo criaturas com uma
mente. Dennett aponta para a investigação histórica de que evoluímos de seres
com mentes mais simples ou sem mente, como caminho para obter respostas. E na
atitude interpretativa da mente, no seu aspecto intencional.
A postura intencional.
Dennett trata a postura intencional como um comportamento que governa as ações
se baseando em crenças e desejos, aproximando-se da “psicologia popular”.
Dennett visa a postura intencional a outros seres, no sentido de uma
antropomorfização que conduza descoberta de diferenças para com os nossos
ancestrais e demais espécies. Assim o fenômeno da mente leva a uma
ancestralidade comum.
Citando
o exemplo de um vírus que toma inúmeras ações automáticas e detalhadas para se
reproduzir, Dennett busca mostrar, segundo Gildeon, que há uma predição das
ações e movimentos dessa entidade, mesmo que não consciente de razões, porém
como um agente de ação, não passivo.
Dennett
estabelece uma hierarquia de estratégias de predição, primeiro uma postura
física, baseada em leis que guiam o movimento dos corpos, depois a postura de
planejamento, quando algo é planejado para funcionar de determinado modo, como
o avião, por exemplo, mas que pode ter sido mal projetado e não funcionar
corretamente. Por fim, a postura intencional que, além de planejada, ainda
seguiria pela busca do próprio bem (no caso do vírus, buscando sobreviver).
Sobre a racionalidade e a busca do próprio bem se configura a função como
respostas certas a evolução natural. Então, utiliza-se a postura intencional
para se verificar qual poderia ser a escolha racional de agentes supostamente
inteligentes para satisfazer suas necessidades. Aqui o alerta e limitação de não se imputar atributos enganosos às entidades investigadas.
Gildeon
finaliza com a distinção do uso da intencionalidade nesse contexto, não como
voluntariedade, mas no sentido de destinar-se a algo em um modelo chave e
fechadura. Mesmo que “involuntária e automaticamente”. E, sobre a metodologia, Gildeon ser pergunta se essa metodologia harmoniosa "evolução intenção" se aplicaria além dos limites do funcionalismo.
[i] Conforme “Daniel Dennett: uma
perspectiva evolutiva da mente”. De Gildeon Oliveira do Vale, acessado em http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bauman/article/view/9507, 11/04/2020. Cadernos Zygmunt
Bauman, Universidade Federal do Maranhão.
[ii] Referência a VIANA, Wellistony
C. “Hans Jonas e a filosofia da mente”.
[iii] DENNETT, Daniel. Tipos de mentes
– rumo a uma compreensão da consciência. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
[iv] WRIGLEY, Michael, O seu tataravô
era um robô, FSP, 11 de julho de 1998. Em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1998/7/11/caderno_especial/10.html., acessado em 12 de abril de
2020.
[v] Importante ponto ressaltado por
Wrigley é a diferença de abordagem da intencionalidade entre Searle, que
considera haver mais de uma e Dennett considerando apenas uma.
[vi] Abordamos o hard problem aqui: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/05/a-informacao-como-lei-da-consciencia.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário