Uma
das questões em filosofia da mente[i],
talvez um pouco abstrata em certo sentido[ii], é
o tratamento da mente como um “algo” ou independente disso. Poderíamos usar uma
figura de linguagem: se a mente for algo, temos uma mente gorda, negando-se que
haja uma mente ou se o seu conteúdo material não tiver um papel preponderante ou relevante, tal
mente é magra.
Mais
do que isso, obviamente, uma mente gorda é substancialista, uma mente magra é
funcionalista. Indo direto ao ponto: uma teoria substancialista em filosofia da
mente versa que a mente, no limite, é algo essencial dentro de uma célula. Para
uma teoria funcionalista a mente não é esse algo, mas pode ser uma relação.
A
mente gorda tem um aspecto qualitativo e subjetivo, algo que não pode ser observado
externamente. O mentalismo é uma teoria da mente gorda. Há uma mente magra
quando podemos verificá-la pelo comportamento externo, quando a natureza da
mente se esgota em sua aparência[iii].
O comportamentalismo filosófico é uma teoria da mente magra.
Então,
a mente gorda tem algo dentro, a mente magra não tem nada dentro (que importa?).
O
fato da mente gorda dificulta a investigação científica e gera diversos
problemas, por exemplo, o citado por Thomas Nagel: “what is like to be a bat” e
no limite da crítica chegar ao argumento solipsista: só se conhece uma consciência
quem a tem, só quem tem a dor a sente, etc.
O
fato da mente magra é a falta de explicação dos aspectos qualitativos e
subjetivos. Especificamente o fato de, em determinadas circunstâncias uma
alteração mental [qualitativa] não resultar em alteração de comportamento. Podemos nos referir ao experimento de Fodor da troca do filtro vermelho pelo verde. Temos uma
outra sensação nessa troca, que o funcionalismo não explica.
Por
fim a pergunta: uma máquina pode ter consciência?[iv]
Se ela não pode, é claramente porque uma mente é gorda, se ela pode é porque a
mente é magra e pode ser feita de silício, sinteticamente, etc. e se abre o campo da inteligência robótica, do simulador de cérebros, entre outros.
[i] Conforme http://opessoa.fflch.usp.br/sites/opessoa.fflch.usp.br/files/TCFC3-18-Cap01.pdf,
primeiro capítulo de Osvaldo Pessoa, acessado em 09/05/2020.
[ii] Abstrata com relação ao tópico
do segundo capítulo que trata de fisicalismo. Aqui investigamos uma possibilidade de substrato material. Lá nos parece um assunto mais “concreto” porque investigamos o substrato material (ou imaterial).
Ver: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/03/da-para-desatar-o-no-do-mundo.html.
[iii] Searle considera que uma
característica da mente é a aparência, embora ele não seja um comportamentalista,
já que dissocia mente de comportamento, conforme: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/02/haveria-independencia-entre-mente-e-o.html.
... "Na verdade, é uma característica geral de tais reduções que o fenômeno seja definido em termos da "realidade" e não da "aparência". Mas não podemos fazer esse tipo de distinção aparência-realidade para a consciência, porque consciência consiste nas próprias aparências.
ResponderExcluirSEARLE, J. A redescoberta da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2006. P. 176.