terça-feira, 30 de setembro de 2025

Homeomerias

Verifica se a neve é preta[i]

Resumo: O texto aborda as ideias filosóficas de Anaxágoras, um filósofo pré-socrático que influenciou Sócrates. Anaxágoras é conhecido por sua teoria de que todas as matérias contêm sementes de todas as outras matérias, e que a matéria pode ser dividida infinitamente (tudo está em tudo). Ele também introduziu o conceito de "nous" (espírito), que é a única substância pura e responsável pelo movimento e organização do universo.

<<O tempo estimado para leitura é de ~ 6 minutos e vale a pena pois oferece a visão inovadora de Anaxágoras sobre a matéria e o espírito>>

Anaxágoras, que passou pela Grécia no chamado século de ouro[ii] e foi acusado de impiedade[iii], é conhecido por ter levado a filosofia para Atenas e influenciado Sócrates. Ele é um dos filósofos da natureza (filósofos físicos) e se pergunta como a carne pode vir da não carne, isto é, do pão. Ora, somos feitos de carne e ossos, mas não comemos carne e ossos, comemos pão e bebemos água. A partir disso, ele acreditava que um elemento não pode ser transformado em outro, então nos alimentos deveria haver partes que produzem sangue e tendões, por exemplo.

Para ele, em cada porção de matéria, seja pão ou ferro, haveria pequenas sementes de todas as outras matérias, pedacinhos pequenos de carne, osso, ferro, sangue e assim por diante. E isso, para ele, era uma necessidade lógica. Havia infinitas coisas e infinitamente minúsculas em cada matéria, por menor que fosse ainda haveria infinitas partículas. Tudo infinitamente misturado e indistinto, todas as coisas contidas em tudo. Assim, não há vazio, há um todo pleno, mas misturado, já que em uma mínima partícula de ferro haveria infinitas incontáveis partículas de tudo[iv].

Dessa maneira, Anaxágoras rompe com o pensamento de haver um, dois ou quatro elementos, vigente na época[v]. Os elementos de Empédocles, conforme citação de Aristóteles em “Do Céu”, ar ou fogo, já seriam uma combinação de partículas que o estagirita chamou de homeomerias[vi], coisas homogêneas em si[vii]. Importa ressaltar, como Fontes nos lembra, que hoje sabemos que há em torno de cem elementos na natureza (os elementos químicos), isto é, nem tão pouco e nem infinitos.

Na discussão da época, Demócrito e Leucipo pensavam que um objeto seria dividido até o ponto do átomo porque o ser deveria ser indivisível, já Anaxágoras planteou que a matéria poderia ser dividida infinitamente. De outro lado, também não há limite de grandeza. E a matéria sempre permanece quando um corpo nasce ou morre: nada se cria ou se perde, ao contrário, se une ou se separa (conforme nota 4).

Porém, há um princípio movente, o espírito que existe sozinho, de per si. A única coisa pura, o nous, é um tipo de matéria que não se mistura e, assim, age de modo livre e dirige a vida. O nous é sutil e beira o imaterial, ele tudo permeia. Foi ele que deu o impulso inicial, como um turbilhão, movimento rotatório que vai movendo e expandindo e notamos aqui, como ressalta Fontes, a base física [dos filósofos físicos] da cosmologia de Anaxágoras. O espírito faz a matéria se mover de forma rotatória, circular e que tem a capacidade de continuar indefinidamente, aí até chegar na revolução dos astros[viii].

Diferentemente, então, das outras substâncias nas quais tudo está misturado (homeomerias), mas uma coisa se destaca por exemplo, no algodão há mais predominância de algodão, o espírito é todo igual. E é eterno, presente em tudo e transformando tudo. Segundo a interpretação de Teofrasto, haveria apenas dois primeiros princípios presentes na visão de Anaxágoras: a substância do infinito e o Espírito. Um dualista: matéria misturada [passiva] e o princípio movente indistinto.

Para Aristóteles, na Física, a visão infinita de Anaxágoras adviria de que nada nasce do não-ser, as coisas nascem a partir de mudanças qualitativas; de um contrário provem o outro sem mudar em si, apenas “mostrando outra face”, poderíamos dizer. Essa é uma visão física que se aproxima da de Parmênides, na medida que nega o não-ser, as coisas nascem do que já existe, coisas muito pequenas que nos são imperceptíveis, mas cada coisa já contém tudo, tudo já está lá. Fontes cita uma crítica jocosa de que, para Anaxágoras, a neve até poderia ser preta, porque todas as cores estariam presentes em todas as coisas, embora o branco se destaque (tudo em tudo e nada vem do nada).

Fontes nos lembra uma crítica socrática, também, de que o espírito em Anaxágoras não é um princípio inteligente porque ele age somente no início fazendo com que as coisas se separem e se consolidem: a terra se solidifica, a água se separa das nuvens, mas de forma “cega”, sem um princípio racional. O espírito, assim como a matéria, é infinito e poderia haver outros lugares como o nosso, que tenham sofrido o mesmo processo de separação, que tenham um sol, uma lua e pessoas vivendo do modo como vivemos[ix].

Por outro lado, ele acreditava que a terra era plana, já que a ideia pitagórica de que a terra é redonda ainda não tinha sido difundida. Ela flutuaria no ar, infinito, que a seguraria. Anaxágoras enfatiza o ar e o éter, que circundam o mundo[x]. Há teorizações sobre as estrelas, eclipse e outras proposições como os animais tendo surgido da umidade, ainda arcaicas dado o desenvolvimento embrionário da ciência, mas já próximas do que postula o conhecimento científico atual. Por fim, fontes ressalta que os pré-socráticos são considerados dogmáticos porque afirmam suas ideias e, nesse sentido, são pouco influenciados pelo ceticismo, embora Anaxágoras já tenha produzido uma teoria da percepção e deficiência dos sentidos.



[i] Fichamento-resumo de Anaxágoras – Espírito e Matéria: https://www.youtube.com/watch?v=FhhKDAiv4jk, canal Filosofia Clássica. Vale ver a aula para conferir as citações e sua parte visual – professor Fabrício Fontes - https://www.escavador.com/sobre/4764661/fabricio-soares-santos-fontes.

[ii] Atenas do século V, entre 480 e 404 a.C., ficou conhecida como a Era de Ouro de Atenas, sendo a última parte a Era de Péricles, foi impulsionada pela hegemonia política, crescimento econômico e florescimento cultural.

[iii] Por ter negado a divindade do Sol, pois o via como uma pedra incandescente.

[iv] A única resposta logicamente satisfatória para ele era: o pão já deveria conter sementes (ou "homeomerias") de carne, osso e sangue em quantidades muito pequenas. O processo de nutrição e crescimento seria apenas o isolamento e a organização dessas sementes que já estavam lá. Em essência, ele resolveu o problema da mudança: a mudança não é a criação de algo novo do nada, mas sim a reorganização de elementos que já existiam na mistura. (Gemini https://g.co/gemini/share/d8f7d7fd858b)

[v] Ruptura com a Tradição Elementar. Anaxágoras é classificado como um filósofo pluralista, e sua ruptura se deu contra as escolas monistas (Um Elemento): Filósofos como Tales (água), Anaxímenes (ar) e Heráclito (fogo) buscavam a Arché (princípio originário) em um único elemento e dualistas/pluralistas Limitados (Dois ou Quatro Elementos): Empédocles, por exemplo, estabeleceu os famosos quatro elementos (terra, água, ar e fogo) como os princípios básicos imutáveis da realidade. Anaxágoras, ao postular que a matéria não se resume a quatro elementos, mas sim a uma infinidade de sementes com diferentes qualidades (haveria sementes de ouro, sementes de pedra, sementes de carne, e assim por diante), introduziu um grau de pluralismo qualitativo muito mais radical. Para ele, os elementos de Empédocles eram apenas substâncias complexas e perceptíveis, e não os verdadeiros constituintes últimos e eternos da realidade. (Gemini https://g.co/gemini/share/d8f7d7fd858b)

[vi] Anaxágoras chamava essas substâncias de sementes ou espermata.

[vii] Uma homeomeria (omoioméreia) é toda parte elementar igual ao conjunto que com outras partes conforma, em onde o todo composto pelas partes é similar às partes mais elementares e indivisíveis da matéria (https://pt.wikipedia.org/wiki/Homeomeria).

[viii] Cabe ressaltar que esse movimento rotatório se expande indefinidamente e, através da força centrífuga, começa a separar e ordenar a matéria. Onde antes havia apenas a mistura, agora a matéria mais densa e pesada é jogada para o centro (formando a Terra), e a mais sutil e leve é expelida para a periferia (formando o ar, o éter e os astros). (Gemini https://g.co/gemini/share/d8f7d7fd858b)

[ix] A possibilidade de outros lugares iguais ao nosso também estaria presente na teoria de Anaximandro, conforme o autor.

[x] Ar e éter remetem diretamente à forma como Anaxágoras descreveu o resultado do grande turbilhão cósmico iniciado pelo Nous. Em sua cosmogonia, o ar e o éter surgem como as substâncias que foram separadas da mistura primordial: a Matéria Pesada (Terra): durante o movimento rotatório, a matéria densa e úmida foi forçada para o centro, resultando na formação da Terra. O Ar e o Éter, matérias mais leves e sutis (que eram originalmente "quentes, secos, brilhantes e tênues") foram expelidas para a periferia pelo movimento giratório. Essa matéria leve deu origem ao Ar (a camada mais próxima da Terra) a ao Éter (a camada mais externa e rarefeita, onde os corpos celestes se formaram). Para Anaxágoras, os astros (como o Sol e a Lua) eram pedras incandescentes que foram arrancadas da Terra e, graças ao movimento acelerado do éter, foram arremessadas para o espaço. O calor dos astros vinha da velocidade do movimento e da fricção com o éter. Portanto, o ar e o éter são elementos cruciais na física de Anaxágoras, pois representam as porções mais leves e quentes da matéria que foram separadas para formar o cosmos ordenado. Gemini https://g.co/gemini/share/d8f7d7fd858b)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Aspectos de Lógica Elementar - parte 1

Aspectos de Lógica Elementar[i]

Resumo. Esse texto condensa aspectos fundamentais de lógica a partir de um resumo de um manual de lógica, o manual de Desidério e o resumo de Polónio. A lógica analisa os raciocínios, coisa típica do ser humano, coisa que usamos no dia a dia. Mas não se fala só de lógica porque aqui estamos em um espaço de reflexões filosóficas[ii].

Capítulo 1: Lógica. Polónio inicia sua análise da obra de Desidério abordando o raciocínio como “tentativa” de provar uma conclusão baseando-se em premissas. Grande parte do nosso conhecimento é obtido raciocinando-se em busca da verdade sem querer convencer alguém. Por outro lado, quando ser raciocina por meio de argumentos, primeiro visamos persuadir alguém a aceitar uma conclusão já estabelecida[iii]. Um raciocínio é composto por frases articuladas, entidades físicas que, quando usadas para asserir, são declarativas e têm valor de verdade; caso contrário são absurdas, um mero jogo de palavras. Na filosofia, o conteúdo de uma frase declarativa é chamado, embora não consensualmente, de proposição.

Um ponto de atenção, é que os raciocínios estão embutidos em discursos – há que procurá-los, verificando-se o que desempenha papel inferencial, os chamados indicadores de inferência. Por exemplo: os indicadores “logo” e “portanto” podem indicar uma conclusão enquanto que “porque” e “dado que” normalmente indicam premissas. Ocorre que há um trabalho interpretativo nessa busca já que esses indicadores podem não ser evidentes, e precisamos encontrar as premissas e conclusões para que possamos representar a expressão canônica do raciocínio, eliminando o que for dispensável ou ressaltando o que está oculto, para decidirmos se ele é bom, ou seja, cogente[iv].

Raciocínios cogentes têm validade, conceito fundacional da lógica, que significa que têm valor, isto é, a conclusão não é falsa se conhecemos as condições de verdade das premissas e sabemos que são verdadeiras[v]. Importa, mais do que saber se uma frase isolada do raciocínio tem uma verdade atual, saber as condições de verdade das premissas para que não se tenha conclusão falsa. Citando: “A validade é o que permite descobrir o que antes não se sabia com base no que se sabia”. Porém, mais do que isso, um raciocínio cogente envolve a articulação das frases, não só a verdade de cada uma delas, isto é, só ter premissas verdadeiras não é suficiente.

Para evitar que um raciocínio seja circular, então, as premissas devem ser mais plausíveis do que a conclusão. Mas, plausibilidade envolve vários fatores, já que é um juízo de probabilidade com base no contexto e informações de fundo e traz a dificuldade de se chegar a um consenso. Segundo ponto e fundamental: deve ser plausível para o interlocutor e isso envolve conhecer o que é relevante para ele e tentar provar uma conclusão que seja válida, mesmo que inicialmente não aceita por ele. Isso é persuasão e se funda em premissas que, bem plausíveis, levam inevitavelmente à conclusão.

Capítulo 2: Verofuncionalidade. Raciocínios têm uma estrutura de frases que lhe são comuns e que explicitam sua forma lógica e ela deve ser suficiente para indicar se ele é válido ou não. A lógica clássica é, assim, uma lógica formal e ela se inicia com a lógica proposicional que Desidério prefere que seja chamada de lógica verofuncional já que proposição é uma noção em disputa; e depois continua com a lógica quantificada. A lógica verofuncional se limita a validar raciocínios cujas condições de validade se dão por cinco operadores de formação de frases, ou conectivas, que são a negação (operador unário), conjunção, disjunção, condicional e bicondicional (equivalência).

Polónio destaca um ponto que Desidério chama a atenção: se os indicadores de inferência permitem formar frases a partir de frases, o papel semântico das conectivas é o de formar raciocínios, encadeamento de frases, cujo valor de verdade se determina exclusivamente pelo valor de verdade delas, que podem ser analisados por tabelas de verdade[vi]. Então, os operadores funcionam como funções matemáticas cujos valores de saída (no caso, valores de verdade) são determinados pelos valores de entrada. E esses cinco operadores verofuncionais são poderosos porque se aplicação não somente a frases binárias, com dois componentes, mas a ternárias e assim por diante.

Para se provar a validade de raciocínios verofuncionais por tabelas de verdade (ou validade), devemos reescrever o raciocínio na forma canônica, conforme dito no capítulo 1, depois as frases elementares com valor de verdade são representadas por letras minúsculas, para daí se construir sequências de tabelas de verdade para as premissas e a conclusão e, por fim, verificar se em alguma linha há conclusão falsa, o que quer dizer que há pelo menos uma premissa falsa; caso contrário, o raciocínio é válido: se todas as premissas são verdadeiras a conclusão também o é. Reverberemos junto com os autores: o exame prova que a conclusão é verdadeira e que podemos, então, tentar descobrir se as premissas são, de fato, verdadeiras e aí a conclusão também será.

Por fim Polónio trata das falácias, raciocínios que parecem cogentes, mas não o são. Ele argumenta que as tabelas de validade são instrumentos certeiros para identificar raciocínios verofuncionais[vii] sem validade, não somente mero exercício extravagante de lógica. Mas, somente a forma lógica não é capaz de provar a validade em casos em que há falta de clareza onde é capaz que nem o próprio autor saiba o que tem em mente[viii].

Capítulo 3: Derivações. A derivação, conforme define Polónio, é um processo de demonstração ou prova formal por regras de inferência, como substituição ou reductio. Por exemplo, podemos ter raciocínios com premissas inconsistentes que são chamados de vacuamente válidos[ix], mas que podem ser bloqueados mudando-se a definição de validade, porém, segundo o autor, seria difícil tratar derivações vácuas com a lógica clássica.

Capítulo 4: Quantificação. A lógica quantificada clássica estende a lógica verofuncional incluindo o raciocínio quantificado, quando se usam predicados, nomes próprios e quantificadores, além dos operadores verofuncionais, mas sem aumentar o poder inferencial. É o quantificador universal “todos” e o quantificador existencial “pelo menos um” que abreviam conjunções e disjunções. Admitindo-se um domínio de quantificação com dois particulares, quando todos têm certa propriedade, um e o outro a tem, quando pelo menos um a tem, um ou outro a tem.

Capítulo 5: Identidade. É o conceito de identidade – relação e que permite formar frases verdadeiras se atribuída ao mesmo particular, que amplia a verofuncionalidade. As frases de identidade têm a forma lógica a = b, como em “Vênus é a Estrela da Manhã”, que é uma identidade numérica e se refere a apenas um particular, mesmo que seja referido por nomes próprios diferentes. Já a identidade qualitativa refere diferentes particulares que partilham várias propriedades como dois átomos de hidrogênio[x].

Se um nome próprio se refere a um particular, ele não o faz por predicados, isso é papel da descrição definida. “Francisco” é um nome próprio que pode se referir a um particular ao passo que “o primeiro Vice-rei da Índia” é uma descrição definida que se refere a um particular usando um atributo (predicado)[xi].

Como a relação de identidade tem as propriedades lógicas de reflexão, simetria e transitividade, Polónio levanta o problema do domínio do vazio que a lógica quantificada clássica trata adequadamente. Já na identidade, a reflexividade (x = x) deixa de ser verdadeira porque, sendo uma afirmação existencial, isto é, do tipo “existe pelo menos um x tal que x=x”, se o domínio é vazio, não há nenhum x para satisfazer a fórmula[xii].

Por fim, Desidério tratará, de acordo com Polónio, da substituição de idênticos que afirma que se a = b, eles podem ser intercambiáveis em qualquer frase mantendo-a válida. É a regra da substituição de idênticos salva veritate, também chamada “princípio da indiscernibilidade de idênticos”[xiii].

Capítulo 6: Árvores. Polónio cita brevemente as árvores de verdade como ferramenta que pode provar tanto a validade quanto a invalidade dos raciocínios, coisa que as derivações não conseguem porque não sabemos se ainda haveria outra derivação a ser descoberta. Elas podem ser aplicadas nas lógicas verofuncional e clássica, além de suportar a regra da substituição de idênticos, embora trabalhe sempre por reductio[xiv].



[i] Resumo de Lógica Elementar: Raciocínio, linguagem e realidade de Desidério Murcho, por Artur Polónio em https://criticanarede.com/logicaelementar.html.

[ii] Capítulo 1: Lógica, Capítulo 2: Verofuncionalidade, Capítulo 3: Derivações, Capítulo 4: Quantificação, Capítulo 5: Identidade, Capítulo 6: Árvores, Capítulo 7: Modalidade, Capítulo 8: Além da linguagem, Apêndice: Lógica aristotélica. Aqui não trataremos dos últimos 3 capítulos: o capítulo 7 trata da lógica modal alética que é uma extensão da lógica clássica e introduz os conceitos de necessidade e possibilidade para analisar como as frases podem ser verdadeiras, distinguindo a verdade contingente da verdade necessária, com o auxílio da linguagem dos mundos possíveis. O capítulo 8 procura mostrar que o raciocínio, seja dedutivo ou indutivo, depende de provas falíveis e exige a busca contínua por erros e novas informações, ajustando crenças à realidade para alcançar o conhecimento. Por fim, o apêndice diz que a lógica aristotélica, embora inovadora e influente por séculos, possui limitações como a dificuldade em lidar com termos vazios e a distinção entre sujeitos e termos sujeitos, o que faz com que seja considerada, hoje, uma investigação de alcance limitado.

[iii] Em suma, enquanto todo argumento é um tipo de raciocínio, nem todo raciocínio é um argumento. A diferença fundamental está na intenção: descobrir a verdade versus persuadir alguém (https://g.co/gemini/share/4d29cd75b525).

[iv] Cogente: adjetivo de dois gêneros. 1. Cuja veracidade satisfaz de maneira total e coerciva o entendimento ou o intelecto (ex.: argumento cogente). 2. Que coage ou constrange. Etimologia: latim cogens, -entis, particípio presente de cogo, -ere, constranger, forçar, restringir. "cogente", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/cogente.

[v] Raciocínios também têm todas as premissas verdadeiras, premissas mais plausíveis do que a conclusão e paridade epistêmica.

[vi] Conforme definição que Polónio traz da citação de Desidério: “Um operador verofuncional pode agora ser definido da seguinte maneira: Um operador de formação de frases é verofuncional se e somente se o valor de verdade da frase que o tenha como operador principal for exclusivamente determinado pelo valor de verdade da frase ou frases sem ele”.

[vii] Há raciocínios dedutivos, do geral ao particular e indutivos, do particular ao geral, por exemplo, conforme O Google.

[viii] No próximo capítulo Polónio enfatizará limitações das tabelas de validade, como quando há mais de quatro frases elementares ou a ausência de um método para, partindo de premissas chegar validamente à conclusão. Seu papel seria de clarificar conceitos como validade e forma lógica.

[ix] Em conversa com o assistente de IA da Google, parece que os raciocínios vacuamente válidos, que ocorrem na lógica proposicional, se fiam na implicação “se P, então Q” P → Q, que só é falsa se quando P é verdadeiro e Q é falso. Se P é falso, por exemplo quando as premissas são inconsistentes ou contraditórias, não importa Q, isto é, a afirmação é sempre verdadeira. É uma implicação material entre P e Q, não uma relação de causa e efeito ou algo que tenha sentido. A matéria, nesse caso, são os valores de verdade e não tem a ver com o significado da relação entre as proposições. É o caso de "Se a Terra é plana, então o céu é verde".

[xi] Conforme Polónio, Russell via as descrições definidas como conjunções existencialmente quantificadas, com uma forma lógica própria. Sobre esse tema já falamos: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2023/06/quem-e-o-homem-no-canto-da-sala-bebendo.html, https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2023/02/descritivismo.html, https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2022/07/fontes-iniciais-da-filosofia-analitica.html.

[xii] Com apoio do Gemini (https://g.co/gemini/share/2db637646756), embora haja possíveis soluções para este problema / paradoxo.

[xiii] Princípio da indiscernibilidade de idênticos: ou “Discernibilidade de Não-Idênticos”? https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2025/04/superparticulares.html.

[xiv] Conforme Gemini (https://g.co/gemini/share/0cb21fa851a0): o método é uma prova por contradição (reductio ad absurdum). Ele não constrói a derivação lógica passo a passo que leva das premissas à conclusão. Em vez disso, ele assume a negação da conclusão e tenta mostrar que essa suposição leva a uma contradição com as premissas. Se uma contradição é encontrada, a negação da conclusão é falsa, o que significa que a conclusão original deve ser verdadeira.

sábado, 6 de setembro de 2025

Sobre viseiras

Como atalhos mentais podem afetar a tomada de decisão[i]

MacKay define heurísticas como sendo alguns atalhos mentais que nosso cérebro desenvolveu para lidar com a enorme quantidade de informações que nos chega e que podem ser caracterizadas como atalhos mentais que fazem com que tomemos decisões através deles nos fazendo crer que estamos agindo com a mente desimpedida quando na verdade deveríamos estar buscando um processo cognitivo mais amplo. Dentre esses atalhos que nos impedem de atingir todo o nosso potencial, o autor destaca alguns vieses cognitivos que vamos examinar.

O viés de confirmação é uma tendência que nossa mente tem de tratar as informações de forma que confirme nossas percepções e crenças pré-existente e não de modo que as negue, e isso faz parte da natureza humana[ii]. Desse modo, parece que somos racionais e não tendenciosos, quando na realidade estamos somente replicando uma rotina sem nos questionar sobre o que estamos fazendo e por quê.

O viés de ancoramento[iii] se fia nas informações que recebemos primeiro, isto é, nossa mente trabalha de forma relativa e não objetiva. Isso pode explicar, por exemplo, o caso de estereotipar as pessoas que conhecemos já que confiamos nas primeiras impressões, ou na âncora que agarra nosso ponto de vista. Isso mostra que a primeira mensagem é sempre muito influenciadora.

O viés de conformidade vai na linha de escolher conforme as massas, mesmo que contra nosso juízo, conforme citação: “O oposto da coragem não é a covardia, é a conformidade. Até um peixe morto consegue seguir junto com o fluxo.”[iv] É o famoso pensamento de manada que suprime opiniões, fazendo com que nos autocensuremos e bloqueemos nossa criatividade individual.

O viés do sobrevivente faz com que olhemos para as pessoas que se sobressaem sem prestar atenção nos que não aparecem. Porém é uma minoria extrema que é bem-sucedida e uma fórmula de sucesso é único, dificilmente replicável.

A aversão à perda aparece depois que já escolhemos um caminho e mostra que evitamos perdas mais do que focamos em ganhos potenciais, isto é, somos avessos ao risco por medo de perder o que já temos.

MacKay conclui ressaltando que os vieses cognitivos são essenciais para o funcionamento do cérebro, mas que os compreender lança luz sobre processos decisórios. E deixa algumas perguntas que tentam nos livrar das viseiras e da conveniência cognitiva: “Por que acredito que é assim ou assado?”; “Quais são os argumentos contrários a minha opinião? Serão eles válidos?”; “Quem está influenciando minhas crenças?”; “Estou seguindo o pensamento do grupo porque realmente acredito nele?”; “O que poderei perder se fizer essa decisão? O que poderei ganhar?”



[i] Conforme https://papodehomem.com.br/os-vieses-cognitivos-que-estao-acabando-com-seu-poder-de-decisao/, acessado em 3 de setembro de 25: “Os vieses cognitivos que estão acabando com seu poder de decisão”.

[ii] Conforme a referência https://explorable.com/confirmation-bias, Confirmation Bias. No processo de descobrir um enigma, insistimos em seguir as nossas regras ao invés de, finalmente, descobrir a regra.

[iii] The weird science behind first impressions: https://thenextweb.com/news/weird-science-first-impressions. Nem todas as nossas decisões são racionais já que, quase sempre, as tomamos rapidamente ou até inconscientemente (cognição rápida). É o fatiamento fino, um conceito do livro Blink de Malcolm Gladwel e que pode ser oriundo de uma série de situações nas quais temos que ficar alertas. É um tipo de atalho mental que faz com que gostemos ou não de algo em segundos, mesmo sem julgamento racional ou consciente, conforme citação de Daniel Kahneman. Somos influenciados pelo que já conhecemos ao invés de nos abrirmos para novos fatos e tendemos a ignorar novas informações sobre as pessoas que estamos conhecendo, reforçando nosso julgamento enviesado. MacKay cita um estudo de Harvard que mostra que somos influenciados por traços faciais quando conhecemos novas pessoas e como é importante nos preparamos para causar uma boa impressão. Por exemplo, há um viés cognitivo causado pelo “efeito halo”, qual seja, parecermos amigáveis em um primeiro encontro faz com que nos abramos para os outros. Por outro lado, saber antecipadamente do que uma pessoa gosta pode nos ajudar a criar conexões ou nos reconectarmos com algum desafeto. Por fim, ser um bom ouvinte pode ajudar a conquistar amizades.

[iv] De Jim Hightower, (https://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Hightower), nascido em 11 de janeiro de 1943 é um colunista sindicalizado americano, ativista político progressista e autor