A
tecnologia é essencialmente capitalista. Não é possível ter certeza de que, sem
capitalismo, haveria tecnologia. Requer esclarecer que não estamos falando de
técnica, seja ela tradicional ou moderna. A questão principal, aqui, não é
industrial e nem econômica, mas, ontológica. Isso porque, se o capitalismo
transforma tudo em mercadoria e, também, visa o excedente, por que excluiríamos
dessa fórmula a técnica que, sob esse ponto de vista, é tecnologia?
Essencialmente,
o problema não é da técnica em si, mas do capitalismo, ou seja, é um problema
de uma época, de nossa época. A
industrialização poderia se dar em qualquer época, talvez, por avanços que,
entre tropeços, abrem caminhos. Mas o capitalismo se expressa em tudo e se apropria
de tudo e o faz, essencialmente, com a tecnologia. É ela, provavelmente no
início do século XX, que potencializa o capitalismo. Mas não é ela o motor do
capitalismo, visto que ele, hoje, vive da especulação financeira.
Porém,
no contexto do capitalismo, a tecnologia herda dele sua forma e se subordina
aos proprietários dos meios de produção. A técnica se move sozinha, enquanto
houver ser humano. A técnica, no capitalismo, é a tecnologia dos donos do
poder, concentrada, dominadora. E eles emprestam aos demais seu acesso e uso.
Mais do que isso, a classe dominadora prescinde do nosso consumo enquanto nós “achamos”
que somos partícipes disso.
Mas,
haveria tecnologia sem capitalismo? Não sabemos, mas poderíamos pensar em uma
variação, uma “tecnicalogia”, que obtemos ao mudar o radical “tecno” por
“técnica”. A contração de técnica em tecno pode ser uma chave fonética para
filiar a tecnologia ao capitalismo, e vice-versa. Já uma tecnicalogia poderia ser considerada o
debruçar-se sobre a técnica, um salto além da técnica visando especificidades
de conforto, inovação, etc., porém sem a primazia da mercadoria e seu filho
preferido: o excedente.
Como
isso não ocorreu e aqui estamos conjeturando, podemos então pensar na
tecnicalogia como uma evolução da tecnologia, em um momento de superação
capitalista. E já poderíamos começar a preparar o terreno recortando nossa
análise da tecnologia a vieses tecnicalógicos, quais sejam, uma análise da
tecnologia despendida de toda a roupagem capitalista, em todos os âmbitos e
tendo como centro principal a atividade técnica e, a reboque, os artefatos,
maquinário e procedimentos. Assim, talvez sejamos capazes de superar a essência
tecnológica atual cada vez menos técnica, senão que tenha se apropriado e
transformado o que entendemos por técnica.
tec: técnica
ResponderExcluirtech: tecnologia
teca: tecnicalogia