terça-feira, 27 de julho de 2021

Essência Tecnológica

A tecnologia é essencialmente capitalista. Não é possível ter certeza de que, sem capitalismo, haveria tecnologia. Requer esclarecer que não estamos falando de técnica, seja ela tradicional ou moderna. A questão principal, aqui, não é industrial e nem econômica, mas, ontológica. Isso porque, se o capitalismo transforma tudo em mercadoria e, também, visa o excedente, por que excluiríamos dessa fórmula a técnica que, sob esse ponto de vista, é tecnologia?

Essencialmente, o problema não é da técnica em si, mas do capitalismo, ou seja, é um problema de uma época, de nossa época.  A industrialização poderia se dar em qualquer época, talvez, por avanços que, entre tropeços, abrem caminhos. Mas o capitalismo se expressa em tudo e se apropria de tudo e o faz, essencialmente, com a tecnologia. É ela, provavelmente no início do século XX, que potencializa o capitalismo. Mas não é ela o motor do capitalismo, visto que ele, hoje, vive da especulação financeira.

Porém, no contexto do capitalismo, a tecnologia herda dele sua forma e se subordina aos proprietários dos meios de produção. A técnica se move sozinha, enquanto houver ser humano. A técnica, no capitalismo, é a tecnologia dos donos do poder, concentrada, dominadora. E eles emprestam aos demais seu acesso e uso. Mais do que isso, a classe dominadora prescinde do nosso consumo enquanto nós “achamos” que somos partícipes disso.

Mas, haveria tecnologia sem capitalismo? Não sabemos, mas poderíamos pensar em uma variação, uma “tecnicalogia”, que obtemos ao mudar o radical “tecno” por “técnica”. A contração de técnica em tecno pode ser uma chave fonética para filiar a tecnologia ao capitalismo, e vice-versa.  Já uma tecnicalogia poderia ser considerada o debruçar-se sobre a técnica, um salto além da técnica visando especificidades de conforto, inovação, etc., porém sem a primazia da mercadoria e seu filho preferido: o excedente.

Como isso não ocorreu e aqui estamos conjeturando, podemos então pensar na tecnicalogia como uma evolução da tecnologia, em um momento de superação capitalista. E já poderíamos começar a preparar o terreno recortando nossa análise da tecnologia a vieses tecnicalógicos, quais sejam, uma análise da tecnologia despendida de toda a roupagem capitalista, em todos os âmbitos e tendo como centro principal a atividade técnica e, a reboque, os artefatos, maquinário e procedimentos. Assim, talvez sejamos capazes de superar a essência tecnológica atual cada vez menos técnica, senão que tenha se apropriado e transformado o que entendemos por técnica.

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