Sobre
uma ciência que não é feita somente de conjeturas, mas comprovada pela experiência[i]
Vargas enumera quatro pontos no pensamento de Galileu
a partir da obra de Miguel Reale (Verdade e Conjetura), a saber: 1) compreende
algo quando ainda não se pode determiná-lo analiticamente, 2) radicação numa experiência
[vivencial] para encontrar uma solução plausível, 3) ideias para ordenar o que
não estava e 4) intenção racional agindo com imaginação para compreender algo.
Porém, se Reale pretende justificar o pensamento metafisico
através da conjetura, Vargas busca as bases da ciência moderna que se interessa
por representações, embora Ortega y Gasset mostre que há um raiz essencialista
como realidade radical[ii] em detrimento dos fatos[iii].
Galileu toma por base da investigação científica a experiência
como critério de verdade, mas vai além do método renascentista da visão direta,
pois a usa (a experiência) “como artifício para ajudar a mente a visualizar o fenômeno
já por ela conjeturado” (citação de Vargas). Tem-se o “primeiro se concebe com
a mente” de Galileu, que demole a evidência da visão direta (terra parada - ptolomaica)
pela concepção da mente (sistema copernicano). Ponto 1, C.Q.D.
Sobre o ponto 2, supera-se a “visão direta” pela
experiência, já contando com o auxílio de instrumentos, o que permitiu a Galileu
ver irregularidades na lua, sobrepujando a visão aristotélica de um céu incorruptível
e um mundo sublunar. Mais além, ao extrapolar a experiência do ponto de vista
do observador em movimento estabeleceu solução plausível: o princípio da
relatividade dos movimentos retilíneos e uniformes.
No mais, foi difícil sua luta contra os argumentos de
autoridade, da Igreja, e árdua pelo seu pensamento conjetural baseado no plano
das ideias (geométrico-platônico) que traduziam a natureza (ponto 3).
Por fim, Vargas traz longas argumentações de Galileu a
partir de suas obras mostrando não somente o método como também suas conclusões.
Interessante ressaltar suas observações nos arsenais venezianos reunindo
tecnologia e ciência, máquina e razão (~1634). Demonstram-se, então, soluções matemáticas
para problemas técnicos e vai constituindo a ciência dos materiais.
Ele conclui ressaltando que a maior contribuição de Galileu
foi o método de investigação científica que acaba por demonstrar muito do que
era contrariado pela evidência, trazendo uma nova verdade. E um pensamento
conjetural que aliou ao pensamento racional da época sua prodigiosa imaginação criadora
e uma ideia de mundo como maquinismo a partir dos princípios da Mecânica
Racional (ponto último).
[i] Conforme A Conjetura no Pensamento
de Galileu – Revista Brasileira de Filosofia Vol. XXXIV – Fasc. 138. Abril.
Maio. Junho. 1985. Capítulo 7 de Vargas, M. (1994). Para uma filosofia da
tecnologia. São Paulo: Alfa Omega.
[ii] O pensamento imagina uma realidade
ideal...
[iii] Nota-se aqui a filiação reiterada
de Vargas a essa tese, já expressada em: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2021/03/girando-em-torno-da-metafisica.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário