Introduz a racionalidade cética perdida nos manuscritos[i]
Há cinco noções fundamentais do ceticismo,
conforme Plínio. A definição ou conceito, os princípios, os logoi
(discursos ou razões céticas), o critério cético para agir no mundo e o objeto
(telos) que o cético persegue, como sendo a tranquilidade nas ações.
Conforme já vimos, a filosofia cética é mais uma habilidade do que uma doutrina, mas
essa definição se limita a uma atividade filosófica da verdade, entretanto o
ceticismo é uma forma de vida sem opiniões[iii].
Os princípios dirão como o cético é levado
à filosofia e o que guia a atividade cética na investigação filosófica. Sobre
as razões, Plínio ressalta que foram pouco notadas pois sua unidade se perdeu
nos manuscritos. Por um lado, a razão nos mostra a forma correta de viver a
vida, por outro que a investigação filosófica correta leva a suspensão do
juízo. Então, de posse dos princípios, os critérios dirão que é possível viver
uma vida convencional mesmo suspendo o juízo e tendo como objetivo a ataraxia
(imperturbabilidade) e moderando as afecções, sendo essa a vida mais feliz que
um ser humano pode ter.
Então, são as razões (a terceira noção)
que fazem a mediação entre a teoria e a prática cética, sendo ela dupla: ação
no mundo e suspensão do juízo, que integram o sistema cético como um todo. É
uma ideia normativa do bem viver e da investigação filosófica que evita o
dogmatismo e orienta a vida cética. Plínio enfatiza que o cético dispõe de uma
argumentação, negando que o discurso cético seja dialético e, nesse sentido,
positivo. Há uma racionalidade própria do ceticismo, que para Sexto é a maneira
correta de raciocinar, e não o que dizem sobre o ceticismo de que a razão deveria combater a razão[iv], se voltando contra si
mesma, já que a razão seria por si dogmática. Por essa opinião, o cético usaria um argumento
temporariamente para mostrar que o dogmático está errado.
Plínio argumenta que há uma positividade
no ceticismo que permite uma investigação correta, mas que não foi bem levada em
conta na visão que se tem do ceticismo. O ceticismo não deixa de ter compromisso
com a racionalidade. Entretanto é uma racionalidade que não se precipita, assim
como o dogmático, mas esse último em algum momento deixa de ser racional ao não
levar em consideração os outros argumentos e objeções. E Plínio considera que
esses raciocínios são fundamentais para a escola cética.
[i] Um fichamento de https://youtu.be/nax9RDg-vko Plínio Junqueira Smith sobre
Sexto Empírico: As características do ceticismo pirrônico. Acessado em 13
de abril de 2024.
[ii] Esboços Pirrônicos.
[iii] Adoxástica, ao contrário da doxa =
opinião. Doxa que se rivaliza com a episteme, conforme algumas coisas já ditas
por aqui: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/search?q=episteme .
[iv] Conforme Montaigne e Hume.
Nenhum comentário:
Postar um comentário