Falaremos sobre a atitude filosófica cética e o
conhecimento do mundo constituído pela linguagem[i]
Vamos admitir que a atitude filosófica se
mede por uma régua cuja escala vai do ceticismo ao dogmatismo. É uma medida
inicial de enquadramento, embora em algum momento as duas atitudes possam se
confundir. Esquematicamente a posição dogmática parece procurar fundamentar suas
posições em cima de verdades que vão sendo adquiridas e admitidas ao passo que
a posição cética prefere manter a dúvida e colocar a verdade como ideal, ou
mesmo possa duvidar que existam verdades.
Ocorre que a posição cética, ao duvidar
das afirmações e das coisas, pode colocar nossa existência em risco. Ora, como
podemos viver duvidando de tudo? A resposta cética parece ser a de uma atitude
filosófica: aceitamos as coisas da vida ordinária e vivemos nos baseando nela,
porém dentro de uma atitude filosófica mantemos a dúvida. Obviamente o
ceticismo é uma escola milenar, mas é o que entendemos até agora de estudos preliminares.
Continuando, se há uma posição dogmática comum que se
filia ao realismo ingênuo, a atitude cética passa a duvidar do conhecimento das
coisas e de suas propriedades[ii]. A posição de Descartes,
iniciada com a dúvida hiperbólica, foi a de postular uma mente que representa o
mundo e, desse modo, acaba caindo em uma posição dogmática[iii]. Porchat, por outro
lado, trata o mundo como um dado da experiência, um conteúdo fenomênico que
tanto pode ser empírico quanto inteligível, dessa forma procurando escapar da
conceituação de uma mente.
Mas, o conteúdo dado pela experiência se
constitui pela linguagem, ele é expresso pela linguagem. Plínio diz que a
linguagem se mistura no fenômeno. Esse é o ponto cético. Por outro lado, o
dogmatismo usa a linguagem para falar sobre o fenômeno. Há um uso expressivo e
um uso afirmativo, revelando uma ambiguidade, conforme ressalta Plínio. Para o
cético, as afirmações se travestem em expressões. Volta-se do “é” para o
“aparece”, do “ser” para o “aparecer”[iv].
O conteúdo da experiência é, com frequência,
expresso na forma de uma afirmação, conforme explica Plínio sobre o pensamento
de Porchat, e essas afirmações não são suspensas, mas aquelas afirmações que
tratam do conteúdo. A linguagem ordinária é útil quando fala de aparências,
fenômenos, dentro de uma atitude cética. Ao contrário do discurso tético[v] que fala de realidades.
[i] Estamos começando o estudo do
ceticismo e esse texto carece de exegese teórica. É um primeiro descarrego
sobre o assunto, mas a inspiração tem vindo dos vídeos de Plinio Junqueira
Smith disponíveis no YouTube. Há bastante material que servirá como base para o
nosso aprofundamento: Plínio se filia ao neopirronismo, então precisaremos
aprender sobre essa doutrina, sobre Sexto Empírico. Plínio analisa Porchat e
por aí também precisaremos adentrar. Não vamos parar nosso estudo da linguagem,
ele corre em paralelo com menos prioridade. Mas aqui também gostaríamos de
falar algumas coisas sobre “Plínio Junqueira Smith sobre o Sobre o que aparece
3: o fenômeno e a linguagem”, https://youtu.be/JjOc1b5SHtA, dia 7 de abril de 2024.
[ii] Ainda nos falta embasamento para
avançar nas definições mais simples.
[iii] Parece que é isso que Plínio
Junqueira diz, mas procuraremos compreender melhor seus ensinamentos: https://www.youtube.com/playlist?list=PL8IrZq3aRbAzPZUnTh3ODkvrG8Qft3BOq (Plínio Junqueira Smith: aulas
sobre a filosofia de Descartes).
[iv] “O mel é doce” (dogmático) versus
“O mel aparece doce” (cético, mas dá para viver assim).
[v] “Que põe ou é posto como tendo certo modo de realidade; posicional; existencial”: https://www.meudicionario.org/t%C3%A9tico.
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