Tenta
pôr um fim na opinião filosófica que é um fim em si mesma[i]
Opiniões filosóficas. A princípio uma opinião filosófica é uma opinião
que visa “desmistificar” algo, isto é, visa esclarecer, porém o faz procurando
mostrar a essência daquele algo. “Cogito ergo sum”, ou, “penso, logo
existo” é todo o fundamento da filosofia cartesiana que parte da dúvida para
negar o mundo exterior. Ora, esclarece que não se pode confiar nos sentidos,
mas, por outro lado, mostra nossa essência mental. Uma outra opinião filosófica
pode nos ajudar a entender que devemos fazer o bem, mas para isso ela se baseia
em uma máxima universal que se funda na essência moral. Já postular que Deus é
a natureza esclarece que ele não é transcendente posto que sua essência é imanente.
Leis. Isso tudo são usos de linguagem para fins
filosóficos. Entretanto, são opiniões que, uma vez postas, ficam à mercê de argumentação
contrária. Mas por que estamos falando de “opiniões”? Isso não seria rebaixar a
nobre filosofia? De maneira alguma, isso seria colocá-la em lugar útil e promissor.
Porque se tratássemos opiniões filosóficas como leis filosóficas, elas não seriam passíveis
de contestação, mas leis, pelo seu próprio caráter, ou são imposições ou têm
total comprovação empírica. Uma lei filosófica é um absurdo em si mesmo, se
imposta. Se, ao contrário, é empírica, não é filosofia, mas ciência.
Uso filosófico da linguagem. Então, uma opinião filosófica é um uso filosófico
da linguagem. Mas esse uso não é promissor porque ele está sempre buscando esconder
uma essência travestida em esclarecimento. Por isso, denunciemos o uso filosófico
da linguagem ou o uso da linguagem para fazer filosofia. O uso da linguagem
para expressar opinião filosófica é um uso especulativo e estéril. É um uso que arrebanha intelectuais que se digladiam por detrás de
livros e ideias provisórias, senão dogmáticas.
Terapia. Se não de se pode falar se deve calar? De maneira alguma e o próprio mestre depois ensinou: devemos falar e muito, mas denunciar esses usos, que não passam de confusões. Na vida cotidiana temos nossas opiniões e um conjunto de crenças que muitas vezes nos levam a uma vida angustiante. Enxergamos o mundo de tal forma que essa interpretação se mostra claramente equivocada, se analisada. São confusões que devem ser resolvidas por uma boa terapia com procedimentos e métodos terapêuticos que podem nos ser úteis tanto no dia a dia como em filosofia.
Uso inadequado da linguagem. É justamente essa visão de terapia filosófica
que estamos tentando entender da proposta wittgensteiniana. Conforme Plínio: “...
as investigações filosóficas (...) nos farão reconhecer que o suposto
conhecimento filosófico é apenas um produto de um uso inadequado da linguagem”.[ii] Não parece claro e
cristalino? Só há conhecimento (sic. opinião) filosófico porque fazemos um uso
inadequado da linguagem. Se queremos usar a linguagem para o seu fim adequado,
não devemos usá-la para fazer filosofia. Mas não devemos fazer filosofia? Devemos!
Mas como uma atividade de denúncia do uso inadequado da linguagem e de
esclarecimento do uso correto da linguagem, mas um uso que não se mostre dogmático.
Pragmática. Um uso terapêutico no campo filosófico é
um uso que não deve ser dogmático, já que visa elucidá-lo. Mas um uso terapêutico
pode acabar pode ter teses positivas e cuja proteção se poderia dar pela
pragmática, conforme o projeto de Arley Moreno[iii] e seu compromisso com “teses
filosóficas não dogmáticas” e que enfoca a gramática dos usos das palavras sem
formular hipóteses sobre sua justificação e sem afirmar nada sobre o que é, mas
sobre o que é possível ser.
É um campo a ser explorado.
[i] Essa é uma tentativa de manifesto
baseada em terapia e ceticismo a partir dos textos que temos lido e que, em
geral, resenhamos nesse blog. Coisas que temos olhado: FILOSOFIA
E TERAPIA EM WITTGENSTEIN, de João Carlos Salles Pires da Silva e WITTGENSTEIN
E O PIRRONISMO: SOBRE A NATUREZA DA FILOSOFIA de Plínio Junqueira Smith.
[ii] Analytica, volume 1,
número 1, 1993, pg 160.
[iii] Analytica, volume 9, número 2, 2005,
pg 104.
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