Conta
um pouco de nossa história produtiva que, entre avanços e cautela, tem por base
uma essência técnica[i]
Álvaro Vieira põe, de um lado, os animais como
consumidores do que a natureza lhes oferece e, de outro, os homens que, produtores,
têm no sistema nervoso superior a capacidade de projetar e se unir socialmente
para produzir. Embora alguns ainda se pretendam consumidores à custa alheia,
Vieira ressalta que a produção é a essência de nossa realidade e o que nos permite
resolver a contradição com o meio.
Conforme Vieira, “descobrimos, com esta reflexão, que
a razão de ser de todo projeto consiste na produção”. E da produção de objetos
até a de ideias, ou seja, a cultura por onde a contradição é resolvida
pela produção amparada na técnica:
“Ora,
obedecer às qualidades das coisas e agir de acordo com as leis dos fenômenos
objetivos, seguindo os processos mais hábeis possíveis em cada fase do
conhecimento da realidade, é precisamente aquilo em que a técnica consiste”.
Então, sem mistério, é o homem, pela sua origem e pela
sua história natural, animal técnico.
É técnica a base da “era tecnológica” que envolve a
produção material e ideal (artística, etc.), uma era tecnológica sempre existiu
pelas produções técnicas. Se igualam o polimento da pedra e a Revolução Industrial,
etc. E a criação humana se expande pelo crescimento do trabalho intelectual que
representa o mundo circundante pela abstração.
A técnica, ou tecnologia, é a produção natural humana
que, pelo caráter social, intervém no mundo, dadas as condições da época. Quando
a ela se agregam tempo e lugar, crenças e valores, tem-se a cultura e conceito
de época. As técnicas são as prescrições que asseguram o empreendimento e que
são transmitidas hereditariamente.
Segundo Vieira, quanto mais se avança a tecnologia,
mais declina a tecnocracia entendida como dispêndio de tempo com afazeres, pois
qualquer erro pode ser mortal. É aí, em sociedades primitivas, que invenções
técnicas que podem enriquecer as práticas podem representar perigo; cada
descoberta traz uma incerteza[ii].
É fundamental o pensamento dialético se debruçar sobre
a contradição entre continuidade quantitativa e saltos qualitativos e sobre o
permanece: a técnica, embora variada pois movida por fenômenos físicos, sociais
ou psíquicos. Assim, não é atual uma luta entre humanismo e tecnologia como
fazia, segundo Vieira, Toynbee[iii], pois são falsos dilemas
de cada época, manifestados pela ingenuidade.
Obviamente, o progresso é crescente, mas sempre existiu
e é sem fim, mas não é a tecnologia o motor da história, que deve ser analisada
sem estigma e nem ser endeusada, como um modo de ser do homem a ser analisado
pelas categorias lógicas do pensamento crítico.
[i] VIEIRA PINTO, Álvaro. O
Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. O conceito de
produção e de era tecnológica. P. 61 e seguintes.
[ii] Vide internet, redes sociais.
Vieira cita energia atômica ou arco e flecha, equiparando nossas criações
tecnológicas com as antigas embora, claro, com outra qualidade.
[iii] Conforme https://pt.wikipedia.org/wiki/Arnold_J._Toynbee, Arnold Joseph Toynbee (1889 - 1975) foi um historiador britânico, cuja obra-prima é Um Estudo de História, em que examina, em doze volumes, o processo de nascimento, crescimento e queda das civilizações sob uma perspectiva global.
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