Entre descrição, prescrição
e predição
Especulava
eu, em diálogo doméstico e a despeito do que tenho visto no estudo sistemático
de filosofia da tecnologia que venho realizando, sobre a importância da história no desenvolvimento técnico. Isso tenho lido deveras, haja vista sua
ênfase em Vieira Pinto, Simondon, etc.
Porém,
isso é característica da filosofia em geral, afinal, “nada se cria, tudo se copia”[i],
ou seja, sempre partimos de algo já iniciado. Impossível não olhar, ainda que minimamente,
para Platão, Aristóteles, etc. O edifício filosófico seria até concomitante ao
homem quando se socializa, afinal, de certa forma, pensar é filosofar.
Mas,
em cada época, a filosofia está presa a seu tempo. Do pouco que conheço, ela se
debruça muito sobre três “contextos”: histórico, o ser atual - mundo (descritivo)
e o dever (prescritivo) e pouco sobre o futuro (preditivo). O diagrama abaixo procura mostrar isso,
passado e presente reais, dever e futuro supostos.
Pois
que a filosofia funciona baseada na história e no tempo presente, mostrando o
ser daquele tempo, nesse sentido sendo um devir e propondo um dever. Já o futuro
não é algo que apareça tanto, mas podemos citar, por exemplo, Marx apontando
para a conversão do capitalismo em socialismo, comunismo, etc. Por outro lado,
autores tratam o tempo presente como o tempo final (Hegel[ii]),
o fim da história. E, não custa lembrar, o passado filosófico ocidental pouco
abarca uma pré-história que poderia ser determinante nessa chave temporal.
Já
no cinema, esse tema é recorrente, há um grande esforço de adivinhação. Há muito
de futurologia e podemos citar o filme “Passageiros”[iii]
como exemplo. Trata-se de uma viagem espacial até um planeta muito distante, que
dura 90 anos. Então, para que os passageiros possam desfrutar da nova vida lá,
eles hibernam em cápsulas durante o percurso para que acordem na chegada sem sentirem
a passagem do tempo nem seus efeitos. Ocorre que, durante a viagem, algumas cápsulas
se rompem e alguns passageiros acabam tendo que passar o resto da vida na nave,
viajando pelo espaço, heteronomamente.
Está
aí um ótimo cardápio filosófico: o futuro nos sujeitaria a condições de vida
completamente diferente das atuais, seja em nosso planeta ou em outro lugar? Quais
valores seriam fundamentais nessas novas condições? Faz sentido uma vida humana
fora da terra?
Referente à tecnologia, conseguiremos viver em outro planeta? Já há lotes a venda para Marte por volta de 2100. Quais seriam os fatores para determinar o que deve ser construído e como, em supostas hospedagens interplanetárias? Qual o interesse em se viver fora de nosso planeta? Expedicionário? Exploratório? Científico? Astronômico? Filosófico?
Por outro lado, deveríamos nos afastarmos da tecnologia? Qual o investimento financeiro em tecnologia se comparado com a vasta desigualdade social dos países periféricos? Axiologicamente, devemos nos voltar para o orgânico e o local? Essas são algumas das questões que uma filosofia além do
tempo poderia responder.
[i] Conforme Abelardo Barbosa,
possivelmente parafraseando Lavoisier para quem “nada se cria, tudo se transforma”.
[ii] Fukuyama trata disso, mas agora
não tenho mais detalhes.
[iii] Passengers (2016).
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