sexta-feira, 11 de junho de 2021

Tecnomedo

De como uma sociedade progride olhando para os lados e, claramente, para trás

Reconhecer rosto, por quê? Tristeza? Não... Reconhecimento facial para controle.

Um rosto triste, se reconhece? Não, somente um rosto suspeito. Okay, okay.

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Passou um carro na estrada, azul. Passou outro atrás, verde. Duas horas depois, o mesmo, mas no sentido oposto. Passeio? Não, presságio. E mau.

Seria o velho medo? Botar o narizinho para fora da caverna, procurar alimento. Tudo isso é muito perigoso. Tudo isso era muito perigoso há 10 mil anos atrás. Resquício? Receio.

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Foucault explica. Foucault me explica! Tecnologias do poder. Nossa genealogia não nega. E a filosofia? Corrobora. Filosofia é discurso pautado, mas pode ser embasado e contestador, desde que seguindo as disposições mais elevadas da constituição biológica e racional, tudo muito ético e verdadeiro, não se regulando por uma moral prévia. Inovador? Sim e não. Não e sim.

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Venho através desta somente dizer que eu não tenho nada a dizer, mas que estou vivendo. Vivo aqui espremido entre outros 6 ou 7 bilhões. São números, mas cada número desse é um número muito semelhante a mim. A Eu.

Cada número é um número indecifrável. Mas cada número deve ser decifrado: tecnomedo! O que aquele número pensa, o que aquele número fez??? O que aquele número... Aquele número, aquele... Fará?

O que fará?

Tecnomedo!

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Conversão. Conversão de gente em dado. Conversão de gente em números e fórmulas. Dois passos para cá, três para lá, uma olhadinha de lado e. Bingo! Teje preso.

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Uma pessoa.

Duas pessoas.

Quinze pessoas.

Cinquenta, trezentas e vinte pessoas.

Movimentação estranha, aglomerou. Mil. Sete mil, trinta mil. E contando...

Manifestação!! Alarme, polícia, repressão. Eficiência. Efi-ciência. Ciência?

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É muito triste tudo isso. Você triste, eu triste. Nós tristes e dedos em riste. É o que resta, um dedo em riste. Resta um chiste. Ou um xote? Não, resta morte.

Fingimos e vivemos, fingimos e fugimos. Fingimos e fungamos. Eu fungo de choro, mas há quem fungue de vírus e há quem fungue de fungo. Fungo negro.

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Se a ciência fosse uma ciência de vida seria menos difícil. Ó, ciência, você pariu sua filha, a tecnologia, a logia do técnico, de uma técnica além de nós. Deus Máquina, rogai por nós!!

 Eu escuto coisas. Eu vejo gente. Ouvi dizer que a ciência é um jogo de verdade. Sim é um jogo, mas é de verdade!! Entende? Não é um jogo de mentira. Mentira e medo, duas velhas que andam de braços dados. Passeando? Não, passando. Um recado. Espreitando. Pedindo tecnomedo, orando pelo tecnomedo.

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Eu tiro um sorriso, mas logo passa. Os risos, hoje, são de cumplicidade. Poucos são de ironia. Fora disso, desfaçatez. Riso de um dentro podre, riso baforento. Bafo de bode. Bode velho, sorria! O bode velho que tem um sorriso amarelo e mentiroso é aquele bode cuja pele quero de tapete, não de centro, mas de fora da casa. Para limpar o pé, tirar a inhaca.

A inhaca tem que grudar em algo e gruda em coisas feias, por isso essa pele de bode há de limpar tudo. Há de pegar todas as inhacas, degustar a sujeira e palitar os dentes. E não há de defecar, nenhum detrito há de sair pois tudo é muito tóxico.

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Num lapso eu volto a mim. Eu me pergunto se o caminho tecnológico é um caminho de sobrevivência, de excesso ou de medo. Eu queria saber o que estamos fazendo conosco, com o mundo. Eu tenho dúvidas, mas eu não queria que isso tudo não fosse nada mais do que um medo tecnológico. Não um medo da tecnologia, mas um tecnologia do medo.

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