Breve introdução ao pensamento de Mario Bunge[i]
Iniciemos
com a definição de Bunge: “a tecnologia é o campo de conhecimento relativo ao
desenho de artefatos e à planificação da sua realização, operação, ajustamento,
manutenção e monitoramento, à luz do conhecimento científico”, ou seja, busca-se
por uma base teórica e aperfeiçoamento.
A ação técnica, ou tecnológica, produz tanto
objetos quanto alterações em sistemas naturais ou sociais de maneira metódica e
controlada. Para a técnica e a tecnologia os elementos naturais são vistos como
“recursos” que, através de regras, se transformam em artefatos eficientes.
Diferente
da técnica, a tecnologia se vale da ciência, mas também de criatividade
e inovação. Conceituando a distinção (embora se superpondo): 1.) ciência pura,
obtém saber pelo seu valor intrínseco, 2.) tecnologia, soluciona problemas práticos
usando recursos científicos, 3.) ciência aplicada, zona intermediária, conhecimento
com projeções práticas.
O
conhecimento tecnológico transforma um conhecimento científico, uma lei, em
enunciado condicional: se se fizer x, ocorrerá y. Também existem as teorias
tecnológicas que podem ser substantivas ou operativas e o ciclo tecnológico:
problema prático – projeto – protótipo – prova – correção do projeto ou reforma
do problema.
Há
distinção de tecnologia em hightech (conhecimento de ponta) e brandas (preservação
do ambiente e recursos). Quanto ao artefato produzido, elas podem ser físicas,
químicas, biológicas, psíquicas, de informação e sociais. Há também uma
tecnologia geral, por exemplo, teoria geral dos sistemas e teoria da decisão.
Bunge
destaca a importância das tecnologias de informação, que se valem da riqueza
produzida pelo cérebro, mas que são supervalorizadas quando aproximam o
computador do cérebro[ii].
Bunge é crítico da Inteligência Artificial e do computacionalismo pois, para
ele, o computador nada cria, mas o homem.
Cupani
salienta que Bunge se pauta pela clareza cartesiana e alinhamento à tradição iluminista,
isto é, é um otimista, porém, se vê os excessos da tecnologia ele não foca
neles. Além disso, a exaltação tecnológica racional pode distanciá-lo de uma
ação ético-política como ocorre em Arendt e Habermas. Posição iluminista
que, finaliza Cupani, deve ser superada criticamente.
[i] Filosofia da Tecnologia. Seus
autores e seus problemas. Organização de Jelson Oliveira e prefácio de Ivan
Domingues, resultado da iniciativa do GT de Filosofia da Tecnologia da ANPOF.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. Conforme capítulo 4, Uma filosofia exata da
tecnologia – Mario Bunge, por Alberto Cupani.
[ii] Conforme ressalta Cupani, o acompanham, nessa crítica de Bunge, Dreyfus e Searle. Esse é o tema relativo à Inteligência Artificial, já noticiando por esse espaço. Também Nicolelis se opõe a ele: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/12/informacao-godeliana-anti-ia.html.
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