sábado, 10 de abril de 2021

Uma visão otimista da filosofia da tecnologia

Breve introdução ao pensamento de Mario Bunge[i]

Iniciemos com a definição de Bunge: “a tecnologia é o campo de conhecimento relativo ao desenho de artefatos e à planificação da sua realização, operação, ajustamento, manutenção e monitoramento, à luz do conhecimento científico”, ou seja, busca-se por uma base teórica e aperfeiçoamento.

 A ação técnica, ou tecnológica, produz tanto objetos quanto alterações em sistemas naturais ou sociais de maneira metódica e controlada. Para a técnica e a tecnologia os elementos naturais são vistos como “recursos” que, através de regras, se transformam em artefatos eficientes.

Diferente da técnica, a tecnologia se vale da ciência, mas também de criatividade e inovação. Conceituando a distinção (embora se superpondo): 1.) ciência pura, obtém saber pelo seu valor intrínseco, 2.) tecnologia, soluciona problemas práticos usando recursos científicos, 3.) ciência aplicada, zona intermediária, conhecimento com projeções práticas.

O conhecimento tecnológico transforma um conhecimento científico, uma lei, em enunciado condicional: se se fizer x, ocorrerá y. Também existem as teorias tecnológicas que podem ser substantivas ou operativas e o ciclo tecnológico: problema prático – projeto – protótipo – prova – correção do projeto ou reforma do problema.

Há distinção de tecnologia em hightech (conhecimento de ponta) e brandas (preservação do ambiente e recursos). Quanto ao artefato produzido, elas podem ser físicas, químicas, biológicas, psíquicas, de informação e sociais. Há também uma tecnologia geral, por exemplo, teoria geral dos sistemas e teoria da decisão.

Bunge destaca a importância das tecnologias de informação, que se valem da riqueza produzida pelo cérebro, mas que são supervalorizadas quando aproximam o computador do cérebro[ii]. Bunge é crítico da Inteligência Artificial e do computacionalismo pois, para ele, o computador nada cria, mas o homem.

Cupani salienta que Bunge se pauta pela clareza cartesiana e alinhamento à tradição iluminista, isto é, é um otimista, porém, se vê os excessos da tecnologia ele não foca neles. Além disso, a exaltação tecnológica racional pode distanciá-lo de uma ação ético-política como ocorre em Arendt e Habermas. Posição iluminista que, finaliza Cupani, deve ser superada criticamente.



[i] Filosofia da Tecnologia. Seus autores e seus problemas. Organização de Jelson Oliveira e prefácio de Ivan Domingues, resultado da iniciativa do GT de Filosofia da Tecnologia da ANPOF. Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. Conforme capítulo 4, Uma filosofia exata da tecnologia – Mario Bunge, por Alberto Cupani.

[ii] Conforme ressalta Cupani, o acompanham, nessa crítica de Bunge, Dreyfus e Searle. Esse é o tema relativo à Inteligência Artificial, já noticiando por esse espaço. Também Nicolelis se opõe a ele: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/12/informacao-godeliana-anti-ia.html. 

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