Destacam-se
algumas noções de Heidegger sobre a técnica[i]
Técnica Tradicional. Para Heidegger, o homem é menos dono
da realidade do que imagina, apesar de ser o lugar onde seu Ser se
manifesta. E a essência da técnica não é o técnico. As definições de meio para
um fim ou do fazer humano, se instrumentais ou antropológicas, não permitem mostrar
a diferença entre a técnica tradicional e a moderna.
Além da noção irrefletida de causa e efeito, Heidegger
traz a noção aristotélica de causa como algo que é cúmplice da origem de uma
coisa[ii]. A matéria, forma (eidos)
e finalidade (telos) se comprometem na mão do forjador para que a coisa surja.
O produzir (poiesis) é um trazer à presença, algo que
já ocorre na natureza (physis) em si mesma, mas o homem produz desde outro. Essa manifestação
é aletheia, a verdade de algo que é revelado. Mas a técnica é um desabrigar
produtor (poiesis) além do conhecimento revelador (episteme).
Técnica Moderna. A técnica moderna, diferente dessa
descrição anterior de técnica tradicional de desabrigar, é um desafiar a
natureza para que ela se manifeste como disponível ao homem (Bestand). Se antes
havia um cuidar, por exemplo, quando o camponês semeava o solo que cresce, agora
a natureza é “posta” (desafiada) para fornecer algo. Tudo quanto é focado pela
técnica (ou seja, pela atitude técnica) se transforma em algo disponível-para (fins
humanos)[iii].
Ocorre que o homem é convocado pela própria natureza a
desafiá-la. Há uma imposição para que até o próprio homem fique disponível. A própria
ciência tem uma atitude técnica e vê uma natureza passível de cálculo. Porém, se há algo
como uma predestinação do homem à técnica, sua liberdade não está de todo
suprimida e ele pode reagir ao perigo da técnica.
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Cupani conclui dizendo que Heidegger vê a tecnologia dos
prismas positivo e negativo. Para ele a tecnologia transcende nossa vontade,
embora seja possível de algum modo resistir. Por um lado, ele mostra nossa
atitude abusiva para como a natureza, por outro, uma autonomia tecnológica.
Contudo, suas teses metafísicas e linguagem obscura dificultam a compreensão.
[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia
da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016.
Capítulo 2: Estudos Clássicos: Martin Heidegger.
[ii] Em uma ocasião futura, Vargas vai
explorar pontos da teoria aristotélica das quatro causas.
[iii] Aqui lembra Anders.
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