domingo, 4 de abril de 2021

Breve olhar de Heidegger sobre a técnica

Destacam-se algumas noções de Heidegger sobre a técnica[i]

Técnica Tradicional. Para Heidegger, o homem é menos dono da realidade do que imagina, apesar de ser o lugar onde seu Ser se manifesta. E a essência da técnica não é o técnico. As definições de meio para um fim ou do fazer humano, se instrumentais ou antropológicas, não permitem mostrar a diferença entre a técnica tradicional e a moderna.

Além da noção irrefletida de causa e efeito, Heidegger traz a noção aristotélica de causa como algo que é cúmplice da origem de uma coisa[ii]. A matéria, forma (eidos) e finalidade (telos) se comprometem na mão do forjador para que a coisa surja.

O produzir (poiesis) é um trazer à presença, algo que já ocorre na natureza (physis) em si mesma, mas o homem produz desde outro. Essa manifestação é aletheia, a verdade de algo que é revelado. Mas a técnica é um desabrigar produtor (poiesis) além do conhecimento revelador (episteme).

Técnica Moderna. A técnica moderna, diferente dessa descrição anterior de técnica tradicional de desabrigar, é um desafiar a natureza para que ela se manifeste como disponível ao homem (Bestand). Se antes havia um cuidar, por exemplo, quando o camponês semeava o solo que cresce, agora a natureza é “posta” (desafiada) para fornecer algo. Tudo quanto é focado pela técnica (ou seja, pela atitude técnica) se transforma em algo disponível-para (fins humanos)[iii].

Ocorre que o homem é convocado pela própria natureza a desafiá-la. Há uma imposição para que até o próprio homem fique disponível. A própria ciência tem uma atitude técnica e vê uma natureza passível de cálculo. Porém, se há algo como uma predestinação do homem à técnica, sua liberdade não está de todo suprimida e ele pode reagir ao perigo da técnica.

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Cupani conclui dizendo que Heidegger vê a tecnologia dos prismas positivo e negativo. Para ele a tecnologia transcende nossa vontade, embora seja possível de algum modo resistir. Por um lado, ele mostra nossa atitude abusiva para como a natureza, por outro, uma autonomia tecnológica. Contudo, suas teses metafísicas e linguagem obscura dificultam a compreensão.



[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. Capítulo 2: Estudos Clássicos: Martin Heidegger.

[ii] Em uma ocasião futura, Vargas vai explorar pontos da teoria aristotélica das quatro causas.

[iii] Aqui lembra Anders.

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