Esse
texto traz notas sobre o diálogo Teeteto[i]
Podemos perceber, no diálogo do Teeteto, a
aplicação do método maiêutico de Sócrates que visa a parturição de um conhecimento
novo por Teeteto, jovem, mas promissor aprendiz. A questão principal de Sócrates
é exatamente tentar delinear o que é o conhecimento e ele luta contra a concepção
estabelecida por Protágoras de que conhecimento é percepção, conforme 1.) “Penso,
portanto, que aquele que conhece qualquer coisa, percebe o que conhece;
e, como aparece no momento, o conhecimento não passa de percepção” (Teeteto
falando, p. 70) e 2.) “... a que Protágoras costumava apresentar ... o ser
humano é a medida de todas as coisas” (Sócrates falando, p. 70).
Em boa parte do diálogo de Platão, Sócrates vai lidar com essa concepção vigente e chegará mesmo a fazer Teeteto parir essa opinião, de que percepção é conhecimento, mas logo irá subtrair esse primogênito por se mostrar equivocado(p. 86). Há alguns pontos, que podemos destacar, contrários a essa tese e começamos por verificar que ela se baseia na percepção que é diferente em cada pessoa e, também, sobre coisas individuais, e cada indivíduo irá ter uma a sua visão. Ocorre que, o que aparece está em constante mudança tornando difícil o conhecimento, isso estaria no campo do fenômeno e não do ser. Sócrates localiza esse debate na tradição, com Protágoras, Heráclito e Empédocles defendendo que as coisas estão em fluxo constante contra Parmênides, para quem a realidade é uma e imóvel, com a célebre citação de que o ser é e o não-ser não é[ii].
A argumentação é longa e passa por pontos
como a análise do movimento e se ele é a causa do ser pois tudo o que existe
está em movimento, que pode ser um movimento local ou dos astros, mas também,
nesse sentido, nada aparece como ele, pois muda. Sócrates também considera o
ponto de vista do nosso interior, isto é, há a percepção do eu e o objeto percebido
no mundo, mas volta a reforçar que as coisas que aparecem não são, por conta do
fluxo do vir a ser, reforçando a diferenciação entre percepção e conhecimento.
Um ponto interessante na argumentação é
que, para Sócrates, ao basear o conhecimento na percepção individual, Protágoras
faz com que cada um seja dono de sua verdade e com isso agrada a sua plateia. Mas
a verdade para um pode ser falsa para outro, o que deixaria a questão aberta
para disputas. Ao questionar a percepção, Sócrates também traz o problema do
conhecimento pelos sentidos e argumenta que por eles não se chega na apreensão
do ser e da verdade, mas pelo raciocínio, que seria uma atividade da alma que
pode atingir as coisas que são.
Há, então, a hipótese de o conhecimento
ser um tipo de opinião verdadeira, investiga-se como se forma uma opinião e suas
possibilidades de erro bem como a divisão entre conhecer (epistemologia) e ser
(ontologia) e se distinguirá entre uma opinião falsa e uma opinião do que não
é. Aqui podemos lembrar que muitas vezes a causa do erro é uma opinião sobre
algo que não conhecemos, ou imaginamos que conhecemos ou de algo a que associamos
um pensamento errático a uma percepção.
A argumentação é longa e complexa e não teríamos
condições de fazer um aprofundamento, trata-se de uma primeira aproximação dos
principais pontos que nos chamaram a atenção. Mas, parece que a indicação de Sócrates
de conhecimento passa pela capacidade de definir algo por uma característica
que o torne distinto dos demais, conforme p. 166:
“conclusivamente,
aquele que possui a opinião correta sobre qualquer coisa e acrescenta a isso
uma compreensão da diferença que a distingue das outras coisas terá adquirido
conhecimento dessa coisa, da qual detinha anteriormente somente opinião.”
Embora, ao final, Sócrates afirme que “A
conclusão é que nem a percepção, Teeteto, nem a opinião verdadeira, nem a
explicação racional associada à opinião verdadeira poderiam ser conhecimento” (p.
169). Porém, Teeteto continua grávido e pode seguir estimulado a continuar tal tipo
de diálogo, mas “munido da sabedoria de não pensar que sabes aquilo que não
sabes” (p. 169).
[i] Notas sobre o diálogo Teeteto
(ou do Conhecimento). PLATÃO. Diálogos I – Teeteto, Sofista, Protágoras.
Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2007.
[ii] Sobre Parmênides, nota de rodapé 77 e https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2025/02/o-problema-de-parmenides.html.
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