Esse texto retoma os principais aspectos do funcionalismo[i]
O funcionalismo se preocupa com o papel desempenhado
pelos estados mentais, ao invés de sua composição, como fazem as abordagens
materialista e dualista, em geral. Assim, se um robô expressa dor, então ele
sente dor, como nós, independentemente de ter um cérebro orgânico como o nosso.
É interessante que o funcionalismo se filia a Aristóteles, Hobbes e Turing.
Para o estagirita, a alma expressava nossa
racionalidade, isto é, ela que permitia que fossemos um ser humano racional, capacidade
que nos define enquanto espécie. Vitor faz um paralelo com o pleito kantiano da
condição de possibilidade do conhecimento, ante o pêndulo entre racionalistas e
empiristas. Kant desloca a questão para outra abordagem, assim como o funcionalista
também se esquiva do debate entre mente e matéria.
Já Hobbes via nosso organismo como uma
máquina e o nosso raciocínio como um cálculo matemático, cada qual com uma
função[ii]. Por fim, Turing criou um
teste que poderia verificar se uma máquina seria capaz de pensar, levando
alguém a confundi-la com um humano[iii], aí identificando
pensamentos com estados de um sistema. No nosso ponto de vista, quando o teste
de Turing indica que um robô deixa de ser um robô e passa a ter uma mente,
parece que estamos próximos do emergentismo ou epifenomenalismo[iv].
Vitor também associa o funcionalismo ao
behaviorismo[v],
seja o lógico, que trata de estados mentais (introspectivos) como sendo
comportamentos observáveis, ou o científico que se preocupa com ações e reações
ao ambiente, isto é, por que um comportamento ocorre, já no campo psicológico. Por
ele seria possível “medir” o comportamento, não sendo necessário explicar as
ações do “homúnculo” interior. Mas esse homúnculo interior teria que recorrer,
também, a outro homúnculo [interior] e assim sucessivamente. Como problema do
behaviorismo, Vitor coloca que podemos ter estados mentais sem comportamento e
vice-versa. Ou mesmo fingir, omitir.
Então tratemos agora dos tipos de
funcionalismo: o de estado de máquina (teorias de IA), o analítico, oriundo do
behaviorismo empírico e o psicofuncionalismo que provém do behaviorismo lógico.
O primeiro trata a mente como sistema que processa informações, analogamente a
um computador[vi],
baseado em entradas, estados e saídas (com regras). Nesse sentido, explica
Vitor, o funcionalismo vai mais além do que o behaviorismo, pois não analisa somente
comportamento, ele tem que pressupor um estado interno que vai levar ao
comportamento. Também ressalta que o software (a mente) independe do
substrato físico.
O funcionalismo analítico, além da base do
de estado de máquina, busca utilizar como explicação um vocabulário de senso
comum, não técnico. Fica o problema de diferenciar ou caracterizar estados
mentais, de maneira unívoca. Através dele também poderíamos atribuir estados
mentais a sistemas sem qualquer consciência, porque poderíamos atribuir a eles as
descrições do senso comum[vii]. Já o
psicofuncionalismo, que responde a esse problema, elabora descrições com base no vocabulário
psicológico, mas, nesse caso, também vai rejeitar estados mentais sem evidência
rigorosa. Há uma crítica de Ned Block, como cita Vitor, que se muito rigoroso,
pode eliminar vidas inteligentes não examinadas em laboratório. Abaixo o “tabelão
do Vitor”:
[i] Notas sobre a aula de Vitor Lima sobre
o funcionalismo no curso de Filosofia da Mente, canal INEF: https://www.youtube.com/@istonaoefilosofia.
Conforme ele, a fonte original é a Stanford Encyclopedia of
Philosophy, artigo
no link: https://plato.stanford.edu/entries/functionalism/.
[ii] Sobre essa abordagem ver https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/05/o-mito-de-descartes-doutrina-oficial.html,
nota 4.
[iii] Sobre Turing e se máquinas pensam:
https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/07/maquinas-que-pensam.html.
[v] Sobre os pais: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2021/02/behaviorismo-de-skinneri.html.
[vi] Assim como Hobbes associou o corpo
a um autômato, como observa Vitor, nos situando na era tecnológica do nosso
tempo.
[vii] Como cita Vitor: “o mercado acordou de mau humor”. Ou a terra é gaia.
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