Voltando ao tema da IA forte
Turing lançou o desafio por volta dos anos
50: se um computador “respondesse” a questões como se fosse um humano, ele
seria capaz de pensar[i]. A partir daí, então, a
sorte foi lançado e a disputa prossegue até nossos dias.
Mas a questão não é simples. Se conceitual,
por um lado, ela também pode envolver um tanto de neurociência, possivelmente
para “comprovar” como ocorre o pensar e processos envolvidos, bem como a psicologia, para se debruçar sobre um
pensar subjetivo que, nesse caso, inacessível para máquinas.
Mas há um campo chamado IA forte que
defende que uma máquina que processa pensa. Se, numa primeira vista, parece coisa
incrível, vale a pena refletir um pouco sobre o tema. Penrose comenta que, para
esses defensores, até um termostato poderia pensar:
|
“A
ideia é que a atividade mental é simplesmente a execução de alguma sequência bem
definida de operações, o que é frequentemente conhecido como um algoritmo. (...)
Por ora, será adequado definir algoritmo simplesmente como um procedimento de
cálculo de algum tipo. No caso do termostato, o algoritmo é extremamente simples
(...)”[ii] |
Parece que a ideia é pensamento = processamento,
e isso é muito simples e interessante. Tomemos nós: somos matéria que pensa,
isto é, matéria que tem um cérebro que processa coisas. Assim como um pato ou
uma abelha. E são os pensamentos que nos guiam na execução das coisas.
Agora tomemos um computador desligado
sobre a mesa: ele ali parado é simplesmente matéria, um conjunto de chips,
termoplástico e por aí vai. Mas um computador ligado ganha vida, ele processa
coisas. Não é que algo emerja dele, uma consciência, por exemplo, mas o fato de
processar algo o difere de quanto está desligado e parece que, assim, ele está
pensando (hardware - software).
Ora há algo a mais do que quando está desligado.
Claro, há energia, assim como nós precisamos do sol para fazer nosso organismo
funcionar. O computador ligado processa algo, ele possui um algoritmo
sofisticado. Já uma lâmpada, quando ligada, transforma energia. E assim por
diante, para todos os aparatos que executam algoritmos, que processam
informação, transformam energia.
Todos esses aparatos e todas as máquinas
que fazem isso pensam, a seu modo. É esse “algo que acontece quando estão funcionando”.
Assim como nós funcionamos enquanto estamos aqui ligados e pensamos. E esse modo
de pensar é perfeitamente factível, tanto o modo em si quanto o argumento.
Entretanto, para os postulantes da IA forte
o algoritmo que é executado em qualquer aparato é consciente em si, coisa que parece
bem esquisita. Isto faria com que ele fosse independente da plataforma, o mesmo
algoritmo sendo executado por um computador ou um cérebro seria consciente da
mesma forma. Até mais do que isso, levaria a um dualismo algoritmo (coisa pensante)
x plataforma (coisa material)[iii].
[i] Essa era a ideia básica da coisa,
falamos um pouco em https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/01/a-consciencia-da-ginoidei.html.
[ii] Pg. 55. Penrose, Roger. A mente
nova do imperador: Sobre computadores, mentes e as leis da física.
Traduzido por Gabriel Cozzella. São Paulo: Editora Unesp, 2023.
[iii] Há argumentos interessantes como o quarto chinês de Searle que mostraria que o algoritmo, mesmo passando no teste de Turing, seria incapaz de ter “entendimento” ou, em oposição, argumento de Hofstadter mostrando que o cérebro de Einstein descrito em um livro seria consciente, embora não possamos saber de que forma. De qualquer modo, Searle acha que muita coisa funciona como um computador digital, conforme Penrose, embora defenda que intencionalidade (ter intenção de) e semântica (entender significados) somente no cérebro humano.
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