O
epifenomenalismo é um termo que foi cunhado por William James, em 1890, significando
que a mente é um fenômeno “superficial” [i]. A
doutrina formula que estados mentais não possuem poderes causais, ou seja, a
ação psicofísica é unidirecional: do corporal ao mental[ii].
Podemos utilizar duas metáforas[iii]
para boa compreensão: o comportamento de uma sombra é dependente do
comportamento da luz e do objeto em sua frente e ela também não pode causar
alteração neles; e a fumaça produzida pela caldeira de uma locomotiva não é a
causa dela se mover. Do mesmo modo, a mente seria um produto do cérebro/corpo,
não tendo poderes causais sobre ele.
O
conceito de mente que usamos aqui está próximo ao da consciência fenomênica
(embora haja mente inconsciente) e ele se refere à experiência subjetiva, às
qualidades fenomenológicas imediatas[iv]
que englobam propriedades experienciais (vivenciais) das sensações, percepções,
sentimentos, pensamentos, emoções e desejos. São os conhecidos qualia, as qualidades subjetivas. Embora
não nos interesse aqui, Faria divide o epifenomenalismo de tipo forte, que não
admite que qualquer tipo de estado mental cause alterações no plano físico, e o
de tipo fraco, que admite que apenas os qualia
causariam alterações no plano físico.
De
acordo com Faria, o epifenomenalismo surge no fim do século XIX com os
trabalhos do biólogo T. H. Huxley e do filósofo Shadworth Hodgson e tudo não
passa de uma causação mecânica onde eventos físicos são processados desde o mundo
externo passando pelos sentidos e provocando estímulos cerebrais que produzem
sensação, consciência[v]. Então, Huxley propõe que um estado nervoso
antecede o estado da consciência, ou seja, a partir de uma mudança molecular na
estrutura cerebral aparece o estado de consciência como um símbolo dessa
mudança, a chamada molécula ideagênica.
Embora
Faria advirta que há poucos pensadores, na atualidade, que defendem a tese
epifenomenalista, por outro lado ele ressalta que é uma doutrina filosófica sedutora
para quem rejeita o dualismo e
compactua com alguma forma de fisicalismo, ou seja, para aqueles que pensam que
a mente é irredutível à bases físico-químicas cerebrais e também para aqueles
que prezam o fechamento causal do mundo físico. Assim, evita-se a “mão dupla“
do dualismo mantendo-se as conexões causais apenas no mundo físico e a mente seria
inócua causalmente, uma excrescência, enfim, um epifenômeno. Como qualquer teoria, o epifenomenalismo terá de lidar com argumentos contrários, mas também se valerá de fortes indícios que os sustenta, mas esse aprofundamento requererá um novo texto.
[i] Osvaldo Pessoa Jr: Arquivos Lexicográficos. Atualizado em
24/04/2016.
[ii] Não podemos esquecer que o epifenomenalismo,
diferente do materialismo, considera que há uma mente e não somente eventos
físicos, químicos, mecânicos, etc. Ver: “Dá para desatar o nó do mundo?”,
disponível em: http://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/03/da-para-desatar-o-no-do-mundo.html.
[iii] A partir daqui, grande influência
de Faria: Notas históricas sobre o
epifenomenalismo.
[iv] Cf. Arquivos Lexicográficos.
[v] Conforme Huxley, T. H. Sobre a hipótese de que
animais são autômatos.
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