sexta-feira, 9 de março de 2018

Introdução ao epifenomenalismo

O epifenomenalismo é um termo que foi cunhado por William James, em 1890, significando que a mente é um fenômeno “superficial” [i]. A doutrina formula que estados mentais não possuem poderes causais, ou seja, a ação psicofísica é unidirecional: do corporal ao mental[ii]. Podemos utilizar duas metáforas[iii] para boa compreensão: o comportamento de uma sombra é dependente do comportamento da luz e do objeto em sua frente e ela também não pode causar alteração neles; e a fumaça produzida pela caldeira de uma locomotiva não é a causa dela se mover. Do mesmo modo, a mente seria um produto do cérebro/corpo, não tendo poderes causais sobre ele.
O conceito de mente que usamos aqui está próximo ao da consciência fenomênica (embora haja mente inconsciente) e ele se refere à experiência subjetiva, às qualidades fenomenológicas imediatas[iv] que englobam propriedades experienciais (vivenciais) das sensações, percepções, sentimentos, pensamentos, emoções e desejos. São os conhecidos qualia, as qualidades subjetivas. Embora não nos interesse aqui, Faria divide o epifenomenalismo de tipo forte, que não admite que qualquer tipo de estado mental cause alterações no plano físico, e o de tipo fraco, que admite que apenas os qualia causariam alterações no plano físico.
De acordo com Faria, o epifenomenalismo surge no fim do século XIX com os trabalhos do biólogo T. H. Huxley e do filósofo Shadworth Hodgson e tudo não passa de uma causação mecânica onde eventos físicos são processados desde o mundo externo passando pelos sentidos e provocando estímulos cerebrais que produzem sensação, consciência[v].  Então, Huxley propõe que um estado nervoso antecede o estado da consciência, ou seja, a partir de uma mudança molecular na estrutura cerebral aparece o estado de consciência como um símbolo dessa mudança, a chamada molécula ideagênica.
Embora Faria advirta que há poucos pensadores, na atualidade, que defendem a tese epifenomenalista, por outro lado ele ressalta que é uma doutrina filosófica sedutora  para quem rejeita o dualismo e compactua com alguma forma de fisicalismo, ou seja, para aqueles que pensam que a mente é irredutível à bases físico-químicas cerebrais e também para aqueles que prezam o fechamento causal do mundo físico. Assim, evita-se a “mão dupla“ do dualismo mantendo-se as conexões causais apenas no mundo físico e a mente seria inócua causalmente, uma excrescência, enfim, um epifenômeno. Como qualquer teoria, o epifenomenalismo terá de lidar com argumentos contrários, mas também se valerá de fortes indícios que os sustenta, mas esse aprofundamento requererá um novo texto.


[i] Osvaldo Pessoa Jr: Arquivos Lexicográficos. Atualizado em 24/04/2016.
[ii] Não podemos esquecer que o epifenomenalismo, diferente do materialismo, considera que há uma mente e não somente eventos físicos, químicos, mecânicos, etc. Ver: “Dá para desatar o nó do mundo?”, disponível em: http://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/03/da-para-desatar-o-no-do-mundo.html.
[iii] A partir daqui, grande influência de Faria: Notas históricas sobre o epifenomenalismo.
[iv] Cf. Arquivos Lexicográficos.
[v] Conforme Huxley, T.  H.  Sobre a hipótese de que animais são autômatos.

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