De
acordo com Colin McGinn, nos diz Vicentini, apesar de sermos incapazes de
resolver os problemas que envolvem os qualia, ainda assim é possível pensar em
uma solução. Dada à dificuldade de compreender o mistério envolvendo corpo-mente
(especificamente aqui cérebro-consciência), haveria duas vias de solução: uma
que tenta uma explicação natural, científica e outra por uma intervenção
sobrenatural. McGinn opta pela via natural, porém ressaltando que jamais a
compreenderemos, pelo conceito do fechamento
cognitivo que versa que: uma mente M é cognitivamente
fechada para uma propriedade P, ou teoria T, se esta mente M não possui
mecanismos para compreender P ou T.
A
partir disso, podemos pensar na propriedade P do cérebro que é responsável pela
ligação do cérebro com a consciência (PCC). Então, há uma teoria T, que se
refere a PCC, a partir da qual T explicaria a dependência dos estados de consciência
em relação aos estados cerebrais (TCC). Pois bem, a mente humana MH pode
conhecer PCC? Segundo McGinn, não, pois PCC nos é cognitivamente fechada e isso pode ser verificado tanto a partir do
cérebro, quanto da consciência, já que só há dois modos de conhecimento de PCC:
introspecção (investigação da consciência) e percepção (investigação do cérebro).
Pelo
lado da introspeção chegaríamos a uma propriedade interna da consciência (PIC –
os qualia), mas não teríamos acesso à ligação psicofísica (PCC), que interessa
ao conhecimento científico. Então a introspecção está cognitivamente fechada para PCC, apontando para uma limitação de
nosso conhecimento. Pelo lado do cérebro, o conhecimento da propriedade PCC não
é observável e perceptualmente fechado[i]. Isso
se dá porque nossos sentidos se acostumaram a ver as coisas no espaço, aquém da
PCC. O fato de ser perceptualmente fechado leva ao fechamento cognitivo, já que,
embora possamos formar conceitos sobre o que não é observável, não podemos
extrair PCC da observação porque observamos propriedades físicas, que não alcançam
a consciência.
Vicentini
conclui que McGinn aceita os qualia sem questioná-los e que mente é produto de
uma evolução biológica natural, assim como o corpo e apresenta limitações. Dada
nossa dependência de introspecção ou percepção, haveria algum tipo de ciência capaz
de explicar a consciência de maneira não misteriosa. Além disso, McGinn aceita
que uma mente M conhece de acordo com sua consciência, o que impediria a MH de
conhecer outras consciências[ii]. McGinn,
podemos concluir, entende que há um problema em seu conhecimento científico,
mas não há uma limitação filosófica e nos parece que se aproxima de uma visão
funcionalista ou comportamental da mente. Embora se encaixe em um fisicalismo
epifenomenalista, dado que a mente se origina da matéria cerebral.
(*) Extraído de Vicentini, Max Rogério. O problema dos qualia na filosofia da mente. Dissertação de Mestrado: Campinas, SP, 1998, cap. II.
[i] McGinn chama a consciência de númeno (oposto do fenômeno). A argumentação de McGinn assemelha-se a antinomia kantiana.
[ii] Segundo Vicentini, McGinn concorda e aceita a tese de Nagel: não conheceremos a mente de um morcego.
[ii] Segundo Vicentini, McGinn concorda e aceita a tese de Nagel: não conheceremos a mente de um morcego.
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