quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

ego desnorteado

O ego pode se caracterizar como a suposta unidade do eu. É como se fosse um local onde tudo está guardado, onde tudo de nós ali se concentra. Nesse sentido, um egoísta parece ser alguém que pega esse ego, esse balaio de coisas e o protege, sem limites. Já um ególatra é aquele que pega seu baú de coisas velhas e o chacoalha, acompanhado de luzes e fogos, para mostrar que não há coisa mais valiosa.

Entretanto perguntemos: eu sei tudo o que fiz ou tudo o que sei? Algo que fiz faz dois ou dez anos é algo que ainda exerce algum tipo de primazia em minhas ações? De fato, não podemos negar o edifício sobre o qual uma pessoa se constrói, mas o desafio é percorrer todas os corredores e espaços dele. Por outro lado, eu sabia a tabela periódica, ela estava lá cravada nos mais profundos rincões do meu eu, mas quais são os períodos da tabela periódica?

No dia a dia, sabemos que estamos em uma determinada estação do ano, em um determinado mês e sob algum governo, mas só sabemos essas coisas porque as convencionamos em um trabalho milenar de observação e de compartilhamento e constante revisão. Não há coisa que fique imune, resguardada.

Vejamos um ponto interessante: se eu for ali na esquina comprar cigarro e sumir por algum motivo, certamente a minha foto vai circular por aí questionando a minha localização. Ocorre que se alguns anos se passarem e minha constituição fisiológica mudar sobremaneira, a foto e eu serão coisas díspares. Mas, para quem me viu pela última vez com aquela aparência da foto, para essa pessoa, quem sou eu? Esse novo ou aquele?

Eu fico vendo as pessoas, mesmo as mais próximas, familiares, colegas e me pergunto: e as conheço? E me pergunto isso, principalmente, por que eu me pergunto: eu me conheço? E, se para elas eu perguntar, você se conhece? Qual seria a resposta? Eu procuro o ego, procuro meu ego. Ele está aqui dentro de mim? Eu pressuponho que há coerência nas coisas, mas eu não tenha a mais vaga ideia do que vai acontecer daqui a pouco ou quando eu acordar amanhã.

Ora, dorme que passa.

 

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