O ego pode se caracterizar como a suposta unidade do eu. É
como se fosse um local onde tudo está guardado, onde tudo de nós ali se
concentra. Nesse sentido, um egoísta parece ser alguém que pega esse ego, esse
balaio de coisas e o protege, sem limites. Já um ególatra é aquele que pega seu
baú de coisas velhas e o chacoalha, acompanhado de luzes e fogos, para mostrar
que não há coisa mais valiosa.
Entretanto perguntemos: eu sei tudo o que fiz ou tudo o que
sei? Algo que fiz faz dois ou dez anos é algo que ainda exerce algum tipo de
primazia em minhas ações? De fato, não podemos negar o edifício sobre o qual uma
pessoa se constrói, mas o desafio é percorrer todas os corredores e espaços
dele. Por outro lado, eu sabia a tabela periódica, ela estava lá cravada nos mais
profundos rincões do meu eu, mas quais são os períodos da tabela periódica?
No dia a dia, sabemos que estamos em uma determinada
estação do ano, em um determinado mês e sob algum governo, mas só sabemos essas
coisas porque as convencionamos em um trabalho milenar de observação e de
compartilhamento e constante revisão. Não há coisa que fique imune,
resguardada.
Vejamos um ponto interessante: se eu for ali na esquina
comprar cigarro e sumir por algum motivo, certamente a minha foto vai circular
por aí questionando a minha localização. Ocorre que se alguns anos se passarem
e minha constituição fisiológica mudar sobremaneira, a foto e eu serão coisas díspares.
Mas,
para quem me viu pela última vez com aquela aparência da foto, para essa
pessoa, quem sou eu? Esse novo ou aquele?
Eu fico
vendo as pessoas, mesmo as mais próximas, familiares, colegas e me pergunto: e
as conheço? E me pergunto isso, principalmente, por que eu me pergunto: eu me
conheço? E, se para elas eu perguntar, você se conhece? Qual seria a resposta? Eu
procuro o ego, procuro meu ego. Ele está aqui dentro de mim? Eu pressuponho que
há coerência nas coisas, mas eu não tenha a mais vaga ideia do que vai
acontecer daqui a pouco ou quando eu acordar amanhã.
Ora,
dorme que passa.
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