Mostra que nosso cérebro não é um computador que processa informações baseado em regras[i]
Crítico da
Inteligência Artificial (IA), postula que é impossível que uma máquina simule
nossa inteligência a partir do processamento de fatos baseado em regras, com
argumentos oriundos de Heidegger, Merleau-Ponty e Wittgenstein.
Dreyfus contesta o
“modelo de processamento da informação” desenvolvido no laboratório RAND a
partir de 1950[ii], atribuindo-o ao esquema
de representação presente em Descartes, pelo qual nossa compreensão é formada por
representações de objetos que, sendo complexas, poderiam ser simplificadas pelo
método analítico[iii]. Essa formalização busca
tratar qualquer conhecimento cotidiano por meio de regras, reduzindo a semântica
à sintaxe e reproduzindo nossa inteligência em um computador e convencionando-nos objetos.
Então, objeta Dreyfus,
há um pano de fundo em nossas ações que nos habilita lidar com coisas e pessoas,
além de meras informações sobre elas e, mesmo se vamos aprendendo coisas
através de regras, tendemos no final a não as usar conscientemente. Aliam-se nossos
interesses e sentimentos e a tarefa da máquina torna-se inatingível. Conforme
Dreyfus, trata-se de um “representacionalismo” que se baseia em características
fixas não contextuais que deveriam se espelham em nossa mente de forma proposicional. Entretanto,
a experiência fenomenológica ensina que, para agirmos, estamos envolvidos sempre em uma
situação e trazendo um mundo cotidiano pré-conceitual que independe de regras
para uma ação competente.
Embora os
partidários da IA anunciem promissores avanços, Dreyfus mostra o procedimento
antitético entre humanos e computadores, como nossa consciência periférica que
consegue enfocar nas situações essenciais, como operamos por insights orientados
ao contexto e não na base da tentativa e erro e, por fim, aspectos linguísticos
como a “semelhança de família” de Wittgenstein, que nos permite ver por similaridade.
Há, para Dreyfus,
quatro suposições de IA: 1.) biológica que vê o cérebro como um processador de
informações como um comutador on-off, 2.) psicológica com a mente
operando sobre regras formais "sem envolvimento", 3.) epistemológica pela formalização
do conhecimento mediante termos, funções, etc. e 4.) ontológica considerando a informação
a ser analisada independente da situação. Elas seriam tomadas como verdade não
aceitando contraposições como a possibilidade do cérebro processar informação analogicamente[iv],
que nossa mente leva em conta o significado, que nosso comportamento
extrapola exatamente o que tomamos como dados e regras, ancorando a realidade
em um fisicalismo e, não menos importante, nossa subjetividade na qual é
extremamente difícil deduzir todas as situações a partir de estados físicos.
Cupani encerra resumindo
a posição de Dreyfus que, se crítico da redução da inteligência humana a
programas de computador se associando a Churchland e Searle, não se fecha as contribuições
como cálculos e controle de maquinarias e processos. Porém, para ele, é mais fácil
uma subinteligência humana se aproximar do computador que esse último se tornar
superinteligente. Isso porque há níveis de comportamento inteligente humano que
não poderiam ser modelados pela máquina.
[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia
da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016.
Capítulo 5 – Filosofia fenomenológica da tecnologia. 5.2 Hubert Dreyfus e a
crítica da razão artificial.
[ii] Detalhamento da crítica pode ser
encontrado em https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/06/ia-do-representacao-cognitiva-ao.html.
[iii] Cupani filia essa ideia à tradição
que vem dos gregos que busca a certeza eliminando opinião, intuição, etc., que
fazem parte da vida normal. A formalização do conhecimento passaria por Hobbes,
Leibniz, Kant, Frege, Boole, Babbage, até Turing e Shannon e, por fim, Newell-Simon,
do laboratório.
[iv] Aqui um contraponto a Shannon: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/12/informacao-godeliana-anti-ia.html.
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