terça-feira, 12 de outubro de 2021

IA na base da antítese homem-máquina

Mostra que nosso cérebro não é um computador que processa informações baseado em regras[i]

Crítico da Inteligência Artificial (IA), postula que é impossível que uma máquina simule nossa inteligência a partir do processamento de fatos baseado em regras, com argumentos oriundos de Heidegger, Merleau-Ponty e Wittgenstein.

Dreyfus contesta o “modelo de processamento da informação” desenvolvido no laboratório RAND a partir de 1950[ii], atribuindo-o ao esquema de representação presente em Descartes, pelo qual nossa compreensão é formada por representações de objetos que, sendo complexas, poderiam ser simplificadas pelo método analítico[iii]. Essa formalização busca tratar qualquer conhecimento cotidiano por meio de regras, reduzindo a semântica à sintaxe e reproduzindo nossa inteligência em um computador e convencionando-nos objetos.

Então, objeta Dreyfus, há um pano de fundo em nossas ações que nos habilita lidar com coisas e pessoas, além de meras informações sobre elas e, mesmo se vamos aprendendo coisas através de regras, tendemos no final a não as usar conscientemente. Aliam-se nossos interesses e sentimentos e a tarefa da máquina torna-se inatingível. Conforme Dreyfus, trata-se de um “representacionalismo” que se baseia em características fixas não contextuais que deveriam se espelham em nossa mente de forma proposicional. Entretanto, a experiência fenomenológica ensina que, para agirmos, estamos envolvidos sempre em uma situação e trazendo um mundo cotidiano pré-conceitual que independe de regras para uma ação competente.

Embora os partidários da IA anunciem promissores avanços, Dreyfus mostra o procedimento antitético entre humanos e computadores, como nossa consciência periférica que consegue enfocar nas situações essenciais, como operamos por insights orientados ao contexto e não na base da tentativa e erro e, por fim, aspectos linguísticos como a “semelhança de família” de Wittgenstein, que nos permite ver por similaridade.

Há, para Dreyfus, quatro suposições de IA: 1.) biológica que vê o cérebro como um processador de informações como um comutador on-off, 2.) psicológica com a mente operando sobre regras formais "sem envolvimento", 3.) epistemológica pela formalização do conhecimento mediante termos, funções, etc. e 4.) ontológica considerando a informação a ser analisada independente da situação. Elas seriam tomadas como verdade não aceitando contraposições como a possibilidade do cérebro processar informação analogicamente[iv], que nossa mente leva em conta o significado, que nosso comportamento extrapola exatamente o que tomamos como dados e regras, ancorando a realidade em um fisicalismo e, não menos importante, nossa subjetividade na qual é extremamente difícil deduzir todas as situações a partir de estados físicos.

Cupani encerra resumindo a posição de Dreyfus que, se crítico da redução da inteligência humana a programas de computador se associando a Churchland e Searle, não se fecha as contribuições como cálculos e controle de maquinarias e processos. Porém, para ele, é mais fácil uma subinteligência humana se aproximar do computador que esse último se tornar superinteligente. Isso porque há níveis de comportamento inteligente humano que não poderiam ser modelados pela máquina.



[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. Capítulo 5 – Filosofia fenomenológica da tecnologia. 5.2 Hubert Dreyfus e a crítica da razão artificial.

[iii] Cupani filia essa ideia à tradição que vem dos gregos que busca a certeza eliminando opinião, intuição, etc., que fazem parte da vida normal. A formalização do conhecimento passaria por Hobbes, Leibniz, Kant, Frege, Boole, Babbage, até Turing e Shannon e, por fim, Newell-Simon, do laboratório.

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