domingo, 10 de outubro de 2021

/\(?eu [-|=>]>? \(?tecnologia\)? [-|=>]>? \(?-? ?mundo\)?/gm*

Mostra como nossas relações com o mundo são mediadas pela tecnologia ou ela sendo uma presença ausente[i]

Fenomenologia. Ihde expõe que os instrumentos que inventamos para transformar a natureza transformam nosso contato com ela e nossa experiência de nós mesmos. Como a fenomenologia é uma experiência primária de ser no mundo, ela toma a relação homem-tecnologia como premissa e não como um mero objeto ante o sujeito. Ou seja, tem no relativismo o traço ontológico de todo conhecimento / experiência.

A perspectiva fenomenológica adotada por Ihde também leva em conta o caráter do ser-encarnado-no-mundo, isto é, a vivência da corporeidade que ressalta que agimos no mundo pelo corpo e possibilita, de um ponto de vista hermenêutico, identificar as estruturas de nossa experiência. Dessa forma, ela evita a reificação da tecnologia, impede uma visão neutra de seu funcionamento e mostra seu caráter ativo e dinâmico.

Modificações da experiência. Para Ihde, as tecnologias ao mesmo tempo que ampliam, reduzem nossa experiência e por isso não são neutras. Por exemplo, um microscópio simultaneamente torna mais nítido o observado, mas o limita, destacando-o. Para ele, a percepção humana se dá de um sentido micro da percepção sensorial de objetos, para uma macropercepção mediada pela cultura que vai além do objeto, se dando em uma relação figura-fundo.

Relação de incorporação: (eu - tecnologia) => mundo. Segundo Ihde, o uso de tecnologias as coloca incorporadas em nós, modificando nossa experiência e trazendo uma relação existencial diferente com o mundo. Essa mediação que a tecnologia traz em nossa relação com o mundo faz com que ela seja transparente (p.ex., usar os óculos “sem perceber”), mas também constituída. Conforme Cupani: “Desse modo, a técnica é, na definição de Ihde, a simbiose do artefato com o usuário dentro da ação humana. A técnica representa uma extensão polimorfa da nossa corporeidade.” (p 124, grifos do argentino)[ii].

Relação hermenêutica: eu => (tecnologia - mundo). Aqui trata-se basicamente da tecnologia da escrita, que é uma ação interpretativa, quer dizer, o texto se refere a uma outra coisa, mas que de certa forma também “desaparece” de nossa atenção (o texto em si...). A partir da abstração, o referenciado se dá através do texto. Embora as duas relações possam atuar no mesmo âmbito como, por exemplo: “ver” o frio pela janela (incorporação) ou “ler” o frio no termômetro (hermenêutica).

Relação de alteridade: eu => tecnologia - (- mundo). Nessa relação, a tecnologia aparece quase como um outro frente ao homem como, por exemplo, um relógio ou autômatos que parecem ter vida própria, a tecnologia é vista como se fosse autônoma.

Presença ausente. Além dessas posições que aparecem como focais, as tecnologias também constituem panos de fundo da experiência, como a luz elétrica, algo como uma presença ausente que está ali, mas não está, um barulho de fundo como uma máquina de lavar roupas, é transparente que só percebemos quando falta (aí incluindo mesmo a roupa que usamos). Também há uma presença ausente de dentro, um implante por exemplo, tudo isso fazendo parte de uma atmosfera tecnológica[iii].



* Expressão regular que circunscreve as três relações propostas por Ihde. Para testar, pode ser usado https://regex101.com/.  1: (eu - tecnologia) => mundo, 2: eu => (tecnologia - mundo), 3: eu => tecnologia - (- mundo).



[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. Capítulo 5 – Filosofia fenomenológica da tecnologia. 5.1 Don Ihde: fenomenologia das tecnologias.

[ii] Engraçado que eu já tive e compartilhei opinião sobre essa sensação com o carro, de um prolongamento do corpo. Mas foi apenas uma intuição...

[iii] Aqui há análises de tendências tecnológicas que levam em conta os aspectos abordados por Ihde, conferir em: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2021/09/materialidade-e-sociedade-tendencias.html.

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