Mostra como nossas
relações com o mundo são mediadas pela tecnologia ou ela sendo uma presença
ausente[i]
Fenomenologia. Ihde expõe que os instrumentos que inventamos para
transformar a natureza transformam nosso contato com ela e nossa experiência de
nós mesmos. Como a fenomenologia é uma experiência primária de ser no mundo,
ela toma a relação homem-tecnologia como premissa e não como um mero objeto
ante o sujeito. Ou seja, tem no relativismo o traço ontológico de todo
conhecimento / experiência.
A perspectiva
fenomenológica adotada por Ihde também leva em conta o caráter do
ser-encarnado-no-mundo, isto é, a vivência da corporeidade que ressalta que
agimos no mundo pelo corpo e possibilita, de um ponto de vista hermenêutico,
identificar as estruturas de nossa experiência. Dessa forma, ela evita a
reificação da tecnologia, impede uma visão neutra de seu funcionamento e mostra
seu caráter ativo e dinâmico.
Modificações da
experiência. Para Ihde, as
tecnologias ao mesmo tempo que ampliam, reduzem nossa experiência e por isso
não são neutras. Por exemplo, um microscópio simultaneamente torna mais nítido
o observado, mas o limita, destacando-o. Para ele, a percepção humana se dá de um sentido micro da percepção sensorial de objetos, para uma macropercepção
mediada pela cultura que vai além do objeto, se dando em uma relação
figura-fundo.
Relação de
incorporação: (eu - tecnologia) => mundo.
Segundo Ihde, o uso de tecnologias as coloca incorporadas em nós, modificando
nossa experiência e trazendo uma relação existencial diferente com o mundo.
Essa mediação que a tecnologia traz em nossa relação com o mundo faz com que
ela seja transparente (p.ex., usar os óculos “sem perceber”), mas também constituída.
Conforme Cupani: “Desse modo, a técnica é, na definição de Ihde, a
simbiose do artefato com o usuário dentro da ação humana. A técnica representa
uma extensão polimorfa da nossa corporeidade.” (p 124, grifos do
argentino)[ii].
Relação
hermenêutica: eu => (tecnologia - mundo).
Aqui trata-se basicamente da tecnologia da escrita, que é uma ação
interpretativa, quer dizer, o texto se refere a uma outra coisa, mas que de
certa forma também “desaparece” de nossa atenção (o texto em si...). A partir da
abstração, o referenciado se dá através do texto. Embora as duas relações possam
atuar no mesmo âmbito como, por exemplo: “ver” o frio pela janela (incorporação)
ou “ler” o frio no termômetro (hermenêutica).
Relação de alteridade:
eu => tecnologia - (- mundo). Nessa relação, a tecnologia aparece quase como um outro frente ao homem como, por
exemplo, um relógio ou autômatos que parecem ter vida própria, a tecnologia é
vista como se fosse autônoma.
Presença ausente. Além dessas posições que aparecem como focais, as tecnologias também constituem panos de fundo da experiência, como a luz elétrica, algo como uma presença ausente que está ali, mas não está, um barulho de fundo como uma máquina de lavar roupas, é transparente que só percebemos quando falta (aí incluindo mesmo a roupa que usamos). Também há uma presença ausente de dentro, um implante por exemplo, tudo isso fazendo parte de uma atmosfera tecnológica[iii].
* Expressão regular que circunscreve as três relações propostas por Ihde. Para testar, pode ser usado https://regex101.com/. 1: (eu - tecnologia) => mundo, 2: eu => (tecnologia - mundo), 3: eu => tecnologia - (- mundo).
[ii] Engraçado que eu já tive e
compartilhei opinião sobre essa sensação com o carro, de um prolongamento do
corpo. Mas foi apenas uma intuição...
[iii] Aqui há análises de tendências tecnológicas
que levam em conta os aspectos abordados por Ihde, conferir em: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2021/09/materialidade-e-sociedade-tendencias.html.
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