Mostra que, como o humanismo iluminista burguês nos levou a um niilismo tecnológico, abre-se caminho para o pós-humanismo [i]
Sloterdijk, à despeito de polêmicas eugenistas, traz uma antropotécnica que se enquadra no pós-humanismo e aí se filiando à antropologia filosófica alemã. Lá se destaca Gehlen[ii], que vê o ser humano como deficiente que necessita, para sobreviver na Natureza, desenvolver cultura, ou seja, um meio artificial no qual as técnicas se aprimoram para suprir sua deficiência orgânica, meio que será chamado por Sloterdijk de esferas.
A partir dessa
filiação, Sloterdijk irá criticar o humanismo que, oriundo da Grécia e Roma,
traz uma educação que molda a sociedade separando-a em seres letrados e não
letrados. Esse movimento, conforme Camargo, teve a pretensão de melhorar o
homem, assim como a religião cristã que clama por nossa perfeição. Entretanto,
esse humanismo, de um ponto de vista antropológico, traz uma falsa visão de
homem que deve ser buscada por uma posição antropogênica que tem nas hordas
primitivas a primeira esfera artificial construída que as blindava do mundo
natural.
Dentro dessa esfera social, o homem gera a si mesmo transmitindo conhecimentos e habilidades, no que Camargo chama de incubadora técnica que afasta o ser humano da animalidade. Essa horda primitiva, ele enfatiza, é a Dasein heideggeriana[iii], mas ainda sem as dicotomias corpo-mente, etc. É lá que se encontram as antropotécnicas que são os dispositivos que geram homens. É nessa mais baixa esfera filogênica que o Homo sapiens se desenvolve humanamente.
Essas esferas,
onde o ser humano respira cultura, funcionam como um uterotécnico, ou seja, é o fenômeno
da antropogênese onde se cria a segunda natureza e o preserva. São projetos
imunológicos para se proteger de ataques naturais ameaçadores. Segundo Camargo,
as antropotécnicas são os projetos imunológicos que garantem nossa sobrevivência
como, por exemplo, frear as biotecnologias e, aí, não sendo uma promoção da eugenia.
Então, se o ser
humano é um animal que precisa ser domesticado, o modelo de humanismo burguês
fracassou nessa tarefa em uma sociedade midiática e de massas. Ora, quando o
homem se estabelece em casas, no processo antropotécnico de geração de homens,
se sedentariza. Com o avanço tecnológico e a confusão artificial-natural esse
humanismo cai à condição niilista. De humanitas dotado de racionalidade
passa ao acaso das técnicas antropogênicas em cenário informatizado e
tecnológico. Com o esgotamento do humanismo, abre-se caminho a um aprimoramento
genético?
Segundo Camargo, ao se levar em conta as manipulações genéticas que a tecnologia permite imprimir ao ser humano, deve-se traçar o limite entre a sobrevivência da espécie (saúde) e geração de quimeras transumanas. A busca por um novo homem, que não é aquele adestrado pelo humanismo, conclui Camargo, nem um pós-humanismo super-modificado, deve levar em conta os âmbitos ético e político que possibilitem sistemas imunológicos cooperativos e que permitam uma antropotécnica que se responsabiliza por todos os seres vivos.
[i] Filosofia da Tecnologia.
Seus autores e seus problemas. Organização de Jelson Oliveira e prefácio de
Ivan Domingues, resultado da iniciativa do GT de Filosofia da Tecnologia da
ANPOF. Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. Conforme capítulo 23: As antropotécnicas
e os limites do parque humano – Peter Sloterdijk, por Leonardo Nunes
Camargo.
[ii] Para Gehlen, ver https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2021/04/quando-tecnica-extrapola-seu-valor-moral.html.
[iii] Conforme a nota 1 de https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/06/ia-do-representacao-cognitiva-ao.html, "O Ser-aí ou o Ser-aí-no-mundo e Existência é a tradução portuguesa do termo alemão Dasein, muito usado no contexto filosófico como sinônimo para ser existente."
Dasein: ser-aí, homem como ENTE que se pergunta pelo SER (INEF Aula 27)
ResponderExcluira essência do Dasein é sua existência.
ResponderExcluira essência do ser-aí está em sua existência.
Dasein: presença
Casanova: intencionalidade escolástica reintroduzida por Brentano, - pensamento se refere a algo que não é ele, em direção a
depois Husserl: pensamos em, de, sobre
não é intenção, propósito
é intendere: estender uma corda
não é substância - é projeção
existência = nós somos pura intencionalidade - dinâmica indeterminação ontológica
movimentar-se para fora
sem natureza humana
pura possibilidade
- ser-no-mundo: projeto, constante lançar-se, uso próprio das coisas, não determinado (utensílio), mediante cuidado, não depende de sua vontade + que uso dar a si mesmo
- ser-com-os-outros: negar os outros é negar a própria existência, pois somos para fora, cuidar dos outros (estar junto, ajudar a conquistar a liberdade de assumir seus próprios cuidados)
- ser-para-a-morte: plano ôntico (vida banal), plano ontológico (morte)
(idem - INEF Aula 27: https://youtu.be/HnssXzhlZZw)