domingo, 19 de setembro de 2021

Pedagogia do Oprimido - Prefácio #pf100

 Traz ideias principais de Paulo Freire a partir do prefácio de Ernani Maria Fiori[1]

Paulo Freire traz a dialética da liberdade, aquela que liberta oprimido e opressor, mas originária do oprimido, já que é na consciência dele que reside a verdade do opressor. Para Freire, a alfabetização ocorre pelo processo histórico, pelo biografar-se ou existenciar-se. A pedagogia, então, se aproxima da antropologia, pois que mostra a ambiguidade da condição humana e que deve ser vencida pela superação libertadora da consciência humana.

Porém, as técnicas de alfabetização de Paulo Freire não visam um método eficiente, ao contrário, há humanismo na base para que possa haver conscientização. E são as palavras que permitem o engajamento e colocam o alfabetizando em situação existencial pelo qual ocorre um processo de descodificação, ou seja, do vivido para o objetivo, da subjetividade para a objetividade. Ao objetivar seu mundo, o alfabetizando se vê em seu círculo de cultura e pode, junto com seus companheiros, procurar pela reciprocidade das consciências em um processo facilitado pelo professor que deve criar as condições para que ele ocorra. Da codificação das situações existenciais à descodificação tem-se um fundo onde se perpassa o contexto.

É a palavra que objetiva o espírito, mas que também escreve o mundo de cada um em um processo nada abstrato de aprendizado em que se testemunha a história indo além da alfabetização. É essa a missão do homem que se assume responsavelmente pela palavra: o homem se faz homem. Ele toma a forma humana, pois quando vive não se vê, mas ao observar como vive pode enfrentar a sua situação. Ao se distanciar das coisas, as fazem presentes. É o conhecido processo de hominização em que o homem não se naturaliza, mas humaniza o mundo.

A consciência que se faz intencional é prenhe de objetos que se tornam problemas que devem ser superados quando se reflete sobre eles. E é por meio dessa dialética entre o mundo objetificado e a consciência subjetiva que aparece a práxis, pela retomada reflexiva de seu próprio processo histórico. Importante notar como Freire trata da fenomenologia de consciências que primordialmente se comunicam, pois são comunicantes e não mônadas isoladas que negam o próprio homem.

São consciências que se lançam no mundo intersubjetivamente para, com ele, formarem uma história que será de uma prática que, se humana e humanizadora, é prática de liberdade. Tal práxis é de colaboração quando, junto com os outros, é possível transformar o mundo. A consciência livre leva do processo de hominização para a humanização, para a superação das contradições de nossas finitudes e, como método pedagógico não é de ensino, mas de aprendizagem. Conforme Ernani: “a pedagogia aceita a sugestão da antropologia: impõe-se pensar e viver a educação como prática de liberdade”.

O processo de alfabetização não é de cópia e repetição, mas cada um cria sua palavra e a cultura letrada conscientiza a cultura, a palavra instaura o mundo do homem. E ela ocorre, conforme já dito, como diálogo, levando à construção de um mundo comum. Os alfabetizandos partem de poucas palavras que tem poder criador pois geram o seu mundo e, mais do que isso, pela ação, o transforma.

Por fim, não se pode negar que o método de Paulo Freire é de conscientização e politização e não pretende afastar a educação da política. Isso porque, quando as contradições se conscientizem, elas se tornam insuportáveis e não se pode acomodar: é preciso ir adiante, se libertar. Ainda que dentro de um regime de dominação de consciências que deve ser apreendido pelo oprimido em sua pedagogia.


[i] Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire - 78 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021. São recortes e fragmentos para marcar pontos principais da argumentação e servir de guia.

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