Russell inicia dizendo que geralmente todas nossas crenças são capazes
de prova por alguma razão ou mesmo outra crença, embora isso não ocorra
conscientemente. Porém, ao subir na escala das razões, questionando-as,
chegaremos a princípios gerais evidentes e não dedutíveis, ao nível da indução,
e princípios lógicos não demonstráveis. Russell ressalta que até proposições
aritméticas simples, mesmo que deduzidas, têm tanta evidência quanto princípios
lógicos e os princípios éticos como: "we ought to pursue what is
good”,
embora esses últimos mais questionáveis.
Russell diz que, ao comparar princípios gerais com casos particulares,
os últimos são mais evidentes, como no caso de uma rosa que estamos vendo, não
podemos dizer que é e não é vermelha[i], excetuando-se aí os
casos que usam abstração. Somam-se aos princípios gerais as verdades autoevidentes
diretamente derivadas da sensação, chamadas por Russell de verdades da
percepção e sobre as quais recaem julgamentos da percepção, embora não
verdadeiros ou falsos. São verdades obtidas dos dados-dos-sentidos, porém não
se pode dizer de uma amostra de cor que é verdadeira ou falsa, ele simplesmente
existe.
Há, então, um julgamento da existência dos dados-dos-sentidos e outro
que o analisa, ambos considerados por Russell verdades autoevidentes. No
segundo caso, dados-dos-sentidos têm constituintes como um pedaço de vermelho
que é redondo e nossos julgamentos revelam essas relações. Outro julgamento
intuitivo abordado por Russell é a memória, a qual coloca na frente de nossa
mente um objeto que remete ao passado trazendo todo o conhecimento do que
vivenciamos. Russell comenta que os julgamentos da memória dependem do quão
recente foram nossas experiências: as mais recentes mais vívidas, porém as mais
antigas não nos trazem uma certeza evidente. Ou seja, há graus de evidência e
fidedignidade do que apreendemos pela memória.
Ele enfatiza essa característica da autoevidência, que são os graus,
desde os mais altos como verdades da percepção e princípios lógicos, passando
pelo princípio da indução até chegar à variação da memória e julgamentos éticos
e estéticos. Assim, Russell ressalta a importância dos graus de autoevidência
na teoria do conhecimento, pois, se proposições podem ter graus de evidência
sem serem verdadeiras, onde houver um conflito entre verdade e evidência, as
proposições mais autoevidentes devem ser mantidas. Por fim, Russell diz
que a noção de autoevidência varia entre a verdade (alto grau) e a presunção
(baixo grau) e desenvolverá tal conceito associado ao conhecimento e o erro,
porém antes investigará a natureza da verdade.
* Bertrand Russell, Problems of Philosophy. ON INTUITIVE KNOWLEDGE. Acessado
em 3/7/2019: http://www.ditext.com/russell/rus11.html.
Ver o seguinte
fichamento e os anteriores: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/07/o-conhecimento-priori-lida-com-relacoes.html.
[i] O caminho natural é de
particular ao geral, ou seja, é indutivo!
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