sábado, 6 de julho de 2019

O conhecimento a priori lida com relações universais[i]

Russell divide o conhecimento de universais entre por familiaridade / experiência e por descrição[ii]. Temos familiaridade com o branco, doce, etc., qualidades dos dados-dos-sentidos, chamadas por ele de "qualidades sensíveis", que são abstraídas da observação de diversas coisas vermelhas, doces, etc. Também estamos familiarizados com relações em um único dado, por exemplo, uma folha onde pela abstração vemos partes brancas, coisas à esquerda de coisas à direita e das quais extraímos relações universais, assim como da sequencia de sons de um sino, no tempo, abstraímos relações universais de antes e depois.
Outro tipo de relação que conhecemos por familiaridade, ressaltada por Russell, é a semelhança (ou similaridade) entre duas cores, p.ex., quando temos uma consciência imediata de que o verde é mais próximo de outro verde do que do vermelho, ou seja, conhecemos relações entre relações (verde-verde, verde-vermelho) que competem a universais assim como as qualidades sensíveis. Com esse resultado, Russell pode então retomar a sentença "2+2=4" conhecida a priori, mas de solução deixada em aberto, para mostrar que ela trata da relação entre dois universais: dois e quatro. Isso vai permitir a ele estabelecer a proposição: "All a priori knowledge deals exclusively with the relations of universals" para solucionar o problema do conhecimento a priori.
Segundo Russell, conhecemos uma proposição conhecendo as palavras por familiaridade e por aí percebemos que muitos casos que tratariam de particulares na verdade tratam de universais. Assim, como acabamos de mencionar, “dois mais dois igual a quatro” pode ser entendido por quem conhece os universais dois e quatro e a relação entre eles. Contudo, salienta Russell, isso não quer dizer que podemos antecipar e controlar a experiência, como explorado em capítulo anterior[iii]. Podemos, sim, saber a priori que “2+2=4”, mas isso não é válido para coisas particulares, pois elas dependem de elementos empíricos.
Ele então compara o conhecimento por generalização empírica com o conhecimento a priori dizendo que, por mais casos particulares que conheçamos, ainda assim há um grau de certeza não comparada a evidência do conhecimento a priori de universais, pois ainda dependerá de um conhecimento indutivo.[iv] Ainda sobre o conhecimento por familiaridade, pode haver casos em que se chega à evidência pela via da experiência ou em que conhecemos uma proposição geral sem tratar casos particulares. Russell elenca entre eles o caso dos objetos físicos dos quais nunca temos sequer uma evidência dada na experiência e ainda assim podem ser inferidos dos dados-dos-sentidos ou o conhecimento de outras mentes.
Nesse ponto, ele descreve uma hierarquia das fontes do conhecimento que ilustramos abaixo e que resume muito do que foi tratado nos outros capítulos até agora.
Russell conclui que o conhecimento de verdades depende da intuição e verificará, assim como fez com familiaridade, seu escopo e natureza, porém tratando de um fator novo, o erro. O conhecimento de verdades, então, é mais difícil, pois teremos que distinguir casos que sejam conhecimento ou erro por conta de crenças que podem ser erradas.



[i] Bertrand Russell, Problems of Philosophy. ON OUR KNOWLEDGE OF UNIVERSALS. Acessado em 26/6/2019: http://www.ditext.com/russell/rus10.html. Ver o seguinte fichamento e os anteriores: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/06/russell-platonicoi.html.
[ii] Retomando distinção do capítulo V que não resenhamos.
[iii] Conforme "HOW A PRIORI KNOWLEDGE IS POSSIBLE" (http://www.ditext.com/russell/rus8.html): "It seems strange that we should apparently be able to know some truths in advance about particular things of which we have as yet no experience; (...). This apparent power of anticipating facts about things of which we have no experience is certainly surprising." Não problematizamos esse assunto em nosso fichamento por não parecer ser tema ligado ao foco central de discussão, embora muito pertinente no que se refere à ciência.
[iv] Two opposite points are to be observed concerning a priori general propositions.

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