terça-feira, 15 de março de 2016

Essência verde e amarela

Encontros festivos têm sido realizados esporadicamente pelo país e têm sido mais populosos principalmente em algumas capitais. Não os chamo de protestos ou manifestações devido ao caráter aparentemente pacífico que é veiculado pela mídia que os cobre (ou encobre). Em um protesto normalmente a polícia está intervindo porque um protesto ataca frontalmente a ordem estabelecida, nele as pessoas tendem a serem enérgicas e agressivas, elas entoam gritos contundentes que vêm das suas entranhas indicando a rudeza da causa defendida e que algo definitivamente precisa mudar. O clima em um protesto costuma ser tenso, as pessoas se expõe, elas têm medo, mas têm brios e estão se colocando em uma situação de risco.
Normalmente... Mas não é o que temos visto nesses encontros de domingo. Lá as pessoas têm demonstrado felicidade e, por ser em um fim de semana, costumeiramente por sorte ensolarado e quente, nos parecem relaxadas. Não há cânticos ou gritos de guerra, há meramente cartazes e elas usam roupas e adereços verde e amarelo. As pessoas são bonitas e estão bem arrumadas. Nesses protestos as famílias têm comparecido, vemos muitas crianças e idosos, todos juntos a passear pelas ruas repletas de semelhantes. Sim, são semelhantes, mas o que os une?
Procurando nos cartazes, vemos que divergem bastante. Muitos contra a corrupção [dos políticos], a favor do impedimento da presidente ou da prisão do Lula, e mesmo pedindo que se investigue a oposição (PSDB). Muitos deles são de cunho irreverente (gozador), mas escondem muita violência, preconceito e machismo por trás de dizeres "engraçados". Na realidade, nosso país é o país da piada, senão que são uns 90% das mensagens que circulam nas redes sociais. Enfim, somos felizes. Outros cartazes apoiam a polícia, os juízes e o exército; vemos muitas demonstrações de afeto para com os militares que por lá estão [e aparecem nas fotos como bibelôs]. Mas, se há diversidade de pedidos, se não há uma pauta única, o que os une?
Vemos não propostas. Quase sempre estão solicitando a ação de terceiros: "Fora Dilma!" - não sou eu que vou pô-la para fora. Ei, você aí, faz isso para mim? Vemos "pixulecos" do Lula com roupa de presidiário e isso chega a ser fetichista e sem nenhum sentido. Parece que as pessoas não têm objetos mais interessantes para comprar ou pendurar no carro. Vemos pedidos reativos nem sempre convergentes. Então, o que os une?
É o verde e amarelo da intolerância. Se não for de verde e amarelo não pode, se for de vermelho apanha, vai preso. Sim, o verde e amarelo dá um ar festivo, mas ele é imposto, inconscientemente (ou não). As pessoas estão querendo o seu país de volta, a sua nação, abstratamente. Eu não quero algo concreto, que eu tenha que construir, eu só quero o meu país de volta. Todos de verde e amarelo, o verde e amarelo reacionário, conservador. Voltemos ao verde e amarelo!!!  Assim, todos somos iguais enquanto estamos ali, passeando em uma tarde de domingo ensolarada com os amigos. Ali não há diferença, estou seguro de verde e amarelo com minha família. Ninguém pode fazer nada contra mim porque sou patriota. Mando prender, prejulgo; não me importo com o diverso, o diferente, quero ver pessoas felizes e fantasiadas de verde e amarelo. Eu estampo um verde e amarelo que por si só significa algo, significa que estou protestando, não para que algo seja atingido no futuro, mas para que algo volte a ser como era antes. Essa é a essência do verde e amarelo que une os encontros festivos de domingo.

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