Encontros festivos têm sido realizados
esporadicamente pelo país e têm sido mais populosos principalmente em algumas
capitais. Não os chamo de protestos ou manifestações devido ao caráter
aparentemente pacífico que é veiculado pela mídia que os cobre (ou encobre). Em
um protesto normalmente a polícia está intervindo porque um protesto ataca
frontalmente a ordem estabelecida, nele as pessoas tendem a serem enérgicas e
agressivas, elas entoam gritos contundentes que vêm das suas entranhas
indicando a rudeza da causa defendida e que algo definitivamente precisa mudar.
O clima em um protesto costuma ser tenso, as pessoas se expõe, elas têm medo,
mas têm brios e estão se colocando em uma situação de risco.
Normalmente... Mas não é o que
temos visto nesses encontros de domingo. Lá as pessoas têm demonstrado
felicidade e, por ser em um fim de semana, costumeiramente por sorte ensolarado e quente, nos
parecem relaxadas. Não há cânticos ou gritos de guerra, há meramente cartazes e
elas usam roupas e adereços verde e amarelo. As pessoas são bonitas e estão bem
arrumadas. Nesses protestos as famílias têm comparecido, vemos muitas crianças
e idosos, todos juntos a passear pelas ruas repletas de semelhantes. Sim, são
semelhantes, mas o que os une?
Procurando nos cartazes, vemos que
divergem bastante. Muitos contra a corrupção [dos políticos], a favor do
impedimento da presidente ou da prisão do Lula, e mesmo pedindo que se
investigue a oposição (PSDB). Muitos deles são de cunho irreverente (gozador),
mas escondem muita violência, preconceito e machismo por trás de dizeres
"engraçados". Na realidade, nosso país é o país da piada, senão que são
uns 90% das mensagens que circulam nas redes sociais. Enfim, somos felizes.
Outros cartazes apoiam a polícia, os juízes e o exército; vemos muitas
demonstrações de afeto para com os militares que por lá estão [e aparecem nas
fotos como bibelôs]. Mas, se há diversidade de pedidos, se não há uma pauta
única, o que os une?
Vemos não propostas. Quase sempre
estão solicitando a ação de terceiros: "Fora Dilma!" - não sou eu que
vou pô-la para fora. Ei, você aí, faz isso para mim? Vemos
"pixulecos" do Lula com roupa de presidiário e isso chega a ser
fetichista e sem nenhum sentido. Parece que as pessoas não têm objetos mais
interessantes para comprar ou pendurar no carro. Vemos pedidos reativos nem
sempre convergentes. Então, o que os une?
É o verde e amarelo da
intolerância. Se não for de verde e amarelo não pode, se for de vermelho
apanha, vai preso. Sim, o verde e amarelo dá um ar festivo, mas ele é imposto,
inconscientemente (ou não). As pessoas estão querendo o seu país de volta, a
sua nação, abstratamente. Eu não quero algo concreto, que eu tenha que
construir, eu só quero o meu país de volta. Todos de verde e amarelo, o verde e
amarelo reacionário, conservador. Voltemos ao verde e amarelo!!! Assim,
todos somos iguais enquanto estamos ali, passeando em uma tarde de domingo
ensolarada com os amigos. Ali não há diferença, estou seguro de verde e amarelo
com minha família. Ninguém pode fazer nada contra mim porque sou patriota.
Mando prender, prejulgo; não me importo com o diverso, o diferente, quero ver
pessoas felizes e fantasiadas de verde e amarelo. Eu estampo um verde e amarelo
que por si só significa algo, significa que estou protestando, não para que
algo seja atingido no futuro, mas para que algo volte a ser como era antes.
Essa é a essência do verde e amarelo que une os encontros festivos de domingo.
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