Nós estamos inseridos em uma realidade que
funciona para nós e isso é evidente. Eu não duvido [e nem questiono] que o copo de
vidro com a água que estou bebendo possa dissolver de repente ou que a água subitamente irá evaporar, dentro das condições que me encontro agora. Embora eu não saiba
exatamente de que minério é feito o copo ou mesmo as condições exatas para a água
evaporar.
Tudo isso, essa realidade, não é tão
misteriosa. Eu posso saber, algum homem sabe, o Homem sabe. Porém, eu
também não duvido que amanhã o sol vai nascer em seu horário corriqueiro e que novas
árvores florescerão. Essas outras coisas são muito certas, mas são mais misteriosas. E o
universo que está além da terra? É exponencialmente misterioso, assim como a quantidade de sinapses em meu cérebro. E eu também imagino que quem
lê esse texto vai interpretá-lo mais ou menos da forma como desejo, ou seja,
que há uma estrutura racional compartilhada que neurocientistas, filósofos e
outros especialistas estudam, mas que estão longe de obter todas as respostas e nem que as obtidas até agora perdurarão ou cairão por terra.
Então, de tudo que experienciamos e para
que possamos viver, há coisas que a humanidade como um todo sabe e muitas outras
que não. E estamos evoluindo, a cada dia conhecemos mais sobre os mais variados
assuntos e aumentamos o edifício do saber. Mas conheceremos tudo, saberemos
tudo ou poderemos explicar tudo? Definitivamente não.
Há um vácuo explicativo que podemos chamar de o mistério das coisas (o mistério da vida, da justiça, do Big Bang, do ar transparente
que respiro e me faz viver). Há muito mais coisas misteriosas e a serem
explicadas do que coisas que conhecemos e sabemos. O mistério das coisas é,
para alguns, o que se chama Deus, Ala, orixá, espírito, etc. Todos esses
nomes, essas entidades potentes, só existem por causa do mistério das coisas. Para o importante problema invisível do mistério das coisas uma solução não menos importante e invisível. Essa
é uma maneira de viver dentro daquela realidade que funciona. Funciona admitir
que eu conheço uma pequena gama de coisas, a humanidade uma vasta gama de
coisas e todo o resto, tudo, deixamos nas mãos dos deuses.
Isso não importa tanto, são nomes diferentes para o mistério das coisas. O que mais importa é que o conhecimento evolua dentro de regras éticas e de maneira colaborativa. E que evolua para todos os lados, respeitando a todos, respeitando a auto determinação dos povos e o direito dos povos originários sobre a terra. Nesse ponto, a disputa é entre o nosso conhecimento e o mistério das coisas. Assim viveremos, até o fim, nessa tarefa de superar o mistério das coisas e essa talvez seja nossa mais importante missão enquanto conformados em um corpo que pensa e vive.
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