Sartre,
vida e obra. Jean Paul Sartre nasceu
em 1905, na França, e cedo perdeu pai e mãe, o que o faria um homem totalmente
livre e defensor do existencialismo: não existe uma natureza humana
predeterminada, é a escolha de cada um que determina a sua existência. Tinha
uma imaginação criativa e aos 10 anos torna-se escritor, para ser um dos
maiores do século XX. Na faculdade conhece Simone de Beauvoir com quem
permanece por toda a vida. Foi um homem engajado: prisioneiro de guerra,
escapou e participou da resistência, fundou revista e participou do partido
comunista. Sua principal obra filosófica é “O ser e o nada” que se vale dos
conceitos de ser-em-si (fenômeno) e ser-para-si (consciência) explorando o
drama da liberdade do homem que prescinde de valores e constrói sua vida com
base em suas ações e assim dá sentido a ela. Em seus livros de literatura
explorou suas teses filosóficas e os conflitos e situações limites enfrentadas
por cada um de nós.
Texto base.
O existencialismo é um humanismo: trata
da ética existencialista. Busca se defender de ataques
que a corrente vinha sofrendo na França, já que era vista como um modismo.
Criticavam o existencialismo porque ele tornaria a ação humana impossível e
levaria a um conformismo e à solidão.
Existencialismo: existência
precede essência: não há uma natureza humana, ela é construída conforme nossas
ações. Cada um constrói a sua essência por seus atos, o homem se faz. Exemplo do cortador de papel: o cortador de papel é feito a
partir do conceito que está na cabeça do artífice, ele já tem uma utilidade
definida, então sua essência, suas características, sua função, precedem sua
existência, o momento de sua criação. Na modernidade clássica, os filósofos
tinham a concepção de um Deus criador, que possuía o conceito de homem em sua
inteligência, ou seja, a sua essência e o homem realizava esse conceito. Com o
passar do tempo, no século XVIII, foi suprimida essa noção de um Deus criador,
mas manteve-se a fórmula que a essência precede a existência mesmo retirado o
conceito de Deus, ou seja, há uma natureza humana e cada homem é um exemplo
particular de um conceito universal, de uma definição preconcebida – não é o
caso . Então, se a existência precede a essência, o homem não está
definido, ele surge do nada e se faz pela sua subjetividade. O homem se lança para um futuro aberto, ele se projeta.
Valores:
Não há valores a priori pelos quais
devemos nos orientar, valores dados. Partimos de nenhum valor e atribuímos
valor ao que fazemos conforme nossos atos. O valor vale depois da ação, não
antes. E se a gente escolheu determinada coisa é porque
consideramos aquilo bom (na maioria das vezes...).
Liberdade e
responsabilidade: Temos total liberdade na ação, fazemos nossas escolhas
livremente e o que fazemos afeta os outros e por isso temos que ter responsabilidade
pelas atitudes que tomamos. Então criamos uma imagem nossa que é vista pelos
outros na sociedade e os influencia. Por exemplo,
podemos querer participar do grêmio da escola ou preferir uma postura mais
retraída e introvertida. Cada ação nossa molda uma imagem que é vista por todos
e afeta a todos.
Angústia: a angústia provém dessa falta de
valor, de algo para nos agarrar, ficamos angustiados, mas temos que agir de
alguma forma, temos um compromisso com a escolha. “Mas, terei eu o direito de
agir desse jeito?”. Além disso, a partir dessa escolha assumimos um compromisso
com a humanidade inteira. Aqui, rebatendo as críticas,
Sartre coloca que essa angústia não bloqueia a nossa ação, mas ela é condição
da ação, porque garante que há uma escolha livre baseada no valor que
atribuímos naquele momento.
Má-fé: não assumir que temos essa
liberdade é disfarçar a angústia e agir de má-fé, com base em uma determinação
e fatores externos. Abraçando a má-fé e não vivendo de
modo existencialista estamos propagando a mentira - universal.
Desamparo:
não temos justificativa externa para nossas ações, estamos abandonados à nossa
liberdade. Não há moral que indica a fazer uma coisa ou outra. Não há uma tábua de valores predeterminados como: não matar,
não bater na mulher, não mentir. Se não há valores, há somente homens e tudo
estaria permitido. Sartre vai dizer que podemos fazer escolhas com base em
opções particulares ou na coletividade e, se vamos procurar um conselheiro, de
antemão já sabemos qual a tendência do conselho que vamos receber, ou seja,
ainda é nossa responsabilidade. Então o homem está condenado a ser
livre. Para Sartre, um covarde não nasce covarde, mas se faz covarde, ele é culpado
por ser covarde.
Condição universal: se por um lado não há uma natureza
humana, uma essência, para todo homem há um projeto, a todo tempo estamos
tentando manter esse projeto e lutando contra os limites, esse projeto é comum
a todos e condição universal do homem.
Escolha: retomando o ponto que
tudo é permitido, na verdade não há uma escolha gratuita porque cada um faz a
sua moral na ação assumindo um compromisso. As situações variam sempre, mas o
homem tem sempre que escolher e escolhendo age de boa fé.
Julgamento:
Não se pode julgar o outro por princípios ou valores abstratos, mas somente por
agir em liberdade. Dentro de uma situação pode haver duas morais completamente
distintas, o que conta é escolher pela liberdade.
Humanismo: Sartre
conclui dizendo que o existencialismo é humanismo porque é o homem que age
livremente e que ele não está fechado em si porque pertence a esse universo
humano legislador.
Trecho.
“De
fato, não há um único de nossos atos que, criando o homem que queremos ser, não
esteja criando, simultaneamente, uma imagem do homem tal como julgamos que ele
deva ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do
que estamos escolhendo, pois não podemos nunca escolher o mal; o que escolhemos
é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem o ser para todos. Se, por outro
lado, a existência precede a essência, e se nós queremos existir ao mesmo tempo
em que moldamos nossa imagem, essa imagem é válida para todos e para toda a
nossa época. Portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos
supor, pois ela engaja a humanidade inteira. Se eu sou um operário e se escolho
aderir a um sindicato cristão em vez de ser comunista, e se, por essa adesão,
quero significar que a resignação é, no fundo, a solução mais adequada ao
homem, que o reino do homem não é sobre a terra, não estou apenas engajando a
mim mesmo: quero resignar-me por todos e, portanto, a minha decisão engaja toda
a humanidade.”
* SARTRE, J. O existencialismo é um humanismo. Em: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
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