Eu
admito a ontologia da vontade humana. Eu acredito que há uma vontade de onde parte
a ação. Eu posso conceituar uma autonomia, mas sempre conjugada com a
heteronomia. Eu concordo com uma lei moral, que podemos segui-la ou não, que
disso depende certa autonomia que é determinada tanto pela razão como pela
sensibilidade. Essas coisas, eu quase as pego, eu as vejo. Eu vejo vontade, eu
vejo lei, eu pego a causalidade, eu sinto uma causa e toco em um efeito. Eu
recebo uma heteronomia ou uma autonomia, eu sei que recebo ambas ou sou influenciado por elas. Mas eu não
concebo a liberdade, eu não a toco, não a vejo e nem a formulo.
Existiria
liberdade e não-liberdade ou determinação? Não, nem em termos práticos e nem
teóricos. É uma investigação que não dá resultado. Eu poderia pensar uma ideia
de liberdade – eu penso uma ideia liberdade. De onde vem essa ideia? De um algo
chamado liberdade: um nome, um conceito, uma abstração, um algo que acontece? Não,
a liberdade não existe e Kant nunca a supôs ou claramente a estabeleceu**. Para
ele, tudo não passou de dialética (sem solução), para ele tudo não passou de
uma ideia da faculdade da razão. Há uma [suposta] ideia de liberdade [supostamente]
vislumbrada por todos e como propriedade da vontade. Essa propriedade a nós parece invisível, defectível, indefinível, imprópria e descartável. Porque
Kant, o crítico, em atitude transcendental, admitiu uma ideia negativa de
liberdade. E Kant, o prático, idealizou uma liberdade, mas nunca liberdade em
si. Somos livres? Depende, o significado de ser livre é muito amplo, posso
estar livre do sono agora porque escrevo. Posso estar aqui escrevendo sem ninguém
me obrigar a isso ou mesmo me obstruindo. Sou livre às vezes, em parte. Mas a
liberdade é um algo que jamais poderia ser conceituado, porque deixaria de ser.
Tanto quanto a determinação porque ela é tão concreta que não pode ser vislumbrada,
pensada. Pensar a determinação é estar determinado por ela, não pensar é estar
determinado pela sua repulsa.
A
vontade não precisa de uma propriedade chamada liberdade, ou de uma ideia de
liberdade. Um ser estritamente racional poderia possuir a liberdade, mas ele
não saberia. Sendo puro intelecto ele nada saberia por que saberia de tudo. Ele
não conviveria porque estaria encerrado em si, repleto, redondo, completo. E,
ao idealizarmos um ser estritamente racional, nos tornamos estritamente humanos
e estritamente incapazes de lidar com qualquer razão que a nós possa ser tangível.
Eu posso admitir um imperativo categórico, um dever, normas de ação, uma
universalidade e uma objetividade de uma lei moral, eu posso admitir felicidade,
querer, dever. Eu acredito no desinteresse. Mas isso em nada tem a ver com liberdade.
Pode ter algo a ver com Deus e alma, mas liberdade???
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* Puro impulso, algo que não se deve fazer em
filosofia. Depois revisarei, remendarei ou mudarei de opinião.
** é uma hipótese, requer comprovação.
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