quarta-feira, 27 de abril de 2016

Liberdade: um nada ontológico*

Eu admito a ontologia da vontade humana. Eu acredito que há uma vontade de onde parte a ação. Eu posso conceituar uma autonomia, mas sempre conjugada com a heteronomia. Eu concordo com uma lei moral, que podemos segui-la ou não, que disso depende certa autonomia que é determinada tanto pela razão como pela sensibilidade. Essas coisas, eu quase as pego, eu as vejo. Eu vejo vontade, eu vejo lei, eu pego a causalidade, eu sinto uma causa e toco em um efeito. Eu recebo uma heteronomia ou uma autonomia, eu sei que recebo ambas ou sou influenciado por elas. Mas eu não concebo a liberdade, eu não a toco, não a vejo e nem a formulo.
Existiria liberdade e não-liberdade ou determinação? Não, nem em termos práticos e nem teóricos. É uma investigação que não dá resultado. Eu poderia pensar uma ideia de liberdade – eu penso uma ideia liberdade. De onde vem essa ideia? De um algo chamado liberdade: um nome, um conceito, uma abstração, um algo que acontece? Não, a liberdade não existe e Kant nunca a supôs ou claramente a estabeleceu**. Para ele, tudo não passou de dialética (sem solução), para ele tudo não passou de uma ideia da faculdade da razão. Há uma [suposta] ideia de liberdade [supostamente] vislumbrada por todos e como propriedade da vontade. Essa propriedade a nós parece invisível, defectível, indefinível, imprópria e descartável. Porque Kant, o crítico, em atitude transcendental, admitiu uma ideia negativa de liberdade. E Kant, o prático, idealizou uma liberdade, mas nunca liberdade em si. Somos livres? Depende, o significado de ser livre é muito amplo, posso estar livre do sono agora porque escrevo. Posso estar aqui escrevendo sem ninguém me obrigar a isso ou mesmo me obstruindo. Sou livre às vezes, em parte. Mas a liberdade é um algo que jamais poderia ser conceituado, porque deixaria de ser. Tanto quanto a determinação porque ela é tão concreta que não pode ser vislumbrada, pensada. Pensar a determinação é estar determinado por ela, não pensar é estar determinado pela sua repulsa.
A vontade não precisa de uma propriedade chamada liberdade, ou de uma ideia de liberdade. Um ser estritamente racional poderia possuir a liberdade, mas ele não saberia. Sendo puro intelecto ele nada saberia por que saberia de tudo. Ele não conviveria porque estaria encerrado em si, repleto, redondo, completo. E, ao idealizarmos um ser estritamente racional, nos tornamos estritamente humanos e estritamente incapazes de lidar com qualquer razão que a nós possa ser tangível. Eu posso admitir um imperativo categórico, um dever, normas de ação, uma universalidade e uma objetividade de uma lei moral, eu posso admitir felicidade, querer, dever. Eu acredito no desinteresse. Mas isso em nada tem a ver com liberdade. Pode ter algo a ver com Deus e alma, mas liberdade???
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* Puro impulso, algo que não se deve fazer em filosofia. Depois revisarei, remendarei ou mudarei de opinião.
** é uma hipótese, requer comprovação. 

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