segunda-feira, 2 de maio de 2016

O Tratado das Categorias de Aristóteles: alguns aspectos*

O tratado das categorias é a primeira metafísica de Aristóteles [1]. Investiga-se nele as coisas mesmas, sob sua própria perspectiva, já que o ser se dá de muitos modos – sob as formas das categorias. Assim, as categorias são os tipos básicos de ser (de modo realista): substância, qualidade, relação, quantidade, etc., e Aristóteles utiliza o seu esquema de apreensão do mundo de modo a classificar as coisas.
O tratado começa de forma ex-abrupta, definindo as coisas como termos homônimos, sinônimos e parônimos. Coisas homônimas têm mesmo nome e definição distinta: por exemplo, banco como instituição financeira ou o banco da praça [2]. Coisas sinônimas têm mesmo nome e mesma definição (natureza, essência...): desse modo um ser humano e um boi são chamados de animais [3]. Já as coisas parônimas não são termos e não passam de uma derivação linguística que não terá destaque na obra do Filósofo (ex. coragem: corajoso).
Segue-se o segundo capítulo tratando das coisas que são ser (το ον):
1.    São predicados de um substrato, mas não estão em um substrato.
Ex. Sócrates é homem. Predicamos homem de Sócrates, mas não há uma humanidade em um sujeito.
2.    Estão em um substrato, mas não são predicados de um substrato.
Ex. uma alvura particular está em um sujeito, mas não pode ser afirmada de qualquer sujeito conhecido [4]. No caso, é um branco específico que está um sujeito, como um atributo particular. Na página 31, diz Aristóteles: “Tomemos o branco como exemplo. Ora, o branco está, sem dúvida, num corpo e assim é predicado de um corpo, uma vez que um corpo, está claro, é que é chamado de branco. A definição, contudo, de branco nunca pode ser predicada de qualquer corpo.”
3.    São ditas de um substrato e estão nele.
Ex. Tipos de atributos ou classe de atributos. O conhecimento está presente na alma como um sujeito, e também é afirmado da gramática [5].
4.   Não são ditas e nem estão em um substrato.
Ex. indivíduos particulares. Este homem, um cavalo.

Conforme Zingano, de (d) é dito três vezes nas Categorias: tudo mais ou bem está nele ou é dito dele, do que procede a tese da dependência ontológica: “E, supondo que não houvessem substâncias primárias, seria impossível que existissem quaisquer das outras coisas” [6]. Mas, aqui, Aristóteles já passou pelas categorias e está no capítulo 5 do tratado (da substância) e, portanto, abreviaremos essa reflexão para ressaltar alguns aspectos:
1. Que há uma substância primeira e que seu traço próprio é a possibilidade de receber contrários e permanecer o mesmo.
2. Que, conforme Zingano, nas Categorias Aristóteles faz uma ontologia regional, porque é uma ontologia da substância sensível.
3. Nas Categorias, a substância (ουσια) é uma das categorias – os indivíduos, enquanto substância primeira. Nas Categorias, os indivíduos são “um isto” (τοδε τι).
4.  Há uma substância segunda, a espécie, o gênero. Só elas são substâncias, exceto pelas primeiras, porque a definem, ao passo que, “ele corre” ou “é branco”, nada definiria da substância primária [7].
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* Conforme notas de aula de Zingano, História da Filosofia Antiga III, 2016.
[1] Embora haja certa controvérsia sobre sua autoria. Zingano, argumentando a favor da autoria aristotélica, articula a questão que seria proposta por Aristóteles, qual seja: do que seria constituído o mundo, qual a sua mobília? No Tratado das Categorias, a mobília do mundo seria o indivíduo, a partir de uma metafísica do concreto. Na Metafísica, a mobília do mundo seriam as formas, pois elas teriam uma estabilidade mais forte, estariam nos indivíduos, mas não seriam particulares, embora fossem peças não tão materiais...
[2] Cf. o Google.
[3] Aristóteles, Categorias, tradução Edson Bini. São Paulo: EDIPRO, 2011. Pg. 25.
[4] ibidem, pg. 27.
[5] ibidem, pg 27.
[6] ibidem, pg. 32.
[7] ibidem, pg. 34.

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