O
tratado das categorias é a primeira metafísica de Aristóteles [1]. Investiga-se
nele as coisas mesmas, sob sua própria perspectiva, já que o ser se dá
de muitos modos – sob as formas das categorias. Assim, as categorias são os
tipos básicos de ser (de modo realista): substância, qualidade, relação,
quantidade, etc., e Aristóteles utiliza o seu esquema de apreensão do mundo de
modo a classificar as coisas.
O
tratado começa de forma ex-abrupta, definindo as coisas como termos homônimos, sinônimos e parônimos. Coisas homônimas têm
mesmo nome e definição distinta: por exemplo, banco como instituição financeira
ou o banco da praça [2]. Coisas sinônimas têm mesmo nome e mesma definição (natureza,
essência...): desse modo um ser humano e um boi são chamados de animais [3]. Já
as coisas parônimas não são termos e não passam de uma derivação linguística que
não terá destaque na obra do Filósofo (ex. coragem: corajoso).
Segue-se
o segundo capítulo tratando das coisas que são ser (το ον):
1. São
predicados de um substrato, mas não estão em um substrato.
Ex. Sócrates é homem.
Predicamos homem de Sócrates, mas não há uma humanidade em um sujeito.
2. Estão
em um substrato, mas não são predicados de um substrato.
Ex. uma alvura
particular está em um sujeito, mas não pode ser afirmada de qualquer sujeito
conhecido [4]. No caso, é um branco específico que está um sujeito, como um
atributo particular. Na página 31, diz Aristóteles: “Tomemos o branco como exemplo. Ora, o branco está,
sem dúvida, num corpo e assim é predicado de um corpo, uma vez que um corpo,
está claro, é que é chamado de branco.
A definição, contudo, de branco nunca pode ser predicada de qualquer corpo.”
3. São
ditas de um substrato e estão nele.
Ex. Tipos de atributos
ou classe de atributos. O conhecimento está presente na alma como um sujeito, e
também é afirmado da gramática [5].
4. Não são ditas e nem estão em um substrato.
Ex. indivíduos
particulares. Este homem, um cavalo.
Conforme
Zingano, de (d) é dito três vezes nas Categorias:
tudo mais ou bem está nele ou é dito dele, do que procede a tese da dependência
ontológica: “E, supondo que não houvessem substâncias primárias, seria
impossível que existissem quaisquer das outras coisas” [6]. Mas, aqui,
Aristóteles já passou pelas categorias e está no capítulo 5 do tratado (da substância) e, portanto, abreviaremos essa reflexão para ressaltar alguns aspectos:
1. Que
há uma substância primeira e que seu traço próprio é a possibilidade de receber
contrários e permanecer o mesmo.
2. Que,
conforme Zingano, nas Categorias Aristóteles
faz uma ontologia regional, porque é uma ontologia da substância sensível.
3. Nas
Categorias, a substância (ουσια) é
uma das categorias – os indivíduos, enquanto substância primeira. Nas Categorias, os indivíduos são “um isto” (τοδε
τι).
4. Há
uma substância segunda, a espécie, o gênero. Só elas são substâncias, exceto
pelas primeiras, porque a definem, ao passo que, “ele corre” ou “é branco”,
nada definiria da substância primária [7].
_____
*
Conforme notas de aula de Zingano, História da Filosofia Antiga III, 2016.
[1]
Embora haja certa controvérsia sobre sua autoria. Zingano, argumentando a favor
da autoria aristotélica, articula a questão que seria proposta por Aristóteles,
qual seja: do que seria constituído o mundo, qual a sua mobília? No Tratado das Categorias, a mobília do
mundo seria o indivíduo, a partir de uma metafísica do concreto. Na Metafísica,
a mobília do mundo seriam as formas, pois elas teriam uma estabilidade mais forte,
estariam nos indivíduos, mas não seriam particulares, embora fossem peças não tão
materiais...
[2]
Cf. o Google.
[3]
Aristóteles, Categorias, tradução
Edson Bini. São Paulo: EDIPRO, 2011. Pg. 25.
[4] ibidem, pg. 27.
[5] ibidem, pg 27.
[6] ibidem, pg. 32.
[7] ibidem, pg. 34.
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