Fechner
O paralelismo psicofísico não
privilegia nenhum dos lados, nem o materialismo e nem o idealismo, pois trata a
relação empírica entre ambos como uma relação funcional. Trata-se de duas
atividades: de uma perspectiva interna a mente coincide consigo mesma; de uma
perspectiva externa a mente é a base material [1]. Assim, não se observa mente
e corpo simultaneamente, não se pode estar fora e dentro.
Corpo e mente são paralelos. Se
para Leibniz havia dois relógios [sincronizados], aqui se simplifica para um,
dispensando o interacionismo entre eles [ou o ocasionalismo ou a harmonia preestabelecida]
(não importa, é funcional) [2].
As ciências naturais baseiam-se na
perspectiva externa e as humanidades na interna; a filosofia natural vê a
unidade, o duplo de corpo e mente, a partir de relação empírica, não
metafísica.
Heidelberger
O paralelismo psicofísico é, por
alguns, confundido com a doutrina cartesiana das duas substâncias que interagem,
mas na realidade é o oposto porque ele nega a divisão do mundo. Trata-se de um
dualismo de aspectos.
Em sua forma primária, o
paralelismo psicofísico é um postulado empírico: para cada evento mental há um
evento físico que lhe corresponde, regularmente, de acordo com uma lei. Ou
seja, eles são funcionalmente dependentes e há, aí, um método de investigação. A
dependência funcional entre eles nada diz a respeito da relação causal ou interativa entre corpo e mente, o método é neutro a qualquer
consideração metafísica. Livrando-se de tais explicações descreve-se claramente
a dependência entre os fenômenos, aproximando-se de uma superveniência [3].
Há uma segunda forma de paralelismo
psicofísico que se vale de uma teoria metafísica para explicar a correlação,
tratando o ser humano como uma entidade única com dois aspectos diferentes:
mental e físico. Chamada de visão de identidade ou doutrina das duas
perspectivas versa que: da perspectiva da própria identidade suas propriedades
são consideradas sob um aspecto mental; de uma perspectiva externa a entidade é
considerada um algo físico. Há esse viés metafísico que é acausal, não
interacionista e que se vale de uma perspectiva em que algo é dado. Fechner
considera metafísico qualquer adendo ao postulado empírico porque nenhuma
experiência pode prová-los.
Seja o postulado empírico ou a teoria
da identidade, esses vieses do paralelismo psicofísico abrem um bom caminho ao
materialismo independente de uma doutrina metafísica universal. Também garantem
a área de atuação da psicologia no mental desvinculada do físico e uma
autonomia da filosofia além da neutralidade científica.
Podemos perceber a influência de
Fechner em Mach que abraçou o postulado empírico livre de adendos, se apoiando
em dependências funcionais neutras entre os fenômenos e sem nenhuma relação
causal ou explicação, visão cética e antimetafísica, que legou o empirismo
lógico.
A força da teoria da identidade vem
da dificuldade de reconhecer o pensante independente do material; de uma
aparentemente causalidade entre cada domínio separadamente, o físico e o
mental; da conservação de energia física (sem um processo mental aí consumindo);
de sua simplicidade e frugalidade.
E a sua terceira forma, uma tese
cosmológica que, por analogia, expandiria a presença de processos psíquicos
para além do humano, aproximando-se de um pan-psiquismo. Forma esta que levou
ao rechaço até mesmo da segunda forma de Fechner, que deveria estar mais
associada a um paralelismo psicofisiológico (livre do místico).
______
* Tirado dos trechos
selecionados de Fechner e Heidelberger pelo prof.
Osvaldo Pessoa Jr., para a disciplina de Filosofia das Ciências Neurais. In: http://www.fflch.usp.br/df/opessoa/Fechner-Paralelismo-1.pdf.
[1] Em 07/04, segundo Pessoa: interno é mente e externo é cérebro.
[2] Em 07/04, segundo Pessoa:
interacionismo é o de Descartes: há relação de causa entre corpo e mente;
harmonia preestabelecida é de Leibniz: Deus criou o melhor dos mundos possíveis
com as séries sincronizadas e correndo em paralelo; ocasionalismo de Malebranche:
Deus tá sempre ajustando os ponteiros para que o mental esteja de acordo com o
material. E Espinosa: há só uma substância com dois aspectos. E Huygens: um
relógio transfere impulso ao outro e vice-versa e eles se sincronizam – é físico.
[3] Em 07/04, segundo meu entendimento da aula: superveniência como uma sobreposição do
material no mental.
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